"Eu sabia que encontraria outra coruja por aqui."
Darlene se virou, o coração dando um salto. Era Ana Maria. Diferente da elegância reservada do salão de jogos, ali, à luz da lua, Ana Maria parecia mais relaxada, vestindo um robe de seda. Em uma mão ela segurava uma garrafa de champanhe e, na outra, duas taças finas.
"Ana Maria! Que surpresa", gaguejou Darlene.
"Surpresa agradável, espero", disse Ana Maria, aproximando-se. Seus olhos castanhos, que antes pareciam apenas amigáveis, brilhavam com uma intensidade que Darlene não tinha notado. "Meu marido, João, tem o sono pesado. E esta garrafa estava me olhando com uma cara de 'beba-me agora'. Mas beber sozinha é tão... sem graça. Aceita me fazer companhia?"
A oferta era tentadora. Darlene sorriu, sentindo uma curiosidade forte sobre a mulher à sua frente. "Eu adoraria."
Ana Maria sentou-se em uma das espreguiçadeiras, abrindo a garrafa com um "pop" abafado que soou íntimo. Ela serviu as duas taças.
"Eu vi você no bar, no início da noite", confessou Ana Maria, entregando a taça a Darlene, seus dedos roçando os dela demoradamente. "Você estava tão concentrada em si mesma. Tão... bonita em sua solidão."
O elogio pegou Darlene desprevenida. Não era o tipo de lisonja que ela esperava de outra mãe.
"Ah, eu estava só... observando", respondeu Darlene, sentindo o calor retornar ao seu pescoço.
Ana Maria ergueu a taça, seus olhos fixos nos de Darlene. "Um brinde. Aos nossos filhos, que estão nos dando o presente do tempo livre." Ela fez uma pausa, o sorriso se alargando. "E a nós. Que estamos descobrindo o que fazer com ele."
Elas beberam, o champanhe gelado contrastando com o calor daquele momento. A conversa fluiu com uma cumplicidade intensa. Não era apenas sobre filhos; era sobre a vida que elas adiaram, sobre os sonhos esquecidos e as expectativas que quebraram.
"Você tem um brilho nos olhos que a maioria das mulheres da nossa idade perde", disse Ana Maria, inclinando-se um pouco mais perto. "É como se você estivesse prestes a fazer uma coisa que nunca fez antes."
Darlene riu, nervosa, mas gostando da atenção. "E você, Ana Maria, parece o tipo de pessoa que me faria fazer essa coisa", ela respondeu, entrando sutilmente no jogo.
A implicação era clara, e a tensão entre elas se solidificou. Não havia mais a necessidade de falar sobre João; ele era uma figura distante. Ali, à beira da piscina, na calada da noite, existiam apenas duas mulheres.
Quando a garrafa acabou, o céu já começava a clarear. A sensação de liberdade que Darlene sentira antes não era mais sobre seu futuro sozinha, mas sobre as novas possibilidades que se abriram em um único olhar.
"Acho que devo voltar antes que João sinta minha falta", disse Ana Maria, com um suspiro teatral, mas os olhos ainda fixos nos de Darlene. "Até amanhã na piscina, Darlene. Prometo que não conto a ninguém sobre nossa... aventura de meia-noite."
"Até amanhã, Ana Maria", Darlene respondeu, a voz rouca.
Elas se despediram, e enquanto Darlene caminhava de volta para o quarto, ela não estava pensando em Rafaela ou Eduardo. Estava pensando no sabor do champanhe, na intensidade do olhar de Ana Maria e na promessa de um dia seguinte que, agora, parecia muito mais complexo e eletrizante do que um simples mergulho na piscina.