"Gosta de surpresas, Marcos?", ela provocou, e o sorriso dela agora era total, atingindo os olhos.
Marcos terminou o uísque num gole, o gelo batendo no fundo do copo. "Depende de quem prepara a surpresa."
"Essa, eu garanto." Ela se ajoelhou no grande tapete de fibra natural que ficava entre os sofás e o deque da piscina. O movimento foi fluido, consciente do quanto seu vestido de crochê se ajustava e revelava. Ela bateu a palma da mão no tapete ao seu lado. "Sentem-se. Círculo."
Diego foi o primeiro, jogando-se ao lado dela com um suspiro teatral, já pegando uma garrafa de Tequila Patrón que estava na bandeja de bebidas e quatro copinhos de sal.
"Quem conhece a Sofia sabe", disse Diego, alinhando os copos. "Quando ela sugere um jogo, você não diz não. E você provavelmente vai precisar disso." Ele deu uma piscadela para Lúcia.
Lúcia hesitou, olhando para o marido. Marcos, no entanto, levantou-se. Ele não se sentou, mas ficou de pé por um momento, um predador avaliando o terreno, antes de se acomodar de pernas cruzadas em frente a Sofia. Sua presença parecia preencher o espaço.
Com um suspiro que era metade resignação, metade curiosidade, Lúcia se sentou ao lado do marido. O círculo estava formado: Marcos e Lúcia de um lado, Diego e Sofia do outro. A caixa preta no centro.
"Então, qual o nome disso? 'Verdade ou Consequência' para gente rica?", perguntou Marcos, a voz baixa.
"Quase", disse Sofia, abrindo a caixa. Dentro, havia um baralho de cartas pretas, pesadas, com texto em branco minimalista. "Chama-se 'Consequências da Virada'. E não tem 'Verdade'. A verdade é para quem tem medo."
Ela tirou o baralho. "As regras são primitivas. Você puxa uma carta. Você lê a consequência em voz alta. E você cumpre."
"E se não cumprir?", perguntou Lúcia, a voz quase inaudível.
Sofia pegou um dos copinhos de sal e o ergueu. "Se você amarelar... você vira uma dose de tequila. Pura."
Diego riu. "E conhecendo essas cartas, confie em mim, a tequila às vezes é o caminho mais fácil."
"Estou dentro", disse Marcos, inclinando-se para frente, o interesse genuíno em seus olhos.
Lúcia engoliu em seco, mas assentiu. Fugir agora seria criar um clima ainda pior.
"Perfeito." Sofia embaralhou as cartas com uma destreza que sugeria prática. O som das cartas grossas se chocando era o único ruído na sala, já que a música parecia ter diminuído. "Quem começa?"
"Você, claro", disse Marcos. "A dona do circo."
"Justo." Sofia sorriu. Ela puxou a primeira carta do topo do baralho. O silêncio na sala era tão denso que Lúcia podia ouvir a própria pulsação.
Sofia leu a carta devagar, sua voz rouca saboreando cada palavra. Ela ergueu os olhos e varreu o círculo, demorando-se em cada um deles antes de falar:
"Carta: 'Escolha a pessoa nesta roda que você mais desejou hoje. Dê a ela um beijo. O local do beijo... fica a critério dela.'"
O ar saiu dos pulmões de Lúcia. Diego recostou-se sobre os cotovelos, um sorriso de espectador no rosto. Marcos não se moveu, seus olhos fixos em Sofia, indecifráveis.
Sofia segurou a carta no ar por um momento. Seu olhar passou por Diego, seu marido... passou por Lúcia, que desviou o olhar imediatamente... e pousou, firme e sem hesitação, em Marcos.
Um sorriso lento se formou nos lábios dela.
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