— Jazz... e sabão líquido... — Ele balançou a cabeça, incapaz de processar a banalidade das evidências.
Mariana engoliu em seco, esperando a explosão, o drama, os pratos voando. Ela estava pronta para se defender, para falar sobre o tédio, a previsibilidade e a necessidade dela de se sentir vista.
— Léo, eu sinto muito. Foi um erro. Uma coisa estúpida que aconteceu em um momento de...
Léo a interrompeu, levantando a mão. Ele olhava para a prova na tela, depois para Mariana, depois para o teto, como se pedindo ajuda divina.
— Não precisa falar, Mari. Eu entendi. Ele é o oposto de mim. Ele é o Sabão Líquido, eu sou o Detergente em Pó com Ação Antisséptica. Eu sou o Dorflex, ele é o... o jazz. Eu planejei tanto, comprei o óleo de alho, o roupão de seda... e você foi para o lado B da pousada com o surfista.
O silêncio voltou, denso e desconfortável.
Léo então soltou um suspiro profundo e inesperado, como se estivesse liberando todo o estresse do planejamento matrimonial. Ele olhou para Mariana com uma nova e estranha intensidade nos olhos.
— Sabe de uma coisa, Mari? Eu estou cansado de ser previsível. E a nossa noite passada... foi incrível. Foi o melhor reajuste de GPS que já tivemos. E isso aconteceu depois que você viu o Júnior, o Sabão Líquido!
Ele se levantou da cama, pegou o roupão de seda amassado e o vestiu, ajustando-o com uma nova postura de confiança.
— A Dra. Sheila sempre disse que o casamento é sobre a exploração de novos caminhos. E se... e se a gente explorasse um novo caminho agora?
Mariana piscou, confusa. — Que caminho, Léo? A gente vai para outro hotel? Vamos para a terapia de casal agora?
Léo sorriu, e era um sorriso ousado e um pouco perturbado, o sorriso de um homem que havia perdido a razão e encontrado a libido no processo.
— Não, Mari. Pensa bem. O Júnior está aqui. Ele está solteiro. Ele tem aquela energia de praia... e você acabou de me dizer que o nosso reajuste foi um sucesso. Se o problema é a previsibilidade, então vamos ser totalmente imprevisíveis.
Ele se inclinou, e a sugestão foi dada em um sussurro quente e inacreditável:
— Vamos chamá-lo para tomar um chá de alho conosco. E depois... a gente chama ele para a cama. Os três.
Mariana ficou boquiaberta, completamente em choque. A única coisa que conseguia sair de sua boca era:
— Você... você quer fazer um... um ménage à trois? Com o Junior? O dono da pousada? O seu rival?
— Exatamente! — Léo estava radiante, como se tivesse inventado a roda. — Pensa, Mari! É a maior prova de que eu confio em você! E é a maior prova de que eu não sou mais previsível! Vamos incorporar o jazz e o sabão líquido no nosso relacionamento!
Mariana balançava a cabeça freneticamente, tentando processar a proposta insana. Ela havia traído Léo por causa do tédio e ele estava respondendo com um convite para o sexo a três.
— Léo, isso é insano! O Júnior vai achar que enlouquecemos! E o pão de queijo da tia dele? Isso vai ser a fofoca da Brisa Salgada!
— Não, não vai. — Léo pegou o celular de Mariana e enviou uma mensagem de texto, sem hesitar. — Mandei uma mensagem para o "Sabão Líquido". Disse: "Estamos descendo para o Luau. Léo quer te convidar para uma conversa sobre culinária e um after mais íntimo no nosso quarto. Seja imprevisível. Venha."
Mariana assistiu horrorizada enquanto ele enviava a mensagem.
— O que você fez, Léo?!
— Eu dei um upgrade no nosso relacionamento, Mari! Se o meu plano A foi um desastre e o nosso plano B foi um deslize... então o plano C é ser o mais louco e inesperado possível!
Ele deu um tapinha na bunda dela.
— Anda, gata! Vamos nos arrumar para o Luau. A vida é muito curta para ser previsível. E eu quero provar para você que eu posso ser tão jazz quanto o Sabão Líquido.
Léo saiu do quarto, assobiando o tema do jazz dos anos 40, deixando Mariana sozinha, de pé, nua e em completo estado de choque, tentando decidir se seu marido havia enlouquecido ou se ele era, afinal, o parceiro mais interessante que ela já tivera.