Andreia saiu logo atrás, envolta num sobretudo preto que escondia um vestido justo, feito sob medida para fazer virar pescoços e acelerar corações. Os saltos ecoaram no mármore da recepção com um tipo de confiança que só duas mulheres em estado de paixão plena poderiam carregar.
No elevador, não disseram nada. Apenas se olharam. Uma tensão flutuava entre elas. O silêncio era cúmplice, como um preâmbulo do que viria no quarto.
No momento em que a porta da suíte se abriu, Paula entrou primeiro, tirando os óculos e os sapatos de maneira quase cerimonial. Olhou a decoração clássica, os lustres de cristal, a cama king com lençóis brancos, a banheira junto à varanda. Paris brilhava do lado de fora. Mas havia um universo muito mais urgente ali dentro.
— Paris está linda... — disse Paula, virando-se de frente para Andreia, a voz carregada de segundas intenções. — ...mas você ainda é a melhor vista.
Andreia largou a mala, fechou a porta atrás de si e caminhou lentamente até ela.
— Você está flertando comigo como se a gente não tivesse transado em absolutamente todas as superfícies da nossa casa na última semana.
— Porque agora é diferente — respondeu Paula, encurtando a distância entre elas. — Agora estamos em outro território... onde ninguém nos conhece... onde posso te despir em frente à janela e fazer você gozar olhando a Torre Eiffel.
O beijo foi o primeiro de Paris. E veio com fome.
Andreia segurou o rosto de Paula com as duas mãos, como se precisasse daquele toque para manter-se em pé. A camisa branca foi aberta botão por botão, entre beijos úmidos no pescoço. A respiração de Paula acelerava no ouvido de Andreia, que sussurrava entre dentes:
— Você vai me fazer implorar, não vai?
— Não... você vai implorar porque quer, não porque eu exijo. E isso é muito mais excitante.
O sobretudo de Andreia caiu no tapete. Por baixo, nada além do vestido de alças finíssimas e uma lingerie preta de renda que já parecia ter horas contadas.
Paula a empurrou com gentileza contra a cama, subiu por cima, deslizando os dedos pela lateral de suas coxas, enquanto murmurava em francês com sotaque deliberadamente errado:
— Je vais te dévorer... très lentement.
Andreia riu, os olhos brilhando.
— A sua pronúncia é horrível.
— Mas minha língua... é fluente.
Ela provou isso nos minutos seguintes, entre gemidos abafados no travesseiro e mãos que exploravam com precisão e reverência. Paula a despiu como quem rasga um embrulho precioso. E cada beijo tinha endereço: o colo, os seios firmes, o abdômen que tremia com a antecipação. A lingerie foi puxada com os dentes. E o resto... foi música.
Horas depois, a tarde se tornava dourada na sacada, enquanto elas tomavam vinho envoltas apenas em um lençol.
— Isso aqui parece uma lua de mel — disse Andreia, encostando a taça nos lábios.
— E quem disse que não é?
— Estamos casadas agora?
— Estamos fodidamente entregues. O resto é papel.
Elas brindaram. Mas o toque das taças não foi o que mais soou ali. Foi a promessa silenciosa de continuar se escolhendo, todos os dias — inclusive naquele, em Paris.
Quando o sol caiu sobre os telhados parisienses, elas estavam debaixo d’água, na banheira cheia de espuma, com os corpos colados e os olhos fixos um no outro. Paula desenhava linhas invisíveis nos ombros molhados de Andreia. Andreia a beijava como se cada centímetro de sua boca dissesse “fica”.
— Sabe o que eu quero agora? — perguntou Paula, entre suspiros.
— Diga.
— Você, ajoelhada, entre minhas pernas... com Paris inteira do outro lado da vidraça.
Andreia sorriu, mordeu o lábio inferior e sussurrou:
— Eu vim pra me ajoelhar todos os dias... diante do que a gente construiu.
A noite ainda estava só começando.
E Paris nunca mais dormiu igual.