Alta, com cerca de 1,75m, Helena exibia uma elegância discreta. Os cabelos castanhos escuros, cortados em um long bob que emoldurava seu rosto angular, contrastavam com seus olhos verdes e maduros — olhos que revelavam tanto inteligência quanto saudade. Seu corpo, mantido com disciplina através de pilates e natação, era tonificado, mas sem exageros. Vestia-se com sobriedade: saias lápis, blusas de seda, óculos de armação fina. Mas tudo nela — da postura firme ao perfume sutil de jasmim — exalava uma feminilidade segura e contida.
Laura Vasconcellos, aluna do terceiro período de Direito, era o oposto do silêncio interior de Helena. Tinha 21 anos e estava em processo de reconstrução. Tinha acabado de encerrar, não sem dor, um relacionamento tóxico com um namorado controlador. Laura era leve, falante, cheia de vida, mas com um olhar — grandes olhos castanhos e expressivos — que, vez ou outra, traía uma melancolia funda.
Física e emocionalmente vibrante, Laura era o tipo de jovem que chamava atenção sem perceber. Seus cabelos eram longos, lisos e escuros, sempre soltos. Tinha a pele dourada pelo sol, um sorriso generoso e uma beleza natural que dispensava maquiagem. Usava roupas modernas, com toques sutis de ousadia, como uma blusa de alças finas que deixava parte do ombro à mostra ou uma saia que dançava com o vento.
O primeiro encontro significativo entre elas se deu após uma aula sobre direitos civis. Laura ficou para fazer perguntas, mas seu tom não era apenas acadêmico — havia um brilho curioso e desafiador em sua voz, uma maneira de olhar que fazia Helena se sentir... desperta.
Os encontros se tornaram frequentes: na biblioteca, nos corredores, às vezes num café próximo ao campus. Os diálogos evoluíram. De livros e jurisprudências, passaram a falar de música, cinema, viagens, dores. Um dia, Helena notou que Laura encostara sutilmente o joelho no seu, enquanto riam de um comentário irônico sobre Kant. Não afastou.
O primeiro toque fora simples: os dedos de Laura sobre a mão de Helena, durante uma conversa particularmente íntima. Um arrepio sutil percorreu os braços da professora, e ela, sem palavras, sorriu com os olhos.
Quando finalmente se beijaram, foi no apartamento de Helena, uma noite de sexta-feira chuvosa. Laura apareceu com um vinho tinto e um olhar decidido. O beijo foi demorado, curioso, com a timidez de um começo e a fome de algo que já se sabia intenso. Helena sentiu-se viva de novo, não como antes — como agora. Era diferente do amor que vivera com seu marido. Era mais leve, mais fluido, mais inesperado. O corpo que ela cuidava com disciplina agora vibrava com outra energia.
Elas descobriram uma intimidade cheia de descobertas. Helena era firme, mas gentil. Laura era ousada, mas cuidadosa. A sensualidade entre as duas não era apenas física, era mental — feita de toques demorados, palavras sussurradas, gestos pequenos. Uma dança de gerações e experiências.
A cada encontro, uma nova camada era desnudada. Laura se libertava de antigas amarras, e Helena, das suas próprias culpas. Juntas, teciam uma relação que não precisava de rótulos — só de espaço, desejo e respeito.
Chuva e Vinho
A noite chovia devagar, como se o mundo lá fora sussurrasse para que tudo acontecesse com calma. Helena ajeitava discretamente os livros na estante da sala quando ouviu a campainha. Não se surpreendeu. Laura dissera que passaria apenas para deixar um vinho que tinha comentado na aula — um pretexto frágil, mas Helena não quis questionar. Desejava aquela visita.
Ao abrir a porta, encontrou Laura de jeans escuros, uma camisa leve semiaberta nos punhos, e o cabelo úmido pelas gotas da noite. Nos braços, uma garrafa de vinho tinto e um sorriso que mesclava nervosismo com expectativa.
— Achei que essa chuva pedia algo mais... íntimo — disse Laura, sem disfarçar o duplo sentido.
Helena sorriu com o canto dos lábios. Abriu espaço para que ela entrasse. O apartamento era aquecido, acolhedor, com luzes amareladas que criavam sombras suaves nas paredes e um leve aroma de baunilha no ar. Elas se sentaram próximas no sofá de linho claro, taças em mãos, rindo baixo, compartilhando histórias com a leve embriaguez do vinho e do desejo não dito.
Os olhares demoravam-se. Os silêncios começavam a falar mais do que as palavras. Em certo momento, Laura se aproximou com o corpo inteiro, não só com o olhar. Tocou o rosto de Helena com os dedos quentes e leves. A professora fechou os olhos.
O beijo foi silencioso, com sabor de uva e coragem. Helena sentiu a respiração de Laura se misturar à sua, e o mundo diminuiu de tamanho. As mãos de Laura passearam pelo rosto, depois pelo pescoço, como se quisesse memorizar cada traço. Helena correspondeu com uma ternura que vinha do fundo — sua mão pousou firme na cintura da jovem, guiando-a com naturalidade para seu colo.
A pele de Laura era quente, viva. Ela deslizou os dedos pelo decote discreto da blusa de seda de Helena, explorando os botões como quem desvendava um segredo antigo. Um a um, abriu-os, revelando a pele clara, os contornos firmes de um corpo maduro, cuidado, mas faminto de toque.
Helena, ao sentir-se exposta, não hesitou — havia, naquela entrega, um prazer em ser vista, desejada de novo. Laura a beijava no pescoço com delicadeza, alternando entre lábios e língua, provocando suspiros baixos que saíam quase involuntários da garganta de Helena.
Guiadas pelo desejo e pela descoberta, foram para o quarto. Ali, os corpos se tocaram com respeito e fome. A diferença de idade não existia mais — apenas pele contra pele, respirações entrecortadas, mãos que percorriam curvas e sulcos, beijos demorados, suspiros sincronizados.
Laura explorava Helena com reverência, sentindo cada músculo se contrair sob seus toques, cada sussurro como um elogio silencioso. Helena, por sua vez, redescobria o próprio corpo, através de um olhar jovem e apaixonado, que a fazia sentir não só desejada, mas revivida.
O tempo se diluiu. Não havia pressa. Era uma dança feita de olhos fechados, dedos entrelaçados e gemidos abafados em travesseiros.
Ao amanhecer, Helena acordou com o corpo entrelaçado ao de Laura, que dormia tranquila, como quem finalmente encontrara abrigo. A chuva cessara. E o silêncio da casa parecia agora pleno, preenchido.
Helena sorriu para o teto, os cabelos da jovem ainda sobre seu peito, e pensou: "Ainda posso viver tudo outra vez. Mas de um jeito novo."