Naquela casa, o tempo deixou de existir.
No primeiro dia, ao chegarem, Clara tirou os sapatos na entrada e olhou de volta com um sorriso leve.
— Aqui, você pode parar de ser “professora”, se quiser. Pode ser só... você.
Helena não respondeu. Apenas se mudou e o beijou, um beijo firme, cheio de antecipação. Foi ali mesmo, contra a parede da sala, que começamos. As roupas caíram aos poucos, entre risos e gemidos abafados. Helena deixou Clara guiá-la, com os olhos fechados e os lábios entreabertos, como quem permite ser escrita pelo toque do outro.
Naquela noite, fizeram amor por horas. Primeiro no sofá, depois no chão, até finalmente encontrarem a cama. Clara traçou o corpo de Helena com os dedos como se memorizasse um mapa secreto. Beijava a curva dos seios, o espaço entre as costelas, a pele da barriga, com uma lentidão provocante. Quando chegou entre suas pernas, Helena já tremia, arqueando o corpo em silêncio, pedindo mais sem palavras. Clara atendeu com a língua, os dedos e a respiração quente, até o desabar.
Mais tarde, trocaram de lugar. Helena tomou o controle, explorando o corpo do jovem com a sabedoria de quem não tinha pressa. Suas mãos deslizaram pelas coxas de Clara, abrindo-a com ternura e firmeza. Quando a penetrou com os dedos, lenta e profunda, Clara gemeu alto, agarrando-se aos lençóis, o corpo em espasmos. Helena a observava, encantada com o poder de provocar prazer — e com a privilégio de ser quem Clara desejava.
Dormiram abraçadas, nuas, os corpos colados, as pernas entrelaçadas. A manhã começou seguinte com carícias sob o lençol, sorrisos preguiçosos, e mais uma entrega silenciosa, com o sol invadindo o quarto.
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De volta à cidade, a despedida foi desencadeada. Clara vai aceitar o mestrado em Londres. Antes de partir, deixou um envelope sob a porta da antiga sala de aula.
"Te esperei quando era tua aluna. Agora te espero como mulher. Londres também tem livros. E uma cama grande."
Helena sentiu o coração acelerar. Leu uma carta três vezes. E então, decidi.
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Chegou a Londres em uma tarde fria. Clara a esperava na porta do pequeno flat com um gorro vermelho e os olhos iluminados. Assim que se viram, não disseram nada — se abraçaram como quem recupera a respiração após anos submersos.
Naquela noite, o quarto novo foi cenário de um reencontro urgente. Se despiram devagar, como se precisassem confirmar que era real. Beijaram-se deitados no carpete, no sofá, e enfim, na cama grande que Clara prometeu. Entre risos, palavras sussurradas e orgasmos partilhados, fizeram amor como quem sela uma história: com intensidade, com cuidado, com pertencimento.
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Meses depois, Helena publicou seu primeiro romance, inspirado nas cartas, nas noites e nas coragens que viveram. Chamou-se “Entre Livros e Silêncios”.
Era mais que uma história. Era um recomeço.
E Clara, ao lado dela, continua lendo cada página — com a boca, os olhos e o coração.