Três dias haviam se passado desde a primeira visita de Matheus. Três dias em que Clara não andou, mas flutuou pela casa. A audácia de ter transado com um garoto de 19 anos na cama onde fora uma esposa fiel por duas décadas não lhe trouxe culpa. Trouxe uma sensação de invencibilidade. Ela olhava para as paredes do apartamento e não via mais uma prisão; via seu território de caça.
Quando o telefone tocou na tarde de terça-feira, o nome "Matheus" na tela fez o pulso dela acelerar. Não era medo. Era expectativa.
— Alô? — atendeu ela, baixando o volume da TV.
— Não consigo parar de pensar em você, Vera. — A voz dele era urgente, carente, com aquela impaciência típica da juventude. — Preciso te ver de novo. Hoje.
Clara olhou para o relógio. Eram 14h00. Lucas tinha saído cedo para um estágio observacional no hospital e, segundo o cronograma pregado na geladeira, só voltaria às 19h00. Cinco horas de liberdade. A casa estava vazia. O risco parecia nulo.
— Venha — disse ela, sentindo o poder daquela palavra. — O portão está liberado.
Desta vez, Clara não se preparou com tanta cerimônia. Não houve a montagem teatral de "Vera". Ela o recebeu vestindo um roupão de seda azul-marinho, o cabelo solto e um sorriso de quem sabe que está no comando.
Quando Matheus entrou, ele parecia diferente. Mais dono de si. Ele não hesitou no corredor. Ele caminhou até ela e a beijou com uma possessividade que a surpreendeu. Ele já não era o explorador tímido; sentia-se em casa.
— Você está cheirosa — murmurou ele, enterrando o rosto no pescoço dela enquanto as mãos apertavam sua cintura com força.
Eles foram para o quarto. A luz do sol da tarde entrava pelas frestas da persiana, desenhando listras douradas sobre a cama desfeita. O sexo foi rápido, quase violento na sua intensidade. Matheus parecia querer provar algo, marcar território, deixar sua assinatura na pele dela.
Depois, enquanto recuperavam o fôlego, o clima mudou sutilmente. Matheus não se vestiu e foi embora como da primeira vez. Ele se espreguiçou na cama de Clara, com as mãos atrás da cabeça, olhando ao redor com uma curiosidade invasiva.
— Seu filho... — começou ele, apontando com o queixo para uma foto de Lucas na cômoda que Clara esquecera de virar. — Ele estuda o quê?
O sangue de Clara gelou. A regra número um era o silêncio sobre a vida real. — Isso não é da sua conta, Matheus. O tempo acabou.
Ele riu, um som debochado que ela não tinha ouvido antes. — Qual é, Vera? Relaxa. Só achei ele parecido comigo. A gente deve ter a mesma idade. É estranho, né? Você com alguém da idade dele.
Clara sentou-se na cama, puxando o lençol para cobrir o corpo nu. A excitação evaporou, dando lugar a um alerta vermelho. Aquele garoto não era apenas um corpo; era uma mente, e uma mente perigosa que estava começando a conectar pontos.
— Vista-se — ordenou ela, a voz fria. — Agora.
Matheus bufou, sentando-se devagar, testando a paciência dela. — Você é muito mandona. Gosto diss...
O som foi inconfundível. A chave girando na fechadura da porta da sala.
Clack. Clack.
O coração de Clara parou. O sangue drenou de seu rosto tão rápido que ela sentiu tontura. Ela olhou para o relógio digital na cabeceira: 15h30.
— Mãe? Cheguei mais cedo! O médico teve uma emergência e dispensou a gente! — A voz de Lucas ecoou pelo corredor. Clara, alegre e inocente.
O pânico que atingiu Clara foi físico. Uma náusea violenta. Matheus estava nu na cama dela. As roupas dele estavam espalhadas pelo chão. A porta do quarto estava apenas encostada.
Matheus arregalou os olhos, entendendo a situação. O sorriso arrogante sumiu, substituído pelo medo de um adolescente prestes a ser pego fazendo algo errado.
— Merda — sussurrou ele.
Clara saltou da cama. O instinto de sobrevivência assumiu o controle. — Pega as roupas. Agora! — sibilou ela, num sussurro desesperado, empurrando as roupas dele contra o peito nu do rapaz.
— Mãe? Tá em casa? — Os passos de Lucas estavam no corredor. Ele estava a cinco metros.
Clara empurrou Matheus com força bruta em direção ao banheiro da suíte. — Entra e não faz um único barulho se quiser sair daqui vivo — ameaçou ela, com um olhar tão aterrorizante que Matheus obedeceu sem questionar, tropeçando para dentro do banheiro e fechando a porta silenciosamente.
No segundo seguinte, a porta do quarto se abriu.
Lucas parou no batente. Clara estava de pé, no meio do quarto, apertando o roupão contra o corpo com as mãos trêmulas. O quarto cheirava a sexo, suor e perfume masculino.
— Oi, filho! — A voz dela saiu aguda demais, estridente.
Lucas franziu a testa, estranhando a tensão no ar e a escuridão do quarto em plena tarde. Ele deu um passo para dentro. — Tudo bem? Você parece assustada. E... tá calor aqui, né? Por que tá tudo fechado?
Ele caminhou em direção à janela para abrir a persiana. Se ele abrisse, a luz iluminaria o caos: o preservativo usado que Clara, num relance de horror, percebeu que ainda estava no chão, ao lado da cama, fora de seu alcance.
— Não! — gritou Clara.
Lucas parou, assustado com o grito. — Mãe? O que foi?
Clara correu até ele, segurando seus ombros e virando-o de costas para o quarto, empurrando-o suavemente para o corredor. — Enxaqueca. Estou com uma enxaqueca terrível, filho. A luz me machuca. Eu estava tentando dormir.
Lucas a olhou com preocupação, mas também com uma ponta de desconfiança. Ele fungou o ar. — Que cheiro é esse? Parece... perfume de homem.
O mundo de Clara girou. O perfume de Matheus. Forte. Jovem. Barato. — É... é incenso. — A mentira foi ridícula, mas foi a única coisa que veio. — Comprei um incenso novo para ver se passava a dor de cabeça. Musk. É horrível, vou jogar fora.
Lucas hesitou. Ele olhou para a mãe, depois para o quarto escuro atrás dela. Por um segundo aterrorizante, Clara achou que ele ia insistir, entrar e acender a luz. Se ele fizesse isso, veria o "lixo" no chão. Se ele precisasse usar o banheiro da suíte...
— Tá bom... — disse Lucas, devagar. — Vou para o meu quarto estudar. Precisa de um remédio?
— Não! Só preciso de silêncio. Por favor, feche a porta.
Lucas assentiu e se virou. Clara fechou a porta do quarto e girou a chave, as pernas finalmente cedendo. Ela escorregou até o chão, encostando as costas na madeira, o coração batendo tão forte que doía as costelas.
Ela olhou para a camisinha no chão. Olhou para a porta do banheiro onde Matheus estava escondido.
Ela tinha quase destruído a vida do filho. Por uma hora de prazer. Por arrogância.
A porta do banheiro se abriu uma fresta. Matheus espiou, o rosto pálido, segurando as roupas emboladas. — Ele já foi? — sussurrou o garoto.
Clara se levantou. A raiva que sentiu naquele momento foi avassaladora. Raiva dele. Raiva de si mesma. — Veste essa roupa — sussurrou ela, com ódio. — Eu vou ligar o chuveiro. Você vai pular a janela do banheiro. Agora.
— Mas é o segundo andar, Vera! Eu posso quebrar a perna!
Clara avançou sobre ele, agarrando-o pelo braço nu com as unhas cravadas na pele. — Eu não me importo. Se meu filho te ver aqui, eu te mato. Pula.
Enquanto empurrava o garoto em direção à janela basculante, Clara percebeu que a brincadeira tinha acabado. O perigo não era uma teoria. Ele estava ali, respirando no seu banheiro, enquanto seu filho estudava na porta ao lado.