Helena mantinha a postura firme diante da turma. Corrigia provas com rigor, conduzia debates com precisão, mas bastava Laura erguer os olhos em sua direção para que algo dentro dela estremecesse. Era como caminhar sobre o fio de uma navalha — perigoso e embriagante.
Laura, por sua vez, parecia mais viva. Andava pelos corredores com uma confiança sutil, um brilho nos olhos de quem conhecia um segredo que ninguém mais sabia. Quando falava em sala, às vezes deixava escapar, propositalmente ou não, uma provocação velada — um comentário ousado, um sorriso enviesado. Helena disfarçava, mas sentia cada provocação na pele.
Os encontros passaram a acontecer às sextas-feiras à noite, quando sabiam que poderiam se perder uma na outra sem o relógio a persegui-las. O apartamento de Helena tornou-se um santuário — um espaço fora do tempo, onde o mundo não as alcançava.
Cada reencontro era um ritual.
Laura chegava sempre com algo novo: um livro, uma música, um vinho, uma peça de roupa que convidava o olhar. Helena recebia com a calma de quem domina os próprios gestos, mas bastava fechar a porta para que os corpos falassem com mais urgência.
Num desses encontros, Laura a esperou sentada no sofá, usando apenas uma camisa social de Helena, longa o suficiente para cobrir as coxas, curta o bastante para instigar. Quando a professora entrou na sala, os olhos se encontraram, e nenhum gesto foi necessário.
Helena se aproximou devagar, os saltos ecoando suavemente no piso de madeira. Parou diante de Laura e passou os dedos pelos cabelos dela, afastando-os do rosto. Beijou sua testa, depois os lábios, depois desceu pelo pescoço, com lábios entreabertos, até encontrar a curva dos ombros.
A camisa foi se abrindo devagar sob os toques experientes de Helena, revelando a pele quente e desejante de Laura. Deitaram-se no tapete macio, ao lado da lareira acesa, onde o calor da chama se misturava ao das mãos, línguas e gemidos contidos.
Ali, cada parte do corpo era descoberta como se fosse a primeira vez. Helena conhecia os caminhos da pele de Laura, mas havia sempre algo novo — uma reação inesperada, um arrepio súbito, uma palavra sussurrada com mais ousadia. Laura, em contrapartida, explorava Helena com a reverência de quem aprende e a fome de quem domina.
Elas se entregavam por horas, mas era no depois que o amor se revelava por completo — quando, deitadas lado a lado, conversavam baixinho sobre suas vidas, seus medos, suas vontades. Helena falava do marido falecido sem culpa, e Laura falava do alívio de não pertencer mais a um amor que a diminuía. O que havia entre elas era crescimento, descoberta, aceitação.
Mas fora do apartamento, o mundo era outro.
Nos corredores da universidade, o romance permanecia invisível. Não por vergonha, mas por prudência. O medo do julgamento, da hierarquia, das regras rígidas do meio acadêmico. Os toques se restringiam a acasos disfarçados — um roçar de mãos ao pegar um livro, um leve esbarrar de ombros, um olhar que se demorava demais.
Uma tarde, ao cruzarem-se em um corredor vazio, Laura a puxou pela mão para uma sala trancada. Helena protestou baixinho, mas cedeu. O beijo foi urgente, silencioso. As mãos apertadas contra a parede, os corpos colados, o tempo roubado. Saíram dali com os rostos corados, o cabelo um pouco fora do lugar, e sorrisos de quem vive algo proibido — mas impossível de abandonar.
O romance crescia escondido, mas intenso. Ardente. Vivo.
E Helena sabia: talvez tudo aquilo fosse temporário. Talvez o mundo real as alcançasse em algum momento. Mas enquanto durasse, entregaria cada pedaço de si a esse amor que a fazia sentir não apenas viva — mas inteira.