Não era namoro. Não era caso. Era fome. Um tipo de conexão que dispensava rótulos e exigia presença. E aquele final de semana seria só delas.
Depois do treino de sábado cedo — corrida leve e muitos sorrisos trocados ao longo da ciclovia —, elas subiram na SUV rumo ao interior, para um hotel fazenda reservado com antecedência. Chalé isolado, hidro dupla, piscina aquecida privativa, lareira e... privacidade absoluta.
Paula dirigia. Andreia, de óculos escuros, perna cruzada e vestido leve, deixava uma das mãos descansar no meio da coxa da ruiva.
— Tem certeza que essa estrada é asfaltada até o final? — perguntou Andreia, com a voz rouca e um sorriso nos lábios.
— Não. Mas tenho certeza de outra coisa...
— O quê?
Paula apertou levemente a mão da loira sobre sua coxa, deslizando os dedos com intenção.
— Que você vai precisar de gelo pra andar segunda-feira.
Andreia soltou uma risada curta e safada. A resposta veio num sussurro quente:
— E você vai precisar de fôlego. Porque esse fim de semana... é meu.
O chalé era um convite ao pecado: madeira nobre, lençóis de algodão egípcio, lareira acesa, aroma de lavanda e hortelã no ar. A varanda de frente para o mato. Dentro, silêncio. Exceto pelo som dos biquínis sendo arrancados à beira da piscina.
A água estava quente. Os corpos, mais ainda.
Andreia entrou primeiro, com um maiô cavado preto que moldava cada curva. Paula veio atrás, de calcinha e top esportivo, o cabelo ruivo preso em coque improvisado.
— Vem aqui — ordenou Andreia, sentada na beirada, as pernas abertas.
Paula obedeceu. Nadou até ela. Subiu devagar por entre suas coxas, as mãos firmes nas laterais da banheira. A boca encontrou a pele da loira. Beijos lentos na parte interna das coxas. Mordidas leves. Língua firme.
Andreia puxou o cabelo da ruiva para trás.
— Você sabe o que tá fazendo, hein?
— Tô só começando — murmurou Paula, antes de mergulhar entre suas pernas.
Andreia gemeu alto. O eco se perdeu no mato. Paula lambia com vontade, firmeza e carinho. Alternava movimentos circulares com estocadas rápidas com a língua. Andreia se contorcia, agarrada à borda da piscina, até que explodiu com um grito contido, os olhos virados, o corpo inteiro tremendo.
— Agora sai dessa água. E deita. — ordenou, ainda ofegante.
Paula saiu, nua, se deitando sobre as almofadas da varanda. Andreia veio por cima, montou no quadril da ruiva e começou a rebolar devagar, esfregando as duas intimidades molhadas, gemendo junto. O som das peles se tocando era uma melodia suja e linda.
Fizeram amor ali. Depois na cama. Depois na frente da lareira. Cada canto do chalé tinha um pedaço delas.
Na madrugada, sob os lençóis de linho, Andreia olhava o teto em silêncio. Paula acariciava sua barriga com carinho.
— O que te fez mudar? — perguntou a ruiva, a voz baixa, suave.
Andreia suspirou.
— A dor. Eu achava que era amada. Aí peguei ele com a minha sócia. Minha melhor amiga. Na nossa cama. E o pior? Eu nem chorei. Eu só percebi que eu era invisível fazia tempo. Era só corpo. Nunca alma. Nunca mulher de verdade.
— E agora?
— Agora eu sou inteira. Com você.
Paula se inclinou e beijou seus lábios com ternura.
— Eu te vejo. Toda.
O domingo amanheceu com um véu de névoa invadindo a mata.
Paula acordou primeiro. Estava nua, enrolada num lençol. Foi até a varanda. O frio da manhã arrepiou sua pele. Mas seu corpo ainda queimava dos toques da noite anterior.
Andreia apareceu pouco depois, só com uma camisa social branca — longa, aberta até o umbigo. Os cabelos loiros desalinhados. Os olhos verdes com aquele brilho de predadora saciada, mas faminta.
— Tá frio aqui fora — disse ela, colando-se às costas da ruiva.
— Então me aquece — sussurrou Paula, empinando o quadril levemente contra ela.
Andreia a virou de frente, desamarrou o lençol com um só gesto. Beijou o pescoço, desceu pela barriga, se ajoelhou ali mesmo, no chão de madeira da varanda, com o frio cortando o ar.
A língua de Andreia encontrou o calor de Paula com a precisão de quem já conhecia cada gemido, cada arrepio. Paula segurou na grade da varanda, cabeça jogada para trás, corpo entregue.
— Isso… sim… assim… — sussurrava entre gemidos trêmulos.
O orgasmo veio intenso, pulsante. Paula quase caiu. Andreia a segurou, se levantou e a beijou com gosto de prazer recém-colhido.
— A gente devia correr em lugares diferentes todo final de semana — disse a loira, rindo baixinho.
Paula mordeu seu lábio inferior e respondeu:
— E gozar em todos eles.
Naquele chalé perdido no interior, elas descobriram que corpo é geografia. Mas desejo… desejo é mapa. E elas se conheciam de cor.