A anfitriã, Darlene, encostada no mármore da cozinha gourmet, era a imagem da CEO impecável, a que "chegou lá". Seu apartamento chique era a prova de seu sucesso profissional, mas a vista deslumbrante não conseguia preencher o vazio de sua vida amorosa.
— Chega de monotonia, Dayse! — Silvana, a mais extrovertida e barulhenta, quebrou o silêncio. — É a última reunião do ano! Precisamos de algo estimulante.
Silvana, a alma da festa que escondia a instabilidade financeira sob uma armadura de fachada de sucesso, sempre buscava manter o pique.
Sentada no chão, em jeans rasgados, estava Aline, a viajante. Seu olhar, que havia percorrido o mundo, parecia avaliar a autenticidade da felicidade das amigas. Ela era o espírito livre que questionava o "modelo tradicional" de todas ali.
Ao lado, Sophia, a recém-mãe, sorria hesitante. Exausta pela nova fase, ela lutava para provar que a maternidade não a tinha tornado "chata". Dayse notou uma rápida troca de olhares entre Sophia e Andressa.
Andressa, a mais quieta e observadora, assentiu. Sempre a confidente, ela estava estranhamente calada, guardando um segredo visivelmente pesado.
O jogo "Eu Nunca" começou de forma leve.
— Eu nunca... fingi um orgasmo — arriscou Silvana.
Todas beberam, exceto, surpreendentemente, Darlene.
— Sou eficiente. Se não funciona, eu comunico o problema e procuro a solução — disse Darlene, reforçando seu controle absoluto.
A vez chegou em Dayse, que revelou o desejo coletivo:
— Eu nunca... sonhei em largar tudo e ir para um lugar onde ninguém me conhecesse.
Todas beberam, em um gole coletivo de desejo reprimido.
Então, chegou a vez de Andressa. Após uma hesitação profunda, ela respirou fundo e disparou a frase que serviria como gatilho.
— Eu nunca... namorei uma mulher.
Andressa bebeu um gole longo e sério.
— Peraí, Andressa, você bebeu? — Sophia perguntou, confusa. — Você nunca namorou, mas... por que essa cara?
Andressa encarou o grupo e reformulou, a voz firme e reveladora:
— Eu bebi porque a confissão não é que eu nunca namorei. É que, na verdade, eu queria ter namorado.
Absorvendo o choque das amigas, ela concluiu:
— Eu sou bissexual, meninas. Eu não sou só hétero. Eu sou bi. E não é um "Eu Nunca" de brincadeira. É a minha vida.
A bomba explodiu na sala de estar.
O silêncio era cortante, quebrado por Silvana, cuja voz estridente expressava mais medo da desordem do que preconceito:
— A gente se conhece desde a escola! Como é que você me solta uma bomba dessas, do nada? Por que o segredo?
Para Silvana, a bissexualidade de Andressa era uma quebra na "normalidade" do grupo, abalando sua própria ilusão de vida organizada.
— É fácil pra vocês — defendeu-se Andressa. — Vocês são héteros, casadas... a vida de vocês segue um roteiro que é aceito. A minha demorou para fazer sentido.
Dayse, atingida pela palavra "roteiro", sentiu o golpe. Sua voz soou ressentida:
— Dói saber que você construiu essa parte de você escondida da gente.
No fundo, Dayse sentia uma inveja amarga da coragem de Andressa de assumir uma identidade fora da caixa, enquanto ela se via presa em seu próprio "roteiro" de esposa exausta.
— Eu estava me descobrindo. É diferente — retrucou Andressa.
Darlene interveio com a frieza objetiva de uma CEO:
— Não muda quem você é. O que muda é que você vai ter opções a mais. Bom para você.
O pragmatismo de Darlene irritou Silvana, mas acalmou Dayse.
Andressa, percebendo que sua confissão abria rachaduras nas vidas das amigas, suavizou o tom:
— Eu só quero que vocês saibam que eu sou essa pessoa.
De repente, Sophia, a recém-mãe, soltou uma gargalhada inesperada:
— Você ter guardado isso por todo esse tempo! Tirou a chance de a gente ter dado em cima de você quando éramos solteiras e bêbadas!
O humor quebrou o gelo. Aline e Silvana acompanharam a piada, voltando à flerte e à descontração, aliviando a tensão.
— Eu teria levado você para o Vietnã comigo! — exclamou Aline.
— Eu sempre te achei gata, An, mas pensei: 'ah, é hétero'. Puta sacanagem! — brincou Silvana.
Até Dayse sorriu, aliviada por o grupo não ter desmoronado. A confissão de Andressa, embora aceita, havia aberto a porta perigosa da autenticidade.-----O Desejo Revelado
Com as taças reabastecidas, a bissexualidade de Andressa pairava no ar. Darlene, observando o drama, retomou a condução com a precisão de uma reunião.
— Já que a Andressa quebrou o gelo... Minha vez de perguntar. Quero ver quem é honesta aqui.
Darlene soou como se estivesse revelando uma estratégia de alta gestão.
— Eu nunca... tive vontade de beijar a Andressa.
Darlene bebeu. Ela era a única.
A frase foi um choque ainda maior. Silvana gaguejou. Andressa sentiu o rosto esquentar.
— Não estou dando em cima — corrigiu Darlene, fria. — Estou respondendo ao jogo, que agora é mais real. Eu tive.
Aline foi a primeira a beber:
— Eu bebo. Andressa tem uma boca bonita. E esse ar misterioso... bebi.
Dayse hesitou, pensando no marido e na rotina, mas a liberdade criada pela confissão de Andressa era irresistível.
— Beberia se estivesse solteira e com mais três taças. Mas, sim, beberia.
Sophia, depois de um olhar encorajador de Andressa, bebeu, rindo:
— Ah, qual é! Naquela festa de formatura, Andressa estava com um vestido preto... eu bebi, tá? A maternidade não me deixou cega!
Silvana bebeu, fazendo um brinde irônico:
— Eu bebi porque não sou boba! Saúde, gata.
Andressa estava estranhamente à vontade, o peso do segredo substituído pela atenção.
— É bom saber que eu não fui só a amiga quieta e estranha esse tempo todo — brincou ela, piscando para Darlene.
A CEO devolveu um sorriso profissional, mas melancólico. Sua confissão era uma janela para sua solidão; revelou um desejo íntimo, mas as amigas o transformaram em brincadeira.
Aline, Dayse e Silvana, leves e ousadas, começaram a flertar com Andressa, criando uma nova e excitante intimidade no grupo. A sala se encheu de risadas, mas Darlene, bebendo sozinha em sua cozinha gourmet, observava a festa de sua própria distância.
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