O sol era um choque. Não o calor ralo e filtrado pelas grades de ferro enferrujado, mas uma luz inteira, plena e invasiva. Jonas piscou, os olhos protegidos de uma claridade que ele não confrontava há dez anos. O portão de aço da penitenciária se fechou com um estrondo final, mas a sensação do cerceamento demoraria a se dissipar de sua medula. Ele vestia a calça cáqui e a camisa social de segunda mão, roupas que cheiravam a desuso e caridade. O hálito da rua foi a primeira coisa que o atingiu de verdade. Não era o odor constante de desinfetante e esgoto do confinamento. Era o cheiro da cidade: exaustão de motor diesel, o vestígio distante de fritura de rua e, o que realmente o paralisou, o perfume rico e adocicado, provavelmente de baunilha e jasmim, de uma mulher que passou apressadamente ao seu lado. Uma fragrância feminina, ausente em sua vida por uma década. Ele inspirou fundo, puxando o ar até os pulmões doerem. Era a primeira inalação sem a tensão de ser reprimido. A vontade veio como uma pontada física no baixo ventre, rápida e visceral. Não era fome por alimento, mas por intimidade. Por contato. Por espontaneidade. Dez anos de corpos vedados, de desejo reprimido que agora emergia como uma febre inadiável. Ele lembrava dos despertares suados na cela fria. Agora, a realidade estava quente. Seus pés, acostumados ao cimento uniforme, pisaram no asfalto quente. O barulho era quase agressivo: a buzina impaciente de um táxi, vozes em conversas frenéticas. Tudo parecia acelerado. Ele era um homem em ritmo de detenção num mundo que corria. Jonas deu o primeiro passo na calçada. Seu corpo clamava por um alívio urgente, uma bebida gelada e, acima de tudo, um corpo que não fosse vigiado ou proibido. Um corpo que fosse dele, sem restrições. Ele esticou a mão em um gesto vazio. A liberdade era isso: a ausência da cela, mas também a presença do nada entre ele e o seu anseio. Ele precisava preencher esse vazio imediatamente. Seus olhos fixaram-se na placa do ponto de ônibus. O centro. A promessa de multidão. A promessa de vida. E, ele esperava, a promessa de algo a mais.
Faca o seu login para poder votar neste conto.
Faca o seu login para poder recomendar esse conto para seus amigos.
Faca o seu login para adicionar esse conto como seu favorito.
Denunciar esse conto
Utilize o formulario abaixo para DENUNCIAR ao administrador do contoseroticos.com se esse conto contem conteúdo ilegal.
Importante:Seus dados não serão fornecidos para o autor do conto denunciado.