Após Eduardo errar uma jogada fácil por estar mais focado em fazer Saráh rir, Rafaela se levantou.
"Ok, chega de moleza", disse ela, se aproximando da mesa. "Vocês dois são péssimos nisso. Minha vez. Eu contra a vencedora."
Saráh sorriu, aceitando o desafio implícito. "Pode vir. Mas já vou avisando que não pego leve."
Eduardo, pego de surpresa, deu de ombros e passou o taco para a irmã, tornando-se o espectador. A atmosfera do jogo mudou instantaneamente. O flerte deu lugar a uma concentração silenciosa. O verdadeiro jogo estava para começar.
Foi Rafaela quem fez o primeiro movimento, tanto na mesa quanto na conversa, enquanto Saráh se preparava para a primeira tacada.
"Então, Saráh", começou Rafaela, a voz casual, mas o olhar atento. "Você está aqui no hotel com sua família?"
"Sim", respondeu Saráh sem desviar os olhos da bola. "Mas eles são mais do tipo que fica no quarto lendo. Eu precisava de um pouco de ar." A tacada foi limpa e certeira. Duas bolas listradas caíram.
"Entendo", disse Rafaela, pegando o giz. "E o que te traz pra cá? Férias da escola?"
"Quase isso", disse Saráh, contornando a mesa para analisar o próximo lance. "Acabei de fazer as últimas provas do vestibular. Meus pais me deram esse fim de semana de presente antes de eu mergulhar na loucura que vai ser a faculdade ano que vem." Ela olhou para Rafaela. "Você faz faculdade?"
O jogo de perguntas e respostas continuou, sincronizado com as tacadas. Cada pergunta de Rafaela era um teste sutil, e cada resposta de Saráh era honesta e direta. Ela não se esquivava, não parecia ter nada a esconder. Ela falou sobre seu sonho de estudar arquitetura, sobre sua paixão por sinuca ensinada pelo pai, sobre sua banda favorita.
A cada resposta, Darlene via a postura defensiva de Rafaela se desfazendo. O olhar de interrogatório deu lugar a um de genuíno interesse. Rafaela, a protetora, estava lentamente aprovando a nova amizade do irmão. O jogo não era mais sobre vencer na sinuca, mas sobre duas jovens mulheres, fortes e inteligentes, medindo e, finalmente, respeitando uma à outra.
No final, Saráh venceu a partida por uma bola, mas quando ela estendeu a mão para Rafaela, não foi um gesto de vitória, mas de camaradagem.
"Você joga muito bem", disse Saráh.
"Você também", admitiu Rafaela, e pela primeira vez naquela noite, ela abriu um sorriso sincero para a garota. "Amanhã a gente vai pra piscina. Se quiser aparecer, a revanche está de pé."
"Com certeza", respondeu Saráh. O convite havia sido feito. A estranha havia passado no teste.