"Mãe, meu quarto tem vista pra piscina! É irado!", a voz de Eduardo, agora com 18 anos e um fiapo de barba no queixo, ecoou pelo corredor. A energia dele era contagiante, a pura alegria de quem vê o mundo como uma porta aberta.
"Cuidado pra não cair da varanda, então", retrucou Rafaela, já com seu ar de irmã mais velha e gerente de crise. Aos 20, ela tinha a seriedade de quem precisou amadurecer rápido demais durante o divórcio dos pais, assumindo o papel de copiloto emocional da família.
Depois de instalá-los e prometer que se encontrariam para o jantar, Darlene sentiu uma necessidade quase física de ter um momento para si. Um momento que não fosse de "mãe".
O bar do hotel era seu refúgio. Iluminação baixa, um balcão de madeira escura e o som suave de um jazz instrumental. Ela se sentou em uma banqueta no canto, um observatório silencioso para o balé social da noite. Pediu uma taça de Malbec – um vinho intenso, algo que Paulo sempre chamaria de "dramático demais". Era seu pequeno ato de rebelião.
Dali, ela observava. Um casal jovem, em seus vinte e poucos anos, sentados próximos. A forma como a mão dele encontrava a dela sobre a mesa, o jeito que riam baixo, cúmplices de um segredo só deles. Darlene lembrou-se vagamente de como era sentir aquilo, uma conexão tão nova que parecia elétrica. Não sentia inveja, apenas uma nostalgia suave, como folhear um álbum de fotos antigo.
Mais ao fundo, três homens de terno discutiam negócios em voz baixa, os rostos iluminados pela tela de um laptop. Preocupações, metas, números. Um mundo tão distante do seu, cujo universo nos últimos anos girara em torno de notas, amizades de escola e o cardápio do jantar.
O barman, um homem de meia-idade com movimentos precisos e econômicos, polia um copo com uma concentração quase meditativa. Ele era o centro daquele pequeno universo, o confidente silencioso de dezenas de histórias que começavam e terminavam em seu balcão a cada noite. Por um instante, Darlene sentiu-se como ele: uma espectadora. Seus filhos, agora adultos, estavam escrevendo os próprios roteiros. E ela? Qual era a sua próxima cena? A pergunta flutuou em sua mente, sem resposta.
O vibrar do celular sobre a madeira do balcão a tirou de seu devaneio. A mensagem de Rafaela piscou na tela, um farol a chamando de volta para o porto seguro que foi sua principal identidade nos últimos vinte anos.
"Mãe, cadê vc? A gente tá com fome!"
Darlene sorriu. O futuro era uma névoa, mas o presente era claro e tinha fome. Ela tomou o último gole do vinho, sentindo o sabor forte e complexo na boca. Deixou o dinheiro sobre o balcão, e se levantou. O seu momento de observação silenciosa havia terminado. Era hora de voltar a ser mãe.