No início, esconder-se parecia excitante. O risco. A adrenalina. As mensagens cifradas, os encontros rápidos nos cantos vazios da escola. Mas com o passar dos meses, o segredo começou a pesar. Helena sentia a vontade de tocar a mão de Camila na frente dos outros. Camila queria falar da mulher com quem passava as noites. Aos poucos, o silêncio virou prisão.
As férias de julho foram o ponto de virada. Com a escola fechada, elas resolveram fugir do mundo. Escolheram uma pousada discreta no litoral, longe de tudo e de todos. Dias inteiros em frente ao mar, pés na areia, os corpos entrelaçados ao som das ondas. Riam como adolescentes. Faziam amor com a entrega de duas mulheres que sabiam o valor da liberdade.
A pousada era pequena, acolhedora, de janelas abertas para o mar e lençóis brancos perfumados pelo sol. O quarto delas tinha uma cama ampla, cortinas leves que dançavam com o vento e uma varanda com vista para a praia quase deserta. O cenário era perfeito para se perder uma na outra — e foi exatamente o que fizeram.
Na primeira noite, após o jantar à beira-mar, Camila se deitou ao lado de Helena na varanda do quarto, com uma taça de vinho na mão e o rosto virado para as estrelas.
— Sabe o que eu mais gosto em você? — perguntou.
— Tenho medo da resposta — brincou Helena, sorrindo.
Camila virou-se e a encarou, séria.
— Que você é corajosa. E não finge ser o que não é.
Helena tocou o rosto dela, emocionada. — Não fui assim por muito tempo. Mas com você... tudo fica claro. Fácil.
Na manhã seguinte, acordaram abraçadas, sem pressa, sem culpa. E foi ali, entre lençóis amassados e beijos de bom dia, que decidiram: nada de se esconder mais.
Na segunda noite, após um dia de banho de mar e carícias preguiçosas na areia, elas voltaram para o quarto com os corpos salgados e os olhos brilhando de desejo. Tomaram banho juntas, sob um chuveiro morno que escorria como um convite. Camila encostou Helena contra a parede de azulejos, a água escorrendo entre seus seios, lambendo sua pele. Beijou o pescoço da diretora com lentidão, e depois desceu, traçando caminhos com a língua entre os ombros, os seios, o ventre, até se ajoelhar diante dela.
Helena entrelaçou os dedos nos cabelos escuros da professora enquanto sentia a língua dela explorar entre suas coxas, com movimentos firmes e ritmados. A água do chuveiro escorria junto com o prazer, e o gemido de Helena ecoava abafado pelas paredes úmidas.
Mais tarde, já na cama, Camila a observava como se fosse um presente raro. Helena, deitada de lado, os cabelos úmidos sobre o travesseiro, mordia os lábios ao sentir as mãos da amante percorrerem sua cintura, suas costas, seus seios — tocando com devoção. Camila subiu sobre ela, montando-a com os joelhos abertos de cada lado, e segurou os pulsos da diretora acima da cabeça. A visão dos olhos verdes fixos nos seus, entregues e famintos, foi o estopim. Beijou-a com força, com língua, com dentes leves que provocavam gemidos baixos e doces.
A fricção de seus quadris começou lenta, com respiração quente no ouvido, mãos deslizando por coxas e cintura, até que ambas começaram a se mover em uníssono. Os corpos se encaixavam como dança antiga — seios tocando, respirações entrelaçadas, o calor crescendo entre elas como uma maré subindo sem freio.
Helena rolou Camila de costas e assumiu o controle, montando-a agora, com os cabelos soltos caindo sobre o rosto, os olhos semicerrados de prazer. Sentou-se sobre o quadril da professora e começou a se mover, lentamente no início, depois mais rápido, até que os gemidos se misturaram ao som da cabeceira batendo suavemente contra a parede. Camila arqueava-se sob ela, segurando seus quadris, sentindo o orgasmo crescendo com força. Quando veio, foi com um grito abafado no pescoço de Helena, um estremecer inteiro do corpo.
Mas não pararam ali.
Na madrugada, ainda nuas, Helena acordou e encontrou Camila deitada de bruços, a respiração calma. Passou a mão pelas costas dela, subiu a perna por cima das coxas da amante e deitou-se sobre seu corpo com cuidado, beijando as costas, a nuca, as curvas. Camila sorriu, ainda sonolenta, mas se virou para recebê-la de novo — desta vez com doçura, com beijos lentos, com dedos entrelaçados.
Fizeram amor mais uma vez, em silêncio, embaladas apenas pelo som do mar e pela certeza de que, ali, estavam livres para serem o que queriam: inteiras, apaixonadas, intensas.
O retorno à escola, em agosto, foi silencioso no primeiro dia. Mas não para quem olhava com atenção. Elas chegaram juntas, Camila com a mão nas costas de Helena num gesto sutil, mas íntimo. Trocaram olhares sem pressa, sorrisos abertos. Na sala dos professores, as conversas baixaram de tom. Alguém comentou. Outro confirmou o que já se suspeitava.
Na reunião pedagógica daquela semana, Helena fez questão de dar a palavra a Camila. Depois, na saída, as duas passaram lado a lado pela secretaria. E quando uma funcionária antiga as cumprimentou com um sorriso cúmplice e um “felizes férias, hein?”, Helena apenas sorriu. E segurou a mão de Camila, ali mesmo, com naturalidade.
Foi assim que o segredo virou presença. Sem anúncio, sem discurso. Apenas verdade.
As reações variaram — olhares, cochichos, elogios, silêncios. Mas nada disso importava. À noite, de volta ao lar que agora compartilhavam cada vez mais, faziam amor sem medo, riam sem esconder. Sabiam que estavam construindo algo mais forte que o julgamento: estavam construindo liberdade. Juntas.