Anabelle entrou silenciosamente, trazendo a travessa de carne assada. O cheiro de alecrim e vinho preencheu o ar, mas o estômago dela estava embrulhado em um nó frio.
Ela começou servindo Cláudia, depois os filhos. Rogério foi o último. Era o ritual. O melhor pedaço, o último a ser servido, a atenção total.
Ao se aproximar da cabeceira, Anabelle sentiu a mudança na atmosfera. Rogério parou de comer. Ele não se virou para ela, manteve os olhos fixos no quadro na parede oposta, mas pousou os talheres na mesa com um clique deliberado.
— O ponto da carne, Anabelle — disse Rogério. A voz era grave, profunda, vibrando no peito dele de uma forma que Anabelle sentiu na sola dos pés. — Eu fui claro sobre como gosto.
— Sim, Sr. Rogério. Mal passada — ela respondeu, a voz tremendo levemente.
Ela se inclinou para servir. O uniforme preto esticou-se sobre suas costas. Nesse momento, invisível para o resto da mesa, a mão de Rogério desceu do tampo da mesa para o colo dele... e então deslizou para o lado, encontrando a coxa de Anabelle.
Ela travou. O garfo de servir pairou no ar.
A mão dele era grande, pesada e quente. Ele não acariciou; ele apertou. Um aperto firme, possessivo, logo acima do joelho, onde a saia terminava e a pele começava. Seus dedos cravaram na carne macia dela com uma força que estava no limiar entre a dor e o prazer.
— Exatamente — murmurou ele, olhando finalmente para ela. Mas não olhou para o rosto. Olhou para o decote dela, depois subiu para os lábios entreabertos pelo susto. — Sangrando.
O duplo sentido fez o rosto de Anabelle queimar. O coração dela batia tão forte que ela temia que o tecido do avental estivesse vibrando.
— Rogério, querido? Está tudo bem com a carne? — Cláudia perguntou, alheia, do outro lado da mesa.
A mão de Rogério subiu alguns centímetros na coxa de Anabelle, o polegar roçando perigosamente perto da virilha dela, escondido pela toalha de linho longa. Anabelle teve que morder o lábio inferior para não soltar um gemido sufocado ali mesmo. O perigo de ser descoberta pela esposa e pelos filhos, enquanto o patriarca a invadia com aquela mão autoritária, enviou uma descarga elétrica por sua espinha.
— Está perfeita, Cláudia — respondeu Rogério, sem soltar a perna de Anabelle, apertando-a ainda mais forte, marcando a pele dela. Seus olhos escuros fuzilavam a empregada, desafiando-a a se mover, a derrubar a travessa, a fazer qualquer coisa que não fosse submeter-se àquele toque. — A Anabelle sabe exatamente o que me agrada. Não sabe?
Anabelle sentiu as pernas fraquejarem. A umidade repentina entre suas coxas era uma traição vergonhosa do próprio corpo diante daquela autoridade avassaladora.
— Sim, senhor... — ela sussurrou, servindo a carne com a mão trêmula, enquanto a mão dele reivindicava a posse sob a proteção da mesa.
Ele a soltou abruptamente, voltando a pegar a taça de vinho como se nada tivesse acontecido. A pele dela ardia onde ele a tocara, uma marca fantasma que queimava.
— Pode se retirar — ordenou ele, frio, dispensando-a como um objeto usado.
Anabelle recuou para a cozinha, com a respiração curta, sentindo o olhar de Rogério queimando suas costas a cada passo.

