Na mesa de centro, o maço de dinheiro parecia gritar. Três mil reais. O preço de uma trégua temporária.
O ponteiro do relógio marcou quarenta minutos. A maçaneta girou.
Clara prendeu a respiração, o coração batendo na garganta como um tambor de guerra. Ela puxou a faca parcialmente, a lâmina brilhando na penumbra da sala. Se fosse um estranho, ela atacaria. Se fosse um monstro, ela mataria.
A porta se abriu devagar. Uma silhueta familiar entrou.
— Lucas? — A voz de Clara saiu num fio, a tensão se transformando em confusão imediata.
Ela empurrou a faca de volta para baixo da almofada num movimento brusco. O alívio tentou inundá-la, mas parou no meio do caminho. Havia algo errado.
Lucas entrou, mas não fechou a porta distraidamente como sempre fazia. Ele girou a chave na fechadura. Clack. Depois, passou o trinco de segurança com uma lentidão deliberada. Click.
Ele se virou. Não havia o sorriso cansado do estudante de medicina. Não havia a postura curvada de quem carrega livros o dia todo. Lucas estava ereto, os ombros largos preenchendo o espaço, a cabeça erguida. Ele a olhava não como filho, mas como um dono inspecionando sua propriedade.
— Oi, mãe — disse ele. A voz era grave, desprovida de qualquer afeto.
Ele caminhou até o centro da sala, ignorando totalmente a presença dela, e parou diante da mesa de centro. Seus olhos desceram para o maço de notas espalhado ali. Ele pegou um bolo de notas, pesou na mão e soltou uma risada seca, cruel.
— Três mil reais — zombou ele, jogando o dinheiro de volta na mesa como se fosse lixo. — Eu disse quinze, Clara. Você é surda ou só incompetente?
Clara sentiu o mundo girar e parar bruscamente. O ar fugiu de seus pulmões. — O quê? — sussurrou ela, incapaz de processar. — Lucas... do que você está falando?
Lucas tirou o celular do bolso. O mesmo modelo que ela pagara em doze prestações. Ele virou a tela para ela. Lá estava o aplicativo de chat aberto. A conversa com "Vera". A última mensagem enviada por ela: "Estou indo para lá agora."
— A segurança do seu notebook é uma piada, mãe — disse ele, caminhando em direção a ela com passos lentos e predatórios. — Foi patético de fácil. Uma webcam aberta, um software de acesso remoto... e pronto. Cinema em casa.
Clara recuou contra o encosto do sofá, tremendo violentamente. A faca estava a centímetros da sua mão, mas ela não conseguia se mexer. Aquele era o bebê que ela amamentara. O menino que ela ensinara a andar.
— Você... — As lágrimas brotaram, quentes e dolorosas. — Você me gravou? Você viu?
Lucas parou na frente dela. Ele se inclinou, apoiando as mãos nos braços do sofá, encurralando-a. O cheiro dele não era mais de criança; era almíscar e dominância.
— Eu vi tudo — sussurrou ele, os olhos brilhando com um sadismo febril. — Cada segundo. Vi você gemer para aquele velho gordo, o André. Vi você se oferecer para aquele idiota do Gabriel. Mas o melhor... o melhor foi o Matheus.
Ele esticou a mão e tocou o rosto de Clara. O toque foi gélido. Clara estremeceu de repulsa, mas ele sorriu, gostando do medo dela.
— O ângulo da câmera ficou perfeito naquele dia — continuou ele, saboreando as palavras. — Deu para ver a sua cara de prazer. Deu para ver como você se entregou para um moleque de dezenove anos. Um moleque que não é nada. Que não tem nada.
Clara sentiu uma náusea violenta. — Por que, Lucas? — ela gritou, a voz quebrando. — Eu fiz isso por você! Para pagar a sua faculdade! Eu me destruí para te dar um futuro! Por que você faria isso comigo? Por que me humilhar assim?
Lucas recuou bruscamente, a máscara de frieza caindo para revelar uma fúria insana, vermelha e pulsante.
— Pela faculdade? — ele rugiu, chutando a mesa de centro com violência. O dinheiro voou pela sala. — Pare de mentir! Você gostou! Eu vi você gostar!
Ele agarrou os próprios cabelos, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado, e depois se voltou para ela, os olhos arregalados, injetados de ódio e desejo reprimido.
— Você abriu as pernas para estranhos! Para velhos! E depois... para um garoto da minha idade! Um idiota qualquer que entrou na minha casa, deitou na minha cama! — Ele apontou o dedo para o rosto dela, tremendo de raiva. — Você deu tudo para eles! O carinho, o toque, o prazer!
Clara olhava para ele, aterrorizada, começando a entender a monstruosidade do que estava diante dela. Não era sobre dinheiro. Nunca foi.
— Por que...? — ela perguntou novamente, num sussurro horrorizado.
Lucas parou. Ele se aproximou dela lentamente, até que seus rostos estivessem quase se tocando. Ele segurou o queixo dela com força, obrigando-a a olhar nos olhos dele, onde uma escuridão abissal residia.
— PORQUE NUNCA EU!!! — gritou ele, cuspindo as palavras na cara dela.
O grito ecoou pelo apartamento, carregado de anos de uma obsessão doentia, de um ciúme incestuoso que apodrecia em silêncio enquanto ela achava que criava um filho perfeito.
— Por que o Matheus? — sibilou ele, baixinho agora, apertando o rosto dela até doer. — Por que ele pode ter você e eu sou só o "filhinho"? Eu sou homem, Clara. Eu vi você todas as noites. E você escolheu dar isso para todo mundo... menos para mim.
Ele a soltou com nojo, como se ela o tivesse queimado.
— Então agora você paga — disse ele, recuperando a postura dominante, ajeitando a jaqueta. — Se eu não posso te ter, eu vou te cobrar. Você vai trabalhar, sim. Vai foder quem for preciso. E vai me dar cada centavo. Porque agora você é minha.
Lucas foi até a porta do seu quarto, parou e olhou para trás, com um sorriso terrível. — E não esqueça: eu ainda tenho as cópias. Boa noite, mamãe.
Ele bateu a porta do quarto. Clara ficou sozinha na sala devastada, o dinheiro espalhado no chão como folhas secas, a faca inútil sob a almofada. O horror não estava lá fora. O horror dormia no quarto ao lado.