O muro de pedra antigo que cercava a propriedade precisava de reparos. Um trabalho pesado, de sol a sol. Contratei uma equipe de baixo custo, recomendada pelo caseiro. Eram três. Dois portugueses velhos e ele. Khalid. O nome dele soava a deserto e a pólvora. O rosto era uma paisagem de dureza, uma cicatriz fina perto do olho. Ele não falava, apenas trabalhava, a levantar pedras que os outros dois mal conseguiam arrastar. O português dele era quase inexistente, um conjunto de ordens monossilábicas para os outros.
Esperei o fim do dia. O sol a pôr-se, a tingir o céu de laranja e roxo. Os velhos foram-se embora. Ele ficou, a arrumar as ferramentas com uma precisão metódica. Eu aproximei-me, vestindo um vestido branco, esvoaçante, ridículo para aquele cenário.
- Bom trabalho. - Eu disse.
Ele apenas me olhou. Um olhar vazio de qualquer coisa que não fosse desprezo. Ele viu o vestido, os meus pés descalços, a minha vida fácil. E odiou tudo.
- Quero que fique. Tenho outro trabalho para si. Aqui dentro.
Ele cuspiu no chão, a centímetros do meu pé.
- Não trabalho para mulheres como você.
A voz dele era um rosnado, o sotaque pesado e gutural.
- Eu não estou a pedir. Estou a pagar. - Apontei para a porta aberta da casa.
Ele riu. Um som seco, sem alegria. Em dois passos largos, ele estava na minha frente. Agarrou o meu queixo com uma mão suja de terra e cal. A força era absurda.
- No meu país, uma mulher que fala assim com um homem tem a língua cortada. Ou pior. Você é uma puta ocidental. Mimada. Fraca.
- Me mostra então o que você faz com uma puta. - A minha voz saiu como um sussurro.
Ele não respondeu com palavras. Arrastou-me pelos cabelos para trás do muro de pedra, para longe da vista da casa. Jogou-me no chão poeirento, entre as ferramentas e as pedras.
- Você quer um homem de verdade? Vou te mostrar o que é um homem de verdade.
Ele rasgou o meu vestido caro como se fosse um trapo inútil. Não houve beijos, não houve carícias. Ele virou-me de barriga para baixo, prendeu os meus braços nas costas com uma mão e, com a outra, abriu as minhas pernas.
- Grita agora, cadela brasileira. Grita para o teu deus de dinheiro.
Ele entrou em mim a seco. A dor foi aguda, ofuscante. Eu mordi o meu próprio braço para não gritar. Aquilo não era sexo, era uma conquista. Uma invasão. Ele fodia-me com a raiva de gerações, a descontar em mim a decadência que ele via no meu mundo.
- Você gosta disto, não gosta? De ser tratada como o lixo que você é. - Ele rosnou no meu ouvido.
- Sim… me fode… me quebra… - Consegui gemer.
Ele puxou o meu cabelo para trás, forçando a minha cabeça para cima.
- Olha para mim. Quero que veja a cara do homem que te está a pôr no teu lugar.
O ritmo dele era brutal, impiedoso. Cada estocada era uma punição. Senti o meu orgasmo a chegar, um espasmo de dor e prazer que me fez contorcer debaixo dele. Segundos depois, senti-o a gozar dentro de mim, um jorro quente e violento.
Ele saiu de mim abruptamente. Levantou-se, ajeitou as calças. Olhou para mim, caída na terra, suja, rasgada. E não havia nada no seu olhar. Nem satisfação, nem raiva. Nada.
Eu apontei para um envelope que tinha deixado em cima do muro.
- O seu pagamento.
Ele olhou para o envelope, depois para mim. E cuspiu outra vez. Depois, pegou nas suas ferramentas e foi-se embora, a pé, pela estrada de terra, sem olhar para trás.
Fiquei ali, até a escuridão ser total. O telefone tocou na minha mão. Era o meu marido.
- Querida? Tudo bem? O dia foi bom?
- Olá, amor. - A minha voz estava rouca. - Foi… educativo. Estive a supervisionar as obras no muro. Um trabalho muito duro. Muito… primitivo. Mas acho que finalmente percebi os alicerces das coisas.
Depois de falar com meu marido percebi que ele tinha colocado o contato dele no meu celular, com o nome de Rei da puta brasileira, senti um umidade só de ler isso esse nome do contato dele.


