Mas a realidade, quando veio, foi como um vento gelado pela fresta da porta.
Laura voltou para sua casa elegante, seus compromissos, seus encontros sociais onde precisava parecer impecável. Ana retornou à rotina do salão, à clientela constante, aos dias puxados que terminavam com os pés doendo. Mas nenhuma das duas conseguiu se afastar da outra. Pelo contrário. O desejo, agora alimentado por lembranças e promessas, só crescia.
Na primeira semana, encontraram-se três vezes — uma tarde em um motel discreto; um jantar em que Laura não conseguiu esperar a sobremesa para despir Ana no banco traseiro do carro; e uma noite no próprio salão, após o expediente, em que fizeram amor sobre a maca de manicure coberta por toalhas dobradas.
Mas algo mudou.
Não era só o sexo. Era o olhar de Laura quando Ana se distraía, era o ciúme súbito que apertava o peito ao vê-la rir com outra cliente. Era a saudade que incomodava como fome. E Ana sentia igual.
Na terceira sexta-feira, Laura apareceu no salão já tarde, usando uma camisa branca larga e um batom escuro. Ana trancou a porta e, sem uma palavra, a puxou pelos cabelos para um beijo urgente, como se o tempo as tivesse torturado até aquele instante.
A camisa foi aberta com pressa, os botões se soltando sob os dedos impacientes de Ana. Os seios de Laura se ofereceram livres, e ela foi empurrada para a parede da saleta de descanso, onde já haviam se provado semanas atrás. Só que agora havia mais entrega. Mais amor. Mais posse.
Ana ajoelhou-se ali mesmo e fez amor com a boca, com a língua, com os gemidos baixos que murmurava entre as pernas de Laura. A outra tremia, as mãos apertando os ombros da amante, as palavras desconexas saindo entre os dentes.
— Ana... você me tem. De corpo e alma.
Ana se levantou, os olhos brilhando de suor e emoção.
— Então me deixa morar no teu mundo.
Naquela noite, Laura não voltou para casa. Dormiram no pequeno sofá do salão, abraçadas, nuas, sob uma manta improvisada. A partir dali, os encontros deixaram de ser escondidos. Laura passou a buscá-la no fim do dia, jantavam juntas, e os toques já não eram só urgência — eram ternura, promessa, intimidade.
Fizeram amor inúmeras vezes: na cozinha de Laura, sobre a pia; no chuveiro quente, com os corpos escorregadios e ofegantes; em uma viagem improvisada para o litoral, onde Ana a penetrou com os dedos sob o céu estrelado, sentadas na areia, ouvindo o mar. Cada vez era única. E cada vez deixava uma marca.
Mas o verdadeiro clímax não foi um orgasmo.
Foi a tarde em que, depois de mais uma explosão de prazer entre lençóis bagunçados, Laura segurou o rosto de Ana e, com a voz baixa e úmida, disse:
— Eu te amo.
Ana sorriu, emocionada. E respondeu sem hesitar:
— Eu já sou tua.
A paixão que começara num salão com cheiro de esmalte e mãos hábeis se transformou em algo muito maior. Mais profundo. Mais quente do que qualquer lareira de fim de semana.
E ali, entre gemidos, confissões e toques que sabiam de cor, Laura e Ana deixaram de ser duas.
E passaram a ser inteiras.
Juntas.