O apartamento no terceiro andar era espaçoso, um luxo que Eduardo achava desnecessário, mas que agora, vazio, parecia o cenário perfeito para a liberdade.
"Uau. Isso é melhor do que a piscina", disse Saráh, entrando e fechando a porta com o pé. Ela estava visivelmente animada. "Olha essa vista! Seu pai deve ser muito rico."
"Ele gosta de mostrar isso", respondeu Eduardo, jogando-se no sofá. "E sim, Saráh, ele é. É por isso que ele tem tempo para supervisionar meus aniversários de 18 anos."
A conversa não tinha mais o tom leve das brincadeiras na água. Eles estavam sós, e a atração que vinha se construindo desde a noite anterior era o único assunto real.
"Então, o que a gente faz por duas horas?", perguntou Saráh, cruzando os braços e inclinando a cabeça. O sorriso dela era um convite silencioso.
Eduardo sentiu o rosto esquentar. Ele era um jovem confiante, mas a velocidade com que tudo estava acontecendo, e o fato de Saráh ser a filha da mulher que agora era a cúmplice da sua mãe, tornava a situação ainda mais vertiginosa.
"Eu... a gente podia colocar música. E você me conta mais sobre a faculdade de Arquitetura", disse Eduardo, tentando desesperadamente retomar o controle e o assunto para um terreno seguro.
Saráh riu, uma risada doce e zombeteira. Ela caminhou até o aparelho de som e ligou-o, deixando um jazz suave invadir o ambiente. Ela, então, foi até o minibar.
"Eu acho que a gente não pode contar com as regras chatas da sua irmã para se divertir, Eduardo. Ela acha que somos bebês", disse Saráh, tirando uma garrafa de vinho branco e duas taças. "Seus pais deixam você beber?"
"Tecnicamente, eu sou adulto hoje. E sim, eles deixam. A filosofia da casa é 'liberdade com responsabilidade', mas a responsabilidade só serve para a Rafaela", respondeu Eduardo, pegando as taças.
Saráh serviu o vinho. Ela caminhou até Eduardo, oferecendo-lhe a taça. O olhar dela era direto, sem a malícia de antes, mas com uma seriedade que o fez tremer.
"Ao seu aniversário, Eduardo. E à sua liberdade", disse Saráh.
Eles brindaram. O vinho gelado era o catalisador que faltava.
Saráh não voltou ao sofá. Ela ficou parada, a poucos centímetros de Eduardo, a taça na mão.
"Me conta mais sobre a faculdade de Design. Você se sente livre para criar o que quiser? Ou a pressão de ser o filho de alguém como o seu pai te atrapalha?", perguntou Saráh.
Eduardo, inebriado pelo vinho e pela proximidade, não conseguia mais mentir. "A pressão do meu pai é a única coisa que me trava. Ele acha que eu sou muito 'quadrado'. Ele queria que eu fosse mais... livre, como a sua mãe."
Saráh pousou a taça na mesinha. "Talvez ele estivesse certo sobre uma coisa. Talvez você precise de alguém para te mostrar como é a liberdade, Eduardo."
Ela se inclinou lentamente. Os lábios dela encontraram os dele, não com a pressa de um flerte adolescente, mas com a calma e a certeza de quem sabia o que queria. O beijo foi longo, quebrando a última barreira de formalidade.
A televisão, de fato, não seria ligada.