Ele se virou para Mariana com a expressão de um ator principal, pronto para o grande monólogo de sua vida.
— Chegamos, meu amor! — exclamou, com a voz ligeiramente embargada pela emoção e por excesso de planejamento. — A Pousada Brisa Salgada. Eu li 47 avaliações, Mari. Quatrocentos e setenta e sete! Este é o nosso refúgio. O lugar onde vamos... reajustar o GPS da nossa paixão!
Mariana forçou um sorriso, um movimento tênue dos lábios que exigiu um esforço muscular imenso. Ela tentava não demonstrar que achava a metáfora do GPS, e o fato de Léo ter lido 477 avaliações, terrivelmente sintomático da previsibilidade que, ironicamente, a tinha levado ao seu recente e imprudente deslize.
Seus olhos, no entanto, não estavam fixos no mar azul turquesa que Léo tanto apontava, nem na areia branca e imaculada. Eles estavam focados, com uma precisão cirúrgica de alguém diante de um erro catastrófico, na placa de madeira gasta entalhada ao lado da porta principal: Proprietário: Júnior "Jú" Costa.
Seu corpo reagiu com uma descarga de adrenalina tão intensa que suas palmas suaram instantaneamente. Era o tipo de pânico frio e denso que se sente ao perceber que não só deixou o fogão ligado, mas que ele está prestes a explodir e você está presa na cozinha.
Impossível, pensou Mariana, a cabeça girando. Das vinte pousadas chiques na costa sul que Léo pesquisou, aquela em que ele escolheu investir a poupança do mês... tinha que ser a do Júnior? Aquele Júnior. O único Júnior que ela conhecia que servia caipirinhas com um sorriso que prometia mais do que apenas limão e cachaça.
Léo, completamente alheio ao tsunami interno de sua esposa, abriu a porta com entusiasmo e começou o ritual de descarregar as malas. Ele puxou a mala de Mariana, uma carry-on vermelha que, ironicamente, continha o biquíni novo que ela havia comprado especificamente para o breve e esquecível affair com Júnior, uma semana atrás, em um barzinho noturno na cidade.
— Não se preocupe com nada, gata. Eu separei a mala de emergência romântica — disse Léo, piscando de forma exagerada, o que fez suas ruguinhas de expressão se aprofundarem. — Velas aromáticas de baunilha, um óleo de massagem thai vegano e uma playlist de jazz melancólico dos anos 40!
Mariana desceu do carro, as pernas bambas, sentindo o cascalho quente sob suas sandálias. Ela tinha que agir rápido. Talvez fosse um nome comum. Talvez ele tivesse vendido a pousada. Ela repetia essas esperanças como um mantra, mas a realidade parecia rir dela.
Nesse exato momento, a porta de madeira rústica se abriu com um rangido que parecia um anúncio dramático. Um homem jovem, incrivelmente bronzeado, vestindo apenas um short de surf puído e com os cabelos pretos pingando água salgada, saiu, carregando uma prancheta. Ele parecia ter saído de uma propaganda de cerveja artesanal. Era ele. Júnior.
Júnior olhou para o casal. Seus olhos passaram por Léo (que estava naquele momento lutando para equilibrar três malas de rodinhas, uma caixa de vinho e uma pochete de documentos) e então fixaram-se em Mariana. Por um microsegundo, seus olhares se trancaram, e a troca de informações foi mais rápida e chocante do que um raio: reconhecimento, pânico, e a certeza mútua de que estavam arruinados.
— Sejam bem-vindos à Brisa Salgada! — disse Júnior, com aquele sorriso largo, preguiçoso e charmoso de quem não se estressa com nada, mas com um brilho de puro desespero dançando em seus olhos castanhos. — Eu sou Júnior, o proprietário.
Léo largou tudo — as malas caíram no chão de cascalho com um barulho seco —, estendendo a mão para o recepcionista (que ele considerava um "moço do hotel").
— Léo e Mariana! É um prazer, Júnior! Li que o seu café da manhã é lendário, e que o pão de queijo... meu amigo, disseram que o pão de queijo é uma experiência quase religiosa!
— Ah, obrigado, o pão de queijo é da minha tia. — Júnior apertou a mão de Léo, sem desviar o contato visual angustiado com Mariana.
Mariana finalmente conseguiu se manifestar, forçando um tom casual que soou alto e agudo, como se estivesse gritando em um túnel.
— Nossa... que coincidência! Júnior... é um nome tão... popular por aqui, não é? Na cidade de onde viemos, também tem uns dois ou três...
Júnior engoliu em seco, olhando para Léo e depois para Mariana, como se estivesse tentando decifrar um enigma.
— É... um nome que se usa bastante no litoral.
Léo riu, passando o braço pela cintura de Mariana e a beijando na testa com um smack alto.
— Ela é engraçada assim mesmo. Às vezes ela acha que conhece todo mundo. Ela é de humanas, Júnior. Mas, enfim. Onde é o nosso ninho de amor?