"Não se preocupe com o tempo", sussurrou Ana Maria, puxando Darlene para a cama. "Seus filhos estão bem. Minha filha está cuidando deles. E João está a quilômetros de distância." A ironia na última frase era palpável para Ana Maria, mas ela não sabia o quão próxima da verdade estava sua afirmação.
Darlene, no entanto, mal pensava nos filhos. A atração por Ana Maria era um rio caudaloso que a arrastava. Ela havia passado a vida inteira sendo a responsável, a mãe, a guardiã. Ali, com Ana Maria, ela era apenas Darlene.
O tempo se distorceu. Não havia relógios, nem celulares (que estavam com Rafaela). Havia apenas o toque, o riso abafado, e a vertigem da transgressão. Ana Maria era experiente, atenta e a guia perfeita para esse novo território emocional e físico.
Em um momento de pausa, Darlene olhou para Ana Maria, o cabelo molhado e o rosto corado.
"Eu mal te conheço", disse Darlene, o pensamento mais uma constatação maravilhada do que um protesto.
Ana Maria sorriu, um sorriso de quem sabia de todos os segredos. "Conhecemos o suficiente. Conhecemos o cansaço dos nossos casamentos, o peso da responsabilidade, o tédio da rotina. E conhecemos a urgência de quebrar a única regra que nos restava."
Darlene suspirou, sentindo-se estranhamente leve. Não havia culpa. Havia apenas a clareza de uma mulher que, aos 50 anos, descobria uma parte de si mesma que nunca soubera que existia.
Mas a realidade, como o cronômetro do seu subconsciente, estava prestes a soar.
Ana Maria foi a primeira a se mexer. "Nossas 'compras' já devem ter atingido o teto do cartão, não acha? Precisamos voltar. Antes que a vigilância de Rafaela se torne um problema real."
Elas se vestiram rapidamente, arrumando o quarto com uma sincronia de cúmplices experientes. Quando Darlene pegou a bolsa, Ana Maria a segurou pela mão na porta.
"Hoje foi só o começo, Darlene. Você sabe disso."
Darlene apertou a mão de Ana Maria, concordando. Aquele fim de semana havia reescrito seu futuro.
Elas deixaram o quarto separadamente, combinando um encontro "casual" no elevador. O plano era chegar juntas à área da piscina, com a desculpa de que haviam se esbarrado na loja de presentes.
Cinco minutos depois, Darlene e Ana Maria saíam do elevador no térreo, com sorrisos cansados e relaxados. A primeira coisa que notaram foi o silêncio na área da piscina. Não havia risadas nem bolas d'água.
Apenas Eduardo e Saráh, sentados lado a lado, quietos demais, na espreguiçadeira da família, olhando fixamente para o celular de Darlene, que Rafaela havia deixado.
E Rafaela não estava com eles.