Capítulo 16:
Rafaela deu um passo para trás, sentindo o baque ao ver João. O cara estava só de roupão, aberto ainda por cima. No criado-mudo, um copo com gelo, e no chão, a garrafa de uísque single malt absurdamente caro.
"Rafaela?! Que diabos você tá fazendo aqui? Cadê a Darlene?", a voz de João saiu esganiçada, misturando raiva e pânico.
Rafaela estava em choque, mas a raiva e a ironia estavam fervendo. Seus olhos faiscaram entre o uísque e o dono da pousada.
"Sigiloso? Numa pocilga dessas, bebendo uísque que comprava o aluguel de três meses aqui? O senhor acha que eu sou idiota, João? Você é um hipócrita."
João tentou se recompor, fechando o roupão. "Olha aqui, garota. Eu estou numa reunião sigilosa. É uma área de difícil acesso para chamadas. Você vai voltar pro hotel, vai engolir essa história..."
Rafaela o interrompeu, pedindo o uísque. "Eu acho que mereço um pouco desse seu uísque de 'emergência'. Posso beber um gole?"
A ousadia fez João congelar. Ele estendeu o copo. "Tome. Rápido. E não derrame."
Rafaela pegou o copo, tomou um gole longo do líquido forte, sentindo-o queimar. Ela tossiu um pouco.
"Pegou pesado, né?", João comentou, sarcástico. Ele se sentou na ponta da cama, o roupão se abrindo novamente, revelando parte da coxa.
Rafaela, sentindo o uísque aquecer seu peito, se sentou na cadeira em frente à pequena escrivaninha. O álcool lhe deu a coragem fria que precisava.
Ela já tinha o suficiente para sua vingança, mas faltava a última peça. Ela pousou o copo vazio no criado-mudo e olhou diretamente para ele.
"Ótimo. O senhor e eu temos os nossos segredos, João. Mas tem uma coisa que não entendi, e vou perguntar uma vez só, e o senhor vai me dizer a verdade. Por que diabos o senhor estava mandando mensagem para a minha mãe?"
O rosto de João ficou branco. Ele encarou Rafaela com os olhos arregalados de pavor.
"Eu... eu não sei do que você está falando! Eu mandei a mensagem para..." A voz dele falhou.
Rafaela apontou para o celular de Darlene em sua mão. "Eu recebi o seu convite. O convite para a Sala de Leitura, e depois, o convite para o Quarto 24. O senhor estava marcando encontro com a minha mãe?"
João tentou balançar a cabeça, negando. Rafaela não acreditou.
"E o senhor pretendia... transar com a minha mãe aqui neste quarto, enquanto a sua esposa achava que o senhor estava numa reunião importante e eu cuidava da sua filha? Foi isso, João?"
O silêncio era esmagador. João não conseguiu responder.
Rafaela deu um sorriso lento, o uísque dando um brilho perigoso em seus olhos. Ela se levantou e caminhou lentamente até João.
"Pense bem, João. Ela te esnobou no restaurante, e agora saiu para 'compras' com a sua esposa. Ela não quis o seu encontro."
Rafaela parou a centímetros dele, olhando para o roupão.
"Mas eu estou aqui, João. E eu quero o meu segredo. O que acontece se eu... substituísse a Darlene?"
A proposta ousada e a proximidade súbita fizeram João cambalear para trás, o pavor substituído por uma tentação chocante. Ele era um homem acostumado a conseguir o que queria, mas essa situação era um campo minado ético e moral.
O olhar de Rafaela era de pura determinação. Ela estava pronta para quebrar todas as regras.