Ela estava prestes a virar o corredor em direção à Sala de Leitura, no primeiro andar, quando o celular que estava em sua bolsa (o de Darlene) vibrou. Não era uma ligação, mas uma mensagem no aplicativo de chat. Não era de Darlene.
Rafaela parou, confusa, e pegou o celular da mãe. A mensagem vinha de um número desconhecido, mas era claramente endereçada a ela:
Rafaela, Não podemos nos ver no hotel. O risco é muito alto aqui. Me encontre na Pousada Brisa do Mar, perto do Mini Golf. Quarto 24. Estarei te esperando lá. Temos pouquíssimo tempo. Não demore.
O tom era urgente e de comando, algo que acendeu o senso de perigo em Rafaela. Ela hesitou por um segundo. Sair do hotel era muito mais arriscado do que um encontro discreto na Sala de Leitura. Mas a ideia de um segredo tão grande, a poucas quadras do complexo familiar, era irresistível. A rebeldia falava mais alto que a cautela.
Rafaela seguiu para a porta lateral do hotel e pegou um táxi.
Dez minutos depois, ela estava batendo na porta do Quarto 24 da Pousada Brisa do Mar. O local era mais modesto, e o silêncio contrastava com o luxo e o burburinho do hotel-fazenda.
A porta se abriu imediatamente.
Rafaela paralisou. O homem que a atendeu usava apenas um roupão de banho branco, folgado e aberto. Ele estava descalço, com o queixo por fazer, e o roupão não disfarçava a ausência de roupa por baixo.
Ele se virou, e o sorriso amigável que ele usava na piscina havia desaparecido, substituído por uma expressão complexa.
Era João, o pai de Saráh.
O ar no quarto se tornou rarefeito. Rafaela cambaleou para trás, os olhos arregalados de horror e incredulidade. O anúncio de sua "emergência na empresa" era a desculpa perfeita para a sua própria fuga e, aparentemente, para mais do que isso.
A surpresa de João ao ver Rafaela era tão grande quanto a dela. Ele fez um movimento instintivo para fechar o roupão, mas a dignidade já estava perdida.
"Rafaela?! O que diabos você está fazendo aqui? Onde está Darlene?"
A pergunta de João pairou no ar, carregada de uma hipocrisia que feria. O Quarto 24 da pousada testemunhava o início de um vendaval, um segredo que não era dela, mas que acabava de desmoronar sobre ela.