Na última noite, em um bar à beira-mar com música ao vivo e luzes baixas, o tédio dourado começou a se dissipar. Foi quando Bianca os viu.
Eles estavam no balcão, dois homens. Um mais velho, talvez quarenta e poucos anos, cabelos grisalhos bem cortados, com a postura relaxada de quem está em seu próprio território. O outro era mais novo, magro, com tatuagens nos braços e um olhar alerta, quase feroz. Não eram modelos, nem ostentavam músculos exagerados. Havia, porém, uma energia nítida entre eles — uma cumplicidade que ia além da amizade casual — e uma maneira como seus olhos percorriam o ambiente, como predadores avaliando sem pressa. Eles conversavam baixo, riam de algo privado, e ocasionalmente o mais velho colocava uma mão no ombro do mais novo, num gesto que não era paternal, mas possessivo.
Bianca sentiu um frio familiar percorrer sua espinha, seguido por uma onda de calor entre as pernas. Ela não pensou. O desejo, agora treinado, falou mais alto.
Ela tocou o braço de Lucas, que observava a banda com um olhar distante. "Olha lá. No bar."
Lucas seguiu seu olhar. Ele viu os dois homens. Viu a energia. Viu o interesse súbito e intenso nos olhos da esposa. Seu próprio corpo reagiu antes da mente — um aperto no estômago, um fluxo de sangue quente. Ele conhecia aquele olhar. Era o mesmo que ela tinha antes de uma sessão com Sheila.
"Eles são… interessantes," Lucas murmurou, sua voz um pouco rouca.
"Mais que interessantes," Bianca sussurrou, inclinando-se para ele. Seu hálito, quente e com sabor de caipirinha, atingiu seu ouvido. "Quer me ver transando com eles?"
A pergunta era direta, sem rodeios, ecoando a nova linguagem brutal e honesta que haviam adotado. Lucas fechou os olhos por um segundo, deixando a imagem se formar: Bianca, sua Bianca, nua sob aqueles dois estranhos, aqueles dois desconhecidos que emanavam perigo e desejo.
Quando abriu os olhos, estavam escuros de uma luxúria resignada e fervilhante. "Sim," ele disse, a palavra saindo como um sopro. E então, como se uma comporta tivesse se aberto, às imagens e os desejos mais secretos jorraram: "Quero ver eles fazendo uma dupla penetração em você. Um na frente, outro atrás. Quero ver você gemendo entre eles. E por fim…", ele engoliu seco, a intensidade de sua própria fantasia o surpreendendo, "... quero vê-los gozar na sua boca. Quero ver você engolindo eles dois."
Um sorriso lento, de pura satisfação perversa, esticou os lábios de Bianca. Ela acariciou a face de Lucas. "Com certeza, meu corninho. Vamos."
Ela se levantou, o vestido leve esvoaçando em torno de suas coxas. Caminhou até o bar com uma confiança que era fruto das experiências passadas. Ela não era mais a cliente tímida do estúdio. Era uma mulher que sabia o que queria e como pedir.
"Oi," ela disse, apoiando-se no balcão ao lado do homem mais velho. "Vocês parecem ser as pessoas mais interessantes daqui nesta noite tão… comum."
O homem mais velho virou-se, seus olhos cinzas percorrendo-a sem pressa, avaliando. O mais novo parou de falar e a observou, como um felino interessado.
"‘Comum’ é uma palavra forte para uma noite dessas," respondeu o mais velho, sua voz era suave, mas com uma firmeza por trás. "Mas concordo que poderia ser melhor. Eu sou Marcos. Este é o Renato."
"Bianca." Ela não estendeu a mão. Seu olhar foi direto, desafiador. "Meu marido e eu…", ela fez um leve aceno com a cabeça na direção de Lucas, que os observava com um rosto tenso e excitado, "... estamos procurando algo para animar nossa última noite. Algo… memorável. Vocês têm interesse em fazer parte de uma memória?"
Renato, o mais novo, soltou uma risada baixa. "Depende da memória."
Bianca sorriu. "A memória de me usar. Os dois. Juntos. Enquanto meu marido assiste. E depois…", ela inclinou-se para frente, sussurrando, "... de encherem minha boca. Até a última gota."
O silêncio entre os dois homens foi carregado. Eles trocaram um olhar rápido, uma comunicação silenciosa que parecia confirmar algo. Marcos voltou-se para Bianca, e agora seu olhar não era mais apenas de avaliação, era de total interesse.
"Seu marido assiste e só isso?" perguntou Marcos.
"Só isso," Bianca confirmou. "Ele adora."
Marcos olhou para Lucas, que manteve o contato visual, acenando com a cabeça uma vez, em confirmação silenciosa e sofrida.
"O hotel fica a cinco minutos daqui," disse Marcos, finalizando. "Nosso quarto tem vista para o mar. E é bastante espaçoso."
Não houve mais negociação. Foi um acordo tácito, selado por um desejo mútuo e uma perversidade compartilhada. Pagaram as contas e saíram, os cinco, na noite quente. Lucas caminhava alguns passos atrás, seu coração batendo forte, observando a esposa caminhar entre os dois estranhos, sua mão descansando casualmente no braço de Marcos.
O quarto do hotel era amplo, como prometido. As cortinas estavam abertas para as luzes do balneário refletidas no mar escuro. Marcos trancou a porta e virou-se.
"Sem rodeios, então," ele disse, seu tom agora completamente de domínio. "Renato, prepare-a por trás. Bianca, tire essa roupa. E você…", ele apontou para Lucas, que ficou parado perto da porta, "... sente-se naquela poltrona. E não toque em si mesmo até que eu diga."
Lucas obedeceu, sentando-se na borda da poltrona, suas mãos trêmulas apoiadas nos joelhos.
Bianca deixou o vestido cair. Renato a puxou para perto, suas mãos ásperas explorando seu corpo, enquanto Marcos a beijava com uma possessividade que era ao mesmo tempo experiente e impessoal. Em minutos, ela estava de quatro na cena grande, com Renato atrás dela, trabalhando seu ânus com dedos e lubrificante que ele tirou da mochila, e Marcos à sua frente, forçando seu membro entre seus lábios.
"Olha, corninho," Bianca gemeu, arfando em torno de Marcos. "Olha como eles vão me arrombar. Dois estranhos… na sua putinha."
Lucas não conseguia tirar os olhos. A visão era mais crua, mais perigosa do que com os homens escolhidos por Sheila. Eram desconhecidos. Não havia ritual, só desejo animal.
Quando Renato a penetrou por trás, ela gritou, e Marcos, na frente, a fodeu na boca com força, sufocando seus gemidos. A dupla penetração era violenta, eficiente, focada no prazer deles e na exibição dela. Eles a moveram entre si como um objeto, conversando baixo entre si sobre como ela estava "apertada" ou "aberta".
E Bianca se deixou ir, flutuando naquele espaço familiar de ser um brinquedo, de ser um espetáculo para seu marido. Suas frases eram pontuadas por gemidos: "Gosta, corno?… Viu como ele enfia no meu cu?… A sua cadela adora, não é?…"
Marcos foi o primeiro a anunciar que ia gozar. Ele puxou o membro da boca dela. "Abre bem. Quero ver cair tudo no seu rosto primeiro."
Ele jorrou sobre seu rosto, nos lábios, nos seios. Bianca lambeu os lábios, mantendo os olhos em Lucas, que estava se contorcendo na poltrona.
"Minha vez," Renato rosnou atrás dela, seu ritmo acelerando. Ele também se retirou, mas puxou Bianca pela cintura, virando-a de costas para ele. "De joelhos. De frente para ele."
Bianca ajoelhou-se no chão, de frente para Lucas na poltrona. Renato se ajoelhou atrás dela, guiando seu membro para sua boca.
"Engole," ordenou Marcos, de pé ao lado, observando.
Renato ejaculou dentro de sua boca em jatos fortes. Bianca engoliu convulsivamente, parte escorrendo pelo seu queixo. Quando ele terminou, ela ficou ali, de joelhos, ofegante, o rosto e o corpo marcados, os olhos vítreos mas vitoriosos fixos no marido.
"Pronto, corno," ela ofegou, sua voz rouca. "Sua puta foi usada. Está feliz?"
Lucas, liberado pela pergunta, finalmente levou as mãos a si mesmo, chegando ao clímax em poucos segundos com um gemido abafado, seu corpo se encolhendo na poltrona.
O silêncio que se seguiu foi diferente. Não era o silêncio de cumplicidade de Sheila. Era um silêncio pesado, vazio, de estranhos que compartilharam algo intenso e agora não tinham mais nada a dizer.
Marcos e Renato se vestiram rapidamente, com um aceno de cabeça quase profissional. "Foi um prazer," disse Marcos, sua máscara social de volta no lugar. Eles saíram, deixando Bianca e Lucas sozinhos no quarto bagunçado, com o cheiro de sexo e mar dominando o ar.
Bianca arrastou-se até a cama e desabou. Lucas foi até ela, deitando-se ao seu lado, envolvendo-a em seus braços. Ela tremia levemente.
"Foi… diferente," Lucas sussurrou.
"Foi real," Bianca respondeu, sua voz abafada contra seu peito. "Mas não foi… nossa."
Ela não precisava explicar. Ele entendeu. A intensidade estava lá, a transgressão também. Mas faltava aquele elemento de ritual, de cuidado perverso, de posse que vinha com Sheila e Fábio. Faltava a *família*.
"Voltamos amanhã," Lucas disse, e não era uma pergunta.
Bianca apenas acenou, fechando os olhos. Eles tinham provado o fruto proibido por conta própria. E agora sabiam que, por mais doce que fosse, seu sabor verdadeiro era aquele temperado pela mão de Sheila. O retorno não era uma derrota. Era o reconhecimento de onde seu verdadeiro, complicado e profundo prazer residia.
A pergunta de Lucas ainda ecoava no ar carregado do quarto: *"Amanhã vamos embora, quer aprontar mais alguma coisa?"*
Bianca arregalou os olhos. O tremor de exaustão que percorria seu corpo pareceu se converter em energia pura, em um curto-circuito de vontade. Aquele vazio deixado pelos dois homens — a transação fria, eficiente — não a saciará. Pelo contrário, acendeu um fogo maior. Se aquilo era possível de forma tão rápida e anônima, o que mais poderia ser?
Ela se sentou na cama de um salto, os restos de sêmen secando em sua pele parecendo uma segunda pele, uma armadura de vergonha transformada em poder.
"Agora," ela disse, sua voz não era um sussurro, era uma declaração. "Vamos agora. Não quero esperar até amanhã. Não quero pensar. Só quero mais."
Lucas a observou, e viu a transformação. Não era mais a esposa que precisava de ritual e permissão. Era uma força da natureza, uma fome ambulante. Seu próprio cansaço pareceu evaporar, substituído pela mesma urgência predatória. O corninho resignado desapareceu; no seu lugar, surgiu o cúmplice voraz.
"Então vamos," ele respondeu, levantando-se. "Vamos encontrar um inferno melhor que este."
Eles se vestiram às pressas, sem tomar banho. O cheiro deles, do sexo recente e do suor, era um farol para os que entendiam a linguagem. Desceram ao lobby, ignorando o olhar discreto do recepcionista.
A cidade à uma da manhã respirava de forma diferente. O barzinho à beira-mar parecia infantil agora. Lucas pegou o celular, pesquisou rapidamente.
"Tem um lugar… um clube. Dizem que é *privativo*. Mais underground. Fica vinte minutos daqui."
"É para lá que vamos," Bianca disse, entrando no táxi que Lucas sinalizou.
O lugar não tinha placa. Era uma porta de metal cinza no fim de um beco, vigiada por um homem enorme de braços cruzados. Lucas sussurrou algo para ele, algo que incluía a palavra "busca" e um olhar significativo para Bianca. O homem os avaliou, seus olhos parando nas marcas de maquiagem manchada de Bianca, na rigidez excitada de Lucas. Ele abriu a porta.
O som os atingiu primeiro: um batimento techno profundo, visceral, que parecia vibrar no esqueleto. A luz era estroboscópica, piscando em vermelho e azul, iluminando flashes de corpos em movimento. Não era um clube de dança comum. Era um labirinto de salas, de cortinas de veludo, de cantos escuros. O ar estava denso com o cheiro de suor, sexo e algo ligeiramente adocicado — óleo de massagem, incenso, pecado.
Bianca sentiu o coração acelerar de uma maneira nova. Aqui não havia disfarces. Casais trocavam beijos lascivos em sofás. Um grupo de três homens e uma mulher se acariciavam abertamente em um canto almofadado. Em uma piscina rasa e iluminada com luz negra, corpos nus se entrelaçavam na água.
Ela agarrou a mão de Lucas. "Aqui," ela sussurrou, seus olhos brilhando com um fogo reflexivo. "Aqui é o lugar."
Eles foram para o bar, uma ilha de luz relativa. Antes que pudessem pedir algo, um homem se aproximou. Era alto, careca, com um anel de prata no lábio.
"Novatos?" ele perguntou, sua voz surpreendentemente suave.
"Procurando experiência," Lucas respondeu, sua voz mais firme do que ele se sentia.
O homem — que se apresentou como Gael — sorriu. "A experiência encontra quem está pronto. Vocês vieram sozinhos?"
"Só nós dois," disse Bianca, projetando sua voz acima da música. "Mas não queremos ficar sozinhos."
Gael os observou por um longo momento. "Há uma sala ao fundo. Um grupo começou há pouco. Eles estão… receptivos a novos elementos. Especialmente elementos como você," ele disse, com um aceno de cabeça para Bianca. "Interessados?"
Bianca e Lucas trocaram um olhar. Não havia planejamento, não havia Sheila para guiar. Era o salto no escuro absoluto. O pensamento foi mais assustador do que todas as sessões anteriores, e por isso, mil vezes mais excitante.
"Sim," eles disseram em uníssono.
Gael os levou por um corredor baixo, até uma porta de veludo preto. Ele a abriu.
A sala era ampla, iluminada por luzes vermelhas fracas. Almofadas e colchonetes cobriam o chão. E lá estavam eles. Seis, talvez sete pessoas. Dois casais, três homens solteiros. A dinâmica já estava estabelecida — roupas estavam espalhadas, corpos se tocavam, gemidos preenchiam o ar pesado. Uma mulher ruiva estava de quatro, sendo penetrada por um homem enquanto chupava outro. Um dos casais se beijava profundamente enquanto a mulher acariciava o membro de um terceiro homem.
A entrada de Bianca e Lucas fez algumas pausas momentâneas. Os olhos se voltaram para eles, avaliando, convidando.
Um dos homens solteiros, um tipo musculoso com barba, se soltou do grupo e se aproximou. Seus olhos não paravam em Bianca.
"Bem-vindos à festa," ele disse, sua mão tocou o queixo de Bianca, virando seu rosto para a luz. "Você é linda. E você…", olhou para Lucas, "… veio para assistir ou jogar?"
Lucas respirou fundo. O papel de apenas observar, que o excitava tanto, parecia pequeno aqui, agora. A energia brutal do lugar exigia mais.
"Ele joga," Bianca respondeu por ele, seu olhar desafiador. "Mas hoje… ele joga *comigo* sendo o jogo."
Ela então olhou para o grupo, para os corpos entrelaçados, e lançou o convite, alto e claro:
"Quem quer me usar? Todos. Ao mesmo tempo. E meu marido…", ela puxou Lucas para perto, "... vai ajudar a colocar cada um de vocês dentro de mim."
Foi como jogar gasolina na fogueira. Um rugido de aprovação veio do grupo. Mãos os puxaram para o centro dos colchonetes. A ruiva soltou um gemido excitado. O homem barbado já estava puxando as calças de Bianca para baixo.
Em segundos, Bianca estava no centro de um redemoinho de mãos, bocas e corpos. Lucas, inicialmente paralisado, foi empurrado para o papel ativo que Bianca lhe designara. Uma mulher do casal guiou sua mão para o sexo molhado de Bianca, ordenando: "Prepara ela para o seu amigo aqui!" enquanto apontava para um dos solteiros.
Lucas obedeceu, seus dedos entrando na esposa com uma mistura de posse e terror. Ele a beijou, roubando um beijo de sua boca no meio do caos, e sussurrou: "Minha puta. Minha puta linda."
E então começou. Não foi coreografado, foi um frenesi. Um homem tomou sua boca. Outro, guiado por Lucas, penetrou-a por trás. O homem barbado a levantou, colocando-a de cócoras sobre si, e a imprensou para baixo. Ela estava sendo triplamente penetrada novamente, mas desta vez, havia mais mãos, mais bocas. A mulher ruiva beijava seus seios. O outro homem do casal acariciava e beijava Lucas enquanto ele assistia, hipnotizado.
Bianca gritava, mas seus gritos eram de triunfo. Ela estava sendo consumida, aniquilada, transformada em puro instinto e sensação. Ela olhava para Lucas através da floresta de corpos e via nele não mais o corninho, mas o parceiro no crime, o co-conspirador de sua própria destruição gloriosa.
E no meio daquele caos, com um corpo diferente preenchendo cada orifício e mãos explorando cada centímetro de sua pele, ela encontrou, paradoxalmente, uma centelha daquilo que tinha com Sheila: não a ritualização, mas a *entrega total* a um desejo maior do que eles mesmos. E desta vez, ela e Lucas estavam navegando nesse mar juntos, mesmo que ele estivesse ajudando a afundá-la.
A última coisa que ela viu antes de seu mundo se dissolver em puro êxtase foi o rosto de Lucas, marcado por lágrimas de emoção e prazer, gritando junto com ela enquanto a via ser possuída por todos e por ninguém, no santuário anônimo do desejo mais puro.