Na clínica, os encontros voltaram a ser mais contidos — aos olhos dos outros. Marta era paciente, Helena, médica. Mas havia olhares. Toques disfarçados. Pequenas provocações. E um desejo acumulando-se dia após dia como um vinho decantando: mais forte, mais denso, mais inevitável.
Na quinta-feira seguinte, Marta recebeu uma mensagem curta:
“Hoje. Minha casa. Sem limites.”
Chegou ao entardecer, usando um vestido justo, sem sutiã, os cabelos soltos. Helena abriu a porta já com um copo de vinho na mão, vestindo apenas uma camisa social branca, comprida, e uma calcinha preta. O olhar dela estava faminto.
— Tranque a porta — disse. — E se despe devagar. Aqui dentro, você é só minha.
Marta obedeceu sem dizer uma palavra. Tirou o vestido como quem solta um fardo. Estava nua por baixo. O corpo dourado e firme, os seios firmes, as pernas torneadas. Helena observava cada movimento com os olhos apertados, como se decorasse cada curva.
— Deite no chão, de costas. Quero ver você inteira.
No tapete da sala, Marta se deitou como uma oferenda. Helena se ajoelhou ao lado, com um pequeno frasco de óleo nas mãos.
— Quero te marcar com a língua. Fazer do teu corpo minha casa.
E começou. Derramou óleo morno entre os seios, deixando escorrer até o ventre, entre as pernas. A boca acompanhou o rastro. Lambeu cada gota, beijou cada milímetro. Suas mãos deslizavam pelo corpo de Marta com precisão, como se lesse em braile os traumas, as memórias, e os transformasse em gemidos.
— Hoje você vai gritar por mim, vai pedir mais. E vai entender o que é pertencer.
Marta gemeu, arqueando o quadril. Helena a penetrou devagar com os dedos, depois mais fundo, mais rápido. A boca sugava o clitóris com ritmo constante. Quando sentiu que o orgasmo se aproximava, parou. Olhou-a nos olhos.
— Agora você vai gozar amarrada.
Pegou uma faixa de cetim e amarrou os pulsos de Marta acima da cabeça, depois a vendeu. A mulher madura respirava fundo, sentia-se mais viva do que nunca. Vulnerável e no controle ao mesmo tempo.
Helena a montou com um harness, um cinto com dildo macio. Penetrou-a devagar, depois com firmeza. Os gemidos tomaram conta do ambiente. Cada estocada era marcada por uma palavra:
— Você.
Estocada.
— É.
Estocada.
— Minha.
Marta gozou forte, em espasmos, os quadris se contraindo, o corpo inteiro arqueado. E ainda assim, implorou por mais. E Helena deu.
Trocaram de posição. Marta ajoelhou-se e Helena a pegou por trás, o acessório ainda encaixado. Penetrou devagar enquanto a mão acariciava o clitóris da mulher mais velha, que gemia como quem renascia.
Aquela noite não foi apenas sexo.
Foi um ritual. Um pacto silencioso. Um grito de liberdade.
Dias depois, Helena apareceu na casa de Marta com uma caixa nas mãos. Dentro, uma chave.
— Se você quiser, pode usar isso quando quiser. Não precisa mais pedir. Nem avisar. Só venha. Entre. E me tenha.
Marta não respondeu de imediato. Apenas puxou Helena para perto, beijou sua boca com lentidão e sussurrou:
— Eu vim pra ficar.
E pela primeira vez, elas transaram sem pressa, sem tensão. Com sorrisos entre os beijos. Com carinho entre os gemidos. Era desejo, sim. Mas agora misturado com algo mais perigoso. E mais bonito.
Amor.