O prédio onde moro, o "Solar das Acácias", é antigo e tem uma fachada bonita. Eu vivo no 8º andar (apartamento 801) e sou escritor, mas estava numa fase em que as palavras não tinham mais sentimento para mim. Até que ela chegou. Isabella. Apartamento 702. Ela se mudou num sábado muito quente. Eu a vi da minha varanda, carregando uma caixa enorme de livros. Ela usava um vestido vermelho. Nossos olhos se encontraram por um instante no pátio, e o ar pareceu mudar. Naquela noite, o calor era insuportável e meu ar-condicionado quebrou. Fui para a varanda tentar pegar um ar e a vi. Ela estava na varanda dela, olhando para a minha janela. Usava apenas uma camiseta larga. Ela me viu e não desviou o olhar; pelo contrário, deu um pequeno sorriso e levantou o copo de vinho para mim, como um brinde. Fiquei nervoso e com o coração batendo forte. Lembrei que tinha um bloco de anotações e uma caneta. Tive uma ideia maluca. Virei uma página em branco e escrevi com letras grandes: "A noite está quente demais para dormir, não acha?" Mostrei o bloco para ela. Ela leu, sorriu e deu uma risada baixa. Depois, foi para dentro e voltou com um caderno de música, onde escreveu com lápis: "Algumas coisas melhoram com o calor." Uma conversa começou. Escrevi de novo: "Como o quê?" Ela pensou um pouco e então escreveu, mostrando uma frase de cada vez: "Chocolate derretendo na língua." "Vinho aquecendo a garganta." E então, olhando diretamente para mim: "Olhares que atravessam janelas." Aquilo foi muito ousado. O espaço entre nós pareceu vibrar. Escrevi de volta, sentindo o sangue quente: "E se eu dissesse que posso ver o reflexo da minha luz nos seus olhos daqui?" Ela deu um passo à frente, se apoiou na varanda e escreveu: "E se eu dissesse que deixo minha cortina aberta por um motivo?" Isso significava que ela sabia que eu a observava e gostava disso. Escrevi, ansioso: "Que motivo seria esse?" A resposta dela foi direta e desafiadora: "Para medir a distância entre o seu desejo e a sua coragem." Antes que eu pudesse responder, ela escreveu uma última mensagem. Era um convite. Um endereço. "O elevador chega no 8º andar em 30 segundos. A escolha é sua." Ela então entrou no apartamento, mas deixou a porta da varanda aberta. Um convite claro. Minhas pernas se moveram sozinhas. Corri para o elevador. A descida foi rápida e silenciosa. Quando a porta do elevador se abriu, o corredor do 7º andar estava vazio, mas a porta do apartamento 702 estava entreaberta, com um filete de luz saindo por ela. Empurrei a porta devagar. Ela estava na sala, com a mesma camiseta. A luz era baixa. Ela segurava dois copos de vinho. — Demorou — disse ela, com uma voz mais baixa e sensual do que eu imaginava. Caminhei até ela, e o mundo lá fora pareceu sumir. — O trânsito entre andares é pior do que imaginei — respondi, com a voz rouca. Quando peguei o copo, nossos dedos se tocaram de propósito. Foi como um fechamento de circuito, a energia que estava no ar entre nossas varandas finalmente se conectando. Ela passou a ponta do dedo na minha mão, e eu quase perdi o fôlego. Ela olhou para o meu copo e depois para os meus lábios. — Então — sussurrou, erguendo o copo dela. — Vamos ver se o vinho aquece mesmo a garganta, ou se é apenas… metáfora. Naquele momento, os vinte metros que nos separavam viraram zero. E aquele verão abafado se transformou de repente na estação da nossa liberdade.
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