Com o tempo, entenderam que aquilo que tinham construído era mais do que amizade. Era amor, prazer e um desejo que nasceu devagar, sem alarde, como uma flor crescendo entre as rachaduras do concreto.
Numa tarde de primavera, sentadas no mesmo banco onde tudo havia começado, Clara olhou para Helena e disse:
— Eu não quero mais fugir disso. A vida é curta demais pra ignorar o que a gente sente.
Helena sorriu, os olhos marejados.
— Então vamos viver. Sem rótulos, sem medo. Só nós duas… e o que vier depois.
E ali, no meio da praça, elas se beijaram de novo — sem culpa, sem segredos, apenas amor.
O apartamento de Clara estava silencioso naquela noite. A luz amarelada dos abajures desenhava sombras suaves nas paredes. A chuva fina contra a janela dava um ritmo calmo, quase hipnótico. Helena estava sentada no sofá, com os pés descalços encolhidos sob si, observando Clara caminhar até ela com duas taças de vinho.
— Estamos realmente fazendo isso? — Helena perguntou, a voz baixa, quase sussurrada.
Clara sentou-se ao lado dela, mais próxima do que o habitual. Tocou-lhe a mão com firmeza e carinho.
— Não tem mais volta, Helena. Eu não quero voltar.
As taças ficaram esquecidas na mesa. Um silêncio cheio de significado tomou conta do espaço entre elas, até que seus rostos se encontraram — primeiro num olhar, depois em um beijo que começou suave, hesitante. Mas foi crescendo. As mãos se buscaram como se soubessem o caminho de cor. Helena passou os dedos pelo pescoço de Clara, sentindo os pequenos arrepios sob sua pele. Clara, por sua vez, segurou o rosto de Helena com as duas mãos, guiando-a devagar, como se cada movimento fosse uma dança aprendida ali, na hora.
— Me diz se eu posso — Helena murmurou, os lábios ainda tocando os de Clara.
— Você pode tudo — ela respondeu, com um sorriso ofegante.
As roupas foram saindo aos poucos, não com pressa, mas com uma reverência silenciosa ao momento que ambas sabiam ser um marco. Quando Clara deitou Helena na cama, o quarto escurecido pela penumbra parecia outro mundo. As mãos exploravam, descobriam, aprendiam os contornos uma da outra. Cada toque era novo. Cada suspiro, uma confissão.
Não foi apenas desejo — foi reconhecimento. Um corpo acolhendo o outro, como se dissessem: “Agora sim, estou em casa.”
A luz da manhã entrava tímida pelas frestas da persiana. Clara acordou primeiro, deitada de lado, observando Helena dormir com uma expressão tranquila, quase infantil. O lençol caía suavemente por sobre suas costas nuas.
Por um instante, Clara sentiu um medo antigo: o de que aquilo tivesse sido apenas um momento. Mas então Helena abriu os olhos devagar, encontrou os dela e sorriu.
— Bom dia, amor.
E Clara soube. Não era só desejo. Era o começo de uma nova história.
delicia demais ... só faltou as fotos