Aquele sábado, a fazenda sediava um evento privado e extremamente exclusivo: o Leilão Beneficente da Soja, onde os lances eram feitos mais por capricho do que por necessidade.
Léo observava a multidão de ternos caros e joias cintilantes de um mezanino de ébano e vidro, sentindo o familiar tédio da vitória. Tudo estava sob seu controle, até que seus olhos encontraram um ponto de cor viva no mar de cinza e bege.
Ela estava perto de um balcão de ostras, rindo de algo que uma amiga cochichara em seu ouvido. Darlene.
Não era a beleza gritante que chamou sua atenção, mas a sua composição. Ela vestia um longo de seda azul-marinho, clássico, caro, mas sem ostentação. Havia uma serenidade nela, uma calma que parecia blindada contra o frenesi da riqueza ao redor. Léo notou, quase como um desafio, a aliança dourada que parecia pesada em seu dedo anelar.
Ele desceu. Léo não precisava de introduções; as pessoas se afastavam por instinto.
"Senhoras," ele disse, sua voz grave e baixa, parando ao lado das duas mulheres. "Ostras e champanhe. Uma combinação perigosa."
A amiga de Darlene soltou uma risadinha nervosa. Darlene, no entanto, virou-se devagar. Os olhos dela, de um castanho quente e profundo, encontraram os dele, e a serenidade dela vacilou por um milésimo de segundo antes de se recompor.
"Perigosa, por quê, Sr. Carvalho?", ela perguntou, a voz polida, mas com uma leve aspereza no fundo.
"Porque ambos são afrodisíacos, Darlene," ele respondeu, usando o nome dela com uma intimidade que lhe era permitida por ser o anfitrião. Ele tinha descoberto o nome dela em segundos. "E perigosos porque nos fazem querer mais do que deveríamos."
A amiga pigarreou, já procurando uma desculpa para se afastar.
Darlene sorriu de leve, mas era um sorriso defensivo. "Essa é uma filosofia interessante, Léo. Mas eu já tenho o suficiente. Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Darlene, e sou casada." Ela levantou a mão sutilmente, a aliança brilhando sob as luzes. A negação era clara, elegante e final.
Em vez de se afastar, Léo sentiu uma pontada de fascínio puro. Um muro. Ele não estava acostumado a muros.
"Eu sei quem você é, Darlene," ele disse, inclinando-se um pouco, baixando a voz para que apenas ela ouvisse. "Sei que veio de São Paulo. Sei que tem duas filhas, lindas, de dezenove e vinte anos. Eu não me interesso por disponibilidade, Darlene. Eu me interesso por desejo."
O rosto dela perdeu a cor. Ele a tinha desarmado completamente ao demonstrar seu poder e sua investigação.
"Você é... inapropriado," ela sussurrou, controlando a raiva, mas não o medo que agora borbulhava sob sua compostura.
"Eu sou o que preciso ser para ter o que quero," ele corrigiu, o olhar fixo no dela. "E hoje, o que eu quero não está à venda neste leilão."
Ele pegou uma taça de Veuve Clicquot de um garçom que passava e a estendeu para ela. "Há um jantar particular esta noite na Casa do Lago, bem isolada aqui na fazenda. Sem leilão, sem convidados. Apenas o chef e eu. Caso você 'acidentalmente' se perca no caminho de volta para o hotel. Meu motorista estará esperando ao lado do seu carro às dez."
Ele não esperou por uma resposta. Girou nos calcanhares e caminhou de volta para a escada, deixando-a sozinha com a taça de champanhe ainda em sua mão.
A taça era um convite. O motorista seria a fuga. E a atração que pairava no ar era a armadilha.
Darlene ficou parada, o coração batendo rápido no ritmo do risco que acabara de ser apresentado. A taça de champanhe gelado, o calor da pele dela, o peso da aliança. Ela olhou para a saída, onde sabia que seu carro estaria.
Às dez.


