"Você... você perdeu o juízo, Rafaela," ele conseguiu dizer, a voz baixa e trêmula.
Rafaela sorriu friamente. "Eu só aprendi a usar a liberdade que os adultos tanto pregam, João. Eu sou a aventura que você não esperava."
Ele tentou afastá-la uma última vez. "Rafaela, não. Por favor. Pense na Saráh, pense no seu irmão." O apelo à família era a sua última e desesperada defesa.
Rafaela ignorou. Seu corpo era puro desafio. Ela passou os braços por baixo do roupão, envolvendo-o. Ela se alongou e o beijou, um beijo rápido e ousado. O sabor forte do uísque em sua boca foi o único gosto que ele sentiu.
Aquele toque foi o ponto de não retorno. O esforço de João para resistir desabou sob o peso da surpresa e da atração proibida. O homem de negócios, o pai de família, o marido hipócrita — tudo se dissolveu na pressão daquele beijo. Ele parou de resistir, e, com um gemido baixo de culpa e desejo, agarrou Rafaela, puxando-a para si. O roupão caiu no chão sujo do quarto, e a hipocrisia de João desmoronou junto com ele.
O que se seguiu não foi romântico. Foi uma troca de poder desesperada e proibida. O ato era a consumação da vingança de Rafaela: provar que a moralidade de João era frágil e que ela possuía o mesmo poder de dissimulação de sua mãe e de Ana Maria. A atração era inegável, mas subjacente a ela estava a raiva de Rafaela pelo segredo que ele tentara forçá-la a guardar. Cada toque era um ato de rebeldia, uma quebra consciente de todas as fronteiras éticas.
Ali, naquele quarto modesto, ele não era o marido e ela não era a filha. Eram dois cúmplices, ligados pela traição e pelo uísque caro.