Era Léo. E, surpreendentemente, o modo missão havia sofrido uma atualização inesperada.
— Surpresa, meu amor! — Ele exalava determinação.
Ele ainda vestia o roupão de seda preta apertado, e as 12 velas de baunilha estavam acesas, mas a bandeja de Dorflex e azeitonas estava de lado. A playlist de "Jazz Melancólico dos Anos 40" tocava, mas ele havia mudado o volume e a melodia para algo mais… animado.
— Léo, eu pensei que...
— Shhh. Eu estava quase dormindo, mas aí me lembrei de uma coisa importante. — Léo a puxou para dentro, a eletricidade do momento era palpável. — A Dra. Sheila disse: O corpo fala! E o meu corpo estava gritando: 'Estou cansado de planejar, Léo! Apenas faça!'
Ele jogou o frasco de óleo thai vegano de alho e lavanda em um canto, ignorando o cheiro forte.
— Chega de táticas. Chega de Dorflex. Chega de azeitonas. Eu só quero você.
O entusiasmo de Léo, que geralmente era exaustivo, naquele momento pareceu genuíno e, para surpresa de Mariana, contagiante. A espontaneidade era a chave que faltava.
— Você está tensa, Mariana, mas eu adoro a sua tensão. — Léo a beijou na testa, e então desceu para o pescoço. O cheiro de lavanda e alho parecia menos ofensivo agora, misturado com o sal da pele e o calor das velas.
— Léo... e o pão de queijo... — Ela tentou argumentar, a mente ainda focada em Júnior, mas a boca já não estava mais cooperando.
— O pão de queijo que se exploda! E o Júnior também! Eu sou o homem da sua vida e você é a mulher da minha. E estamos em uma pousada na praia, com jazz dos anos 40!
Ele a levantou nos braços. O roupão apertado de seda cedeu ligeiramente, revelando mais do que o pretendido, o que quebrou a tensão em uma risada.
Mariana riu, mas a risada rapidamente se transformou em um gemido. Léo a colocou na cama e a beijou com uma ferocidade inesperada, o tipo de beijo que ele não dava desde a lua de mel. A massagem planejada foi completamente esquecida em favor de uma paixão urgente e desorganizada.
Os dedos de Léo apalparam o fecho do vestido de Mariana com a destreza desastrada que lhe era peculiar, mas a urgência do desejo superou a falta de técnica. A roupa foi para o chão.
O beijo se intensificou. O jazz melancólico de repente parecia a trilha sonora perfeita para a desordem. Mariana se entregou ao momento, o pensamento de Júnior sendo empurrado para o fundo de sua mente pela força da paixão de Léo. A culpa, o tédio, o planejamento excessivo... tudo se dissolveu na urgência do toque.
A noite foi longa, quente e completamente inesperada. Léo, libertado da neurose do "plano", demonstrou que o fogo ainda estava aceso, embora precisasse de um empurrão acidentalmente espontâneo.
Quando finalmente o quarto se acalmou, o único som era o ronco suave do ar-condicionado (a britadeira havia parado) e a respiração sincronizada do casal.
Mariana acordou horas depois, aninhada no braço de Léo, sentindo-se exausta, satisfeita, e profundamente... complicada.
Ela olhou para o marido adormecido. Ele estava ali, o homem que ela amava, que a tinha feito sentir-se desejada de uma forma que ela havia esquecido ser possível. E foi exatamente esse homem que ela tinha traído.
Ela se levantou para ir ao banheiro e, no chão, ao lado do roupão de seda de Léo, viu a bolsa que continha seu celular. A tela acendeu com uma nova mensagem de texto.
De: Júnior (o nome de contato estava como "SABÃO LIQUIDO")
Meu Deus. O jazz está me matando. Você não me mandou nenhum sinal de fumaça. Seu marido te matou? Mande um emoji de sol se estiver viva.
Mariana sorriu, um sorriso estranho e agridoce. Ela estava mais do que viva. Ela estava cheia de conflito. E ela tinha um luau na praia para enfrentar em algumas horas.
Ela digitou a resposta, ainda sentindo o calor do corpo de Léo em sua pele.
Para: SABÃO LIQUIDO
??
E com um suspiro, ela voltou para a cama.