A notícia de que as mães haviam saído para fazer "compras" na cidade solidificou a sensação de liberdade, mas em planos que estavam prestes a se complicar por conta própria.
Rafaela, sentindo-se a responsável oficial, pegou a toalha e se secou apressadamente. "Ótimo. Eu vou me arrumar. Eu preciso ficar umas duas horas fora, no máximo."
Ela deu um olhar severo para o irmão. "Eduardo, nada de bagunça. E Saráh, você é a voz da razão, certo?"
Saráh apenas sorriu, os olhos brilhando. "Sou ótima com razões, Rafaela. E péssima com regras."
Eduardo se jogou no chão da piscina, soltando uma bolha de ar. "Qual é, Rafa? Relaxe! É meu aniversário! Eu e Saráh vamos ficar bem aqui na piscina. Quando você voltar, nós te encontramos no lobby."
"Não. Eu não quero vocês por aí sozinhos na piscina", disse Rafaela, decidida a encerrar a discussão. "Vou passar na suíte. Vocês dois me esperam lá, e se quiserem fazer algo, façam lá. Mas fiquem no quarto. Juro que se eu voltar e encontrar alguma bagunça, ou se você estiver bêbado, você vai passar os 18 anos na cadeia, Eduardo."
Rafaela recolheu apressadamente a bolsa da mãe – o celular dela incluído – e se dirigiu ao elevador. Seu plano era ir ao quarto, pegar o celular da mãe e checar as mensagens, desconfiada daquela súbita "viagem de compras".
Na suíte, enquanto procurava o carregador na bolsa de Darlene, a mão de Rafaela tocou em algo estranho, dobrado no fundo: um pequeno bilhete de papel fino.
Ela o desdobrou. A caligrafia não era de Darlene.
O bilhete dizia, em letras elegantes:
Rafaela, Quero te pedir desculpas pela minha pressa ontem à noite. Sei que é aniversário do seu irmão, mas você é muito especial. Se quiser me encontrar em particular, estarei na Sala de Leitura, no primeiro andar, em dez minutos. É o único lugar do hotel onde ninguém presta atenção.
— [Nome omitido]
O bilhete não tinha assinatura, mas a referência à "pressa ontem à noite" e ao "aniversário do seu irmão" indicava claramente que era do homem que a mãe havia esnobado no restaurante, e com quem Rafaela havia trocado olhares furtivos. O bilhete deveria ter sido discretamente colocado na bolsa de Darlene no bar ou durante o jantar, mas acabou encontrando o caminho para a filha.
Rafaela paralisou. Dez minutos. O dilema era imediato. O homem estava esperando. Seu senso de responsabilidade para com Eduardo e Saráh gritava para que ela os vigiasse. Mas a curiosidade – e o flerte que ela tanto reprimia – falava mais alto.
O segredo de Darlene e Ana Maria estava no andar de cima. O de Eduardo e Saráh estava na sala ao lado. E o segredo de Rafaela, agora, a esperava na Sala de Leitura, no primeiro andar.
Ela olhou para o irmão e Saráh, que entravam no quarto.
"Eu já volto! Esqueci uma coisa no lobby!", mentiu Rafaela, fechando a porta rapidamente e correndo em direção às escadas.
O fim de semana de descobertas e apropriação de liberdades estava apenas começando.