Ele estava absorvido em seus pensamentos quando ouviu a voz suave de Maria atrás dele.
“Posso te fazer companhia, Paulo?”
Ele se virou, a surpresa em seu rosto logo substituída por uma aceitação cansada. Maria estava vestida com um suéter folgado e calças de moletom, parecendo a imagem da inocência e da preocupação.
“Claro, Maria. Está tarde. Por que está acordada?”
Ela se aproximou, mas manteve uma distância respeitosa, o que, paradoxalmente, o fez relaxar.
“Eu… não consigo dormir. Tenho estado preocupada com a mamãe.”
Paulo franziu a testa, apagando o charuto no cinzeiro. “Preocupada com Joana? Ela está bem.”
“Não sei, Paulo. Ela parece… tão tensa. Desde ontem, no jantar. Ela sorri, mas o sorriso não chega nos olhos dela. Parece que ela está guardando algo. Sei que a vida dela não tem sido fácil, e sei que a segurança que você dá a ela é a única coisa que a mantém de pé.”
A menção à segurança de Joana o atingiu em cheio. Maria estava tocando diretamente na sua culpa. Ela estava sugerindo que a distância emocional de Joana era, de alguma forma, falha dele. Ele era o provedor, o pilar, e ela estava triste?
“Eu tenho tentado, Maria,” ele murmurou, sentindo-se genuinamente desarmado. “Os negócios estão exigindo muito…”
Maria deu mais um passo, desta vez fechando a distância. Seus olhos escuros eram profundos e cheios de uma empatia forçada, que ele confundiu com lealdade.
“Você é o marido mais forte e mais bondoso que eu conheço. Mas você está tenso. Tão tenso, que a mamãe deve sentir isso. Você precisa se acalmar para poder ser o porto seguro dela.”
Com um movimento ousado e calculado, Maria estendeu as mãos e as pousou nos ombros de Paulo. Seus dedos começaram a massagear o músculo tenso do trapézio dele.
Paulo congelou. Era um toque íntimo, não familiar. A roupa de Maria era macia, mas seus dedos eram surpreendentemente firmes e quentes.
“Maria, eu… não precisa fazer isso,” ele disse, a voz rouca, tentando se afastar.
“Preciso sim,” ela sussurrou, movendo-se ligeiramente atrás dele. “É o mínimo que posso fazer pelo meu padrasto. Você cuida de nós. Deixe-me cuidar de você por um minuto.”
Ela aumentou a pressão da massagem. O toque dela era perturbadoramente bom. Paulo fechou os olhos por um segundo, sentindo o alívio físico, mas o perigo moral o fez abrir os olhos abruptamente.
Maria continuou, agora se inclinando para que seu rosto estivesse próximo à nuca dele. A proximidade era invasiva.
“Você é um grande homem, Paulo. De verdade. E eu te admiro por isso. Eu sei que você vai consertar as coisas com a mamãe. Eu confio em você.”
A respiração dela em seu pescoço, o cheiro de baunilha de seus cabelos jovens, o corpo dela pressionado contra suas costas – a combinação de admiração, vulnerabilidade e toque era a arma perfeita. Ele não sentia mais a tensão do estresse; sentia a tensão da excitação.
Ele virou a cabeça rapidamente, e o movimento fez com que seus rostos ficassem a centímetros de distância.
“Maria, já chega,” ele disse, a voz baixa, quase uma súplica, não uma ordem. Seu olhar caiu para a boca dela, e a memória da noite anterior, da submissão de Joana, foi substituída pelo desejo ardente e proibido pela juventude e a admiração sincera (ou assim ele acreditava) de Maria.
Maria sorriu, um sorriso pequeno, vitorioso, mas ligeiramente triste.
“Eu só queria ajudar. Desculpe.” Ela retirou as mãos lentamente, mas antes de se afastar totalmente, ela deslizou a ponta dos dedos por sua nuca e o ombro, um toque final que o fez prender a respiração.
Ela recuou três passos, reassumindo a postura da enteada inocente e preocupada.
“Você está melhor, Paulo? Por favor, descanse. Você merece.”
Ele apenas assentiu, incapaz de falar. Maria deu-lhe um último olhar de "lealdade" e se afastou, voltando para os corredores silenciosos da mansão.
Paulo permaneceu na varanda, o corpo tremendo levemente. Ele havia sido tocado, confortado e manipulado. Ele sentiu-se um tolo por ceder à massagem, mas o desejo que o havia atingido era inegável. Ele não podia culpar Maria. Ela era apenas uma jovem preocupada com a mãe.
A culpa recaiu sobre Joana. Maria está certa. Joana está infeliz, e é minha culpa.
Com a mente turva e o corpo exigindo mais do que a moralidade permitia, Paulo se convenceu de que Maria era a única pessoa na casa que realmente o entendia. Ele havia rejeitado o toque, mas aceitado a cumplicidade emocional. O jogo de Maria estava em andamento.