"Acho que tenho, sim. Entra aí, vou procurar", ela disse, destrancando a corrente. O clique do metal soou absurdamente alto no silêncio.
Ela abriu a porta e deu um passo para trás, deixando o caminho livre. Ele entrou devagar, e o apartamento pareceu subitamente menor. O cheiro dele veio antes de qualquer outra coisa – uma mistura de tecido de jaqueta de couro e algo sutilmente amadeirado, masculino. Ele era mais alto do que parecia pela fresta. Uma presença.
"Valeu, mesmo. É foda ficar num breu total", ele disse, parando a uma distância respeitosa perto da porta. A voz dele agora, dentro do apartamento dela, parecia preencher o espaço.
"Relaxa, tamo junto nesse perrengue", respondeu Helena, tentando soar mais casual do que se sentia. "As velas devem estar na gaveta da cozinha. Cuidado onde pisa, não quero ser processada."
Ela se virou, usando a memória e as mãos para se guiar pelos móveis. Sentia os olhos dele em suas costas, ou pelo menos imaginava que sentia. Cada passo, cada gaveta que ela abria e fechava, parecia um evento. O som da respiração dele era a única outra coisa no ambiente. Finalmente, seus dedos encontraram a cera lisa de um pequeno pacote de velas de aniversário. Patético, mas serviria.
"Achei!", ela anunciou. "Não é nenhuma tocha olímpica, mas dá pro gasto. E o mais importante..." Ela tateou a bancada até encontrar uma caixa de fósforos. Risc ou um, e a chama subiu, pequena e vacilante.
A primeira coisa que a luz iluminou foi o rosto dele.