A casa era ampla, silenciosa, fria. Tudo estava no lugar, menos ela. Aos 48 anos, Marta já tinha vivido de tudo: maternidade, carreira, corpo esculpido à força da disciplina… e um casamento com um homem que há muito deixara de tocá-la com desejo.
Naquela tarde de terça, ela encontrou no bolso da calça dele uma nota fiscal de um jantar para dois — em um restaurante caro. Não era aniversário de ninguém. Não era com ela.
Ela não gritou. Não chorou. Apenas se olhou no espelho do closet e pensou:
— Chega.
Dois dias depois, o marido chegou em casa e encontrou as malas dele prontas. O apartamento, que antes era dele também, agora era só dela. Marta contratou a melhor advogada da cidade e não poupou nada. Levou imóveis, investimentos, obras de arte… e a certeza de que nunca mais viveria pela metade.
O que veio depois foi um renascimento. Intensificou os treinos. Redefiniu os contornos do próprio corpo. E resolveu fazer um pacote completo de estética: limpeza, laser, radiofrequência íntima — queria sentir-se inteira. Queria voltar a sentir.
E foi assim que ela marcou a consulta na clínica de estética. Onde conheceu Helena.
Helena — A Médica Que Aprendeu a Dizer Não
A residência em dermatologia foi intensa. Dias virando noites, plantões, suor. E durante esse período, ela esteve com Ana — uma namorada linda, doce, mas insegura. O relacionamento era silencioso, cheio de “não-ditos”. Helena não podia dizer que amava outras mulheres. Ana não conseguia entender o mundo que a médica queria construir.
Na noite da sua colação de grau, Ana simplesmente não apareceu.
No dia seguinte, mandou uma mensagem:
“Você é brilhante. Mas o seu mundo não tem espaço pra mim. Boa sorte.”
Helena não respondeu. Apenas apagou o número. Fechou o laptop. E chorou sozinha no chuveiro por longos 20 minutos.
Depois disso, mergulhou no trabalho. Começou a atender numa clínica particular, focando em rejuvenescimento feminino. Tinha paixão por cuidar da pele das mulheres maduras. As marcas do tempo, as histórias contadas por rugas e cicatrizes, os sorrisos que ainda escondiam desejo — tudo isso a fascinava.
E foi numa quarta-feira, às 16h, que Marta entrou em sua sala.
O Primeiro Encontro — O Corpo Chamando a Alma
Marta entrou com passos firmes, a silhueta vestida com elegância e força. Um vestido de linho branco, salto nude, cabelos dourados, óculos escuros. Tinha o ar de quem sabe o que quer… mas o olhar de quem está pronta para se surpreender.
Helena ergueu os olhos do tablet e sentiu uma fisgada. Não foi só tesão. Foi reconhecimento.
— Marta? Pode entrar, por favor. — Sua voz saiu quase rouca.
Marta sorriu, tirou os óculos e respondeu:
— Você é jovem… esperava uma dermatologista com mais rugas. Mas gostei da surpresa.
Helena corou. E naquele instante, Marta soube.
A consulta durou mais de uma hora. Falaram sobre tratamentos íntimos, autocuidado, autoestima — mas o que realmente se tratava ali era o desejo contido, o magnetismo crescente entre duas mulheres que sabiam o que tinham perdido… e estavam prestes a descobrir o que podiam encontrar uma na outra.
Na despedida, as mãos se tocaram por mais tempo do que o necessário.
— Espero te ver de novo, Marta.
— Vai me ver, doutora. De muito perto.
A Semente
Duas mulheres feridas. Duas histórias que terminaram em dor. Mas quando se tocaram pela primeira vez — nem que fosse só com os olhos — entenderam que às vezes é preciso perder tudo… para se permitir ser tudo.
Elas não se completaram.
Se incendiaram.
E nos destroços do que foram, construíram algo novo:
Prazer. Verdade. Amor.
Assumir-se é se Possuir"
O relacionamento começou em silêncio. Olhares demorados. Toques leves durante os procedimentos. Convites "profissionais" para café. Marta voltava à clínica mais vezes do que o necessário — não pelos tratamentos, mas por Helena. A médica, por sua vez, demorava um pouco mais que o normal para fechar a porta, como se esperasse algo acontecer entre um sorriso e uma despedida.
E aconteceu.
Numa noite de sexta, Marta saiu da sala após um peeling íntimo. Sentia-se renovada, quente, elétrica. Parou no corredor, virou-se de repente e entrou de volta no consultório.
Helena estava guardando os instrumentos. Nem teve tempo de reagir: Marta a encostou contra a porta, puxou-a pela cintura e a beijou.
Foi um beijo brutal de desejo acumulado. A boca de Helena quente, faminta. A mão de Marta desceu pela nuca, pelas costas, até apertar-lhe os quadris com força.
— Não dá mais pra segurar — sussurrou Marta, com a respiração pesada. — Ou você me pega agora… ou eu explodo.
Helena não respondeu. Apenas girou a chave na porta. Trancou. E naquele chão de mármore branco, deitou Marta nua, lambendo cada centímetro da pele recém-tratada, até fazê-la arquear, gritar, tremer, em uma sequência de orgasmos profundos e latejantes.
Ali não houve pudor. Nem técnica. Apenas tesão. Necessidade. Possessão.
Desejo e Segredo
Os encontros aconteciam nas casas uma da outra. Sempre à noite. Jantares em que a comida era esquecida porque a fome era outra. Roupas rasgadas no calor da pressa. Brinquedos escolhidos com ousadia — cintas duplas, plugs, algemas, vibradores com controle remoto. Elas testavam tudo. Queriam se descobrir pelos poros, pelo suor, pelos gemidos abafados.
Num sábado à tarde, Marta chegou de surpresa ao consultório. Helena ainda estava atendendo. Esperou na sala de procedimentos. Quando a médica entrou, Marta trancou a porta e ajoelhou-se diante dela.
Sem dizer nada, abriu a calça social e começou a chupá-la ali mesmo, com firmeza e reverência. Usava um vibrador nela mesma ao mesmo tempo — sentindo prazer por dar prazer. Helena segurava nos cabelos dela, gemendo baixo, tentando manter a compostura… até gozar em silêncio, trêmula, encostada na maca.
Depois riram, ofegantes, cúmplices.
— Se um dia souberem disso… — disse Helena, com o peito subindo e descendo.
— Vão querer ser nós duas — respondeu Marta, lambendo os próprios dedos.
Assumindo o Amor — Com Prazer e Orgulho
A primeira vez que postaram uma foto juntas foi discreta: as mãos, com taças de vinho, entrelaçadas sobre uma toalha de mesa. Mas os comentários vieram em avalanche. Algumas clientes se afastaram. Outras correram para a clínica.
— Quero o mesmo brilho no olhar que vocês têm — dizia uma delas, emocionada.
Elas começaram a sair de mãos dadas. A frequentar lugares onde podiam ser vistas, tocadas, beijadas — sem medo.
Certa noite, num rooftop bar, Helena apertou a coxa de Marta por debaixo do vestido justo. Marta usava uma calcinha rendada minúscula e um plug discreto. Olhou para ela com um sorriso de pura luxúria e disse:
— Quando sairmos daqui… você vai me foder com aquela cinta grossa. Quero sentir você me rasgar em duas.
Helena arregalou os olhos. E sorriu, maliciosa.
— Vamos sair agora.
O Recomeço Assumido
Numa entrevista para uma revista sobre sexualidade e saúde da mulher, Helena declarou:
"O prazer é político. E amar outra mulher, com o corpo e com a alma, é a maior revolução que já vivi."
Marta, ao lado dela, completou:
"Nunca fui tão feliz. E nunca gozei tanto. Coincidência? Acho que não."
E ali, com olhares cúmplices, elas mostraram ao mundo que amar de verdade exige coragem. Entrega. E, sim, uma dose generosa de gemidos sussurrados à meia-noite — ou gritados no meio da tarde.
Porque amar, para Marta e Helena, sempre foi isso: Ousar viver tudo. Sem esconder nada.