Os olhos de Marcos estavam fixos em Sofia. Ele se endireitou levemente, uma antecipação quase imperceptível em sua postura. Ele sabia que era o alvo; o flerte dela durante o jantar tinha sido óbvio, uma provocação clara que ele vinha rebatendo com diversão contida.
Lúcia observava o marido. Ela viu o leve arquear de sua sobrancelha, a forma como ele esperava o beijo como um tributo. Ela sentiu a pontada familiar de... não era ciúme, era mais um cansaço. A resignação de ser a espectadora.
Diego riu, recostando-se nas mãos. "E aí, amor? Vai encarar a fera?", ele brincou, olhando para Marcos.
Sofia manteve o sorriso, saboreando o momento. Ela segurou a carta entre os dedos como se fosse uma arma.
"A carta diz 'a pessoa que eu mais desejei hoje'", repetiu ela, a voz baixa.
Seu olhar permaneceu em Marcos por mais um segundo, fazendo o coração dele acelerar... e então, lentamente, deliberadamente, ela virou a cabeça.
Seus olhos encontraram os de Lúcia.
Lúcia congelou. O sangue pareceu fugir de seu rosto e depois voltar com força total, esquentando seu pescoço. Ela piscou, confusa. "Eu?" Sua voz saiu como um chiado.
Sofia não disse nada. Seu sorriso mudou. Perdeu a malícia óbvia e ganhou algo mais profundo, mais perigoso: curiosidade.
"O que... o que você quer dizer com isso?", gaguejou Lúcia, olhando para Marcos em busca de ajuda. Mas Marcos estava tão surpreso quanto ela. Sua expressão era uma máscara de confusão.
"Eu te observei o dia todo, Lúcia", disse Sofia, sua voz agora suave, quase hipnótica. "Você assiste a tudo. Você é tão... contida. Tão presa aí dentro." O olhar de Sofia desceu para os lábios de Lúcia. "Eu desejei ver o que aconteceria se alguém finalmente... te cutucasse."
Diego soltou um assobio baixo. "Essa é nova."
Sofia nem piscou. Ela ainda estava de joelhos no tapete. "A carta também diz que o local do beijo... é de sua escolha." Ela gesticulou para Lúcia. "Estou esperando. Onde você quer, Lúcia? Ou..." Ela apontou para o copinho de tequila. "...vai preferir a dose?"
Todos os olhos estavam em Lúcia. O silêncio era ensurdecedor. Tomar a dose seria admitir fraqueza, seria provar o ponto de Sofia. Seria correr. Marcos a observava, e em seus olhos ela não viu raiva, mas um interesse analítico que a assustou ainda mais.
Ela respirou fundo, tentando encontrar a voz. O vestido de crochê de Sofia parecia brilhar sob a luz amarela da sala.
"Aqui", sussurrou Lúcia, e levantou a mão, apontando para a própria bochecha. "Na bochecha. É... é o meu critério."
Sofia riu, um som sem humor. "Tão segura. Tão... Lúcia."
Lentamente, como uma pantera, Sofia se moveu sobre os joelhos, atravessando o tapete. O cheiro dela chegou primeiro – uma mistura de protetor solar caro, sal marinho e um perfume com notas de ylang-ylang. Ela parou a centímetros de Lúcia, que estava rígida como uma estátua.
Lúcia fechou os olhos com força, oferecendo a bochecha, esperando o toque.
Sofia se inclinou. Lúcia podia sentir o calor da pele dela, o hálito quente com aroma de champanhe.
Os lábios de Sofia roçaram a pele... mas não na bochecha. Foi um toque deliberadamente lento, um arrastar de lábios que começou no canto do maxilar de Lúcia e subiu, incrivelmente devagar, parando por uma fração de segundo no lóbulo de sua orelha. E então, um sussurro que só Lúcia pôde ouvir:
"Tem certeza que é só isso que você quer?"
Antes que Lúcia pudesse reagir, Sofia depositou um beijo suave e rápido no local que Lúcia quase tinha apontado, no canto da boca, quase nos lábios.
Um choque elétrico percorreu o corpo de Lúcia. Ela abriu os olhos, ofegante.
Sofia já estava se afastando, deslizando de volta para o seu lugar ao lado de Diego, o sorriso satisfeito de quem acabara de ganhar o primeiro round.
"Pronto", disse ela, pegando o baralho. "Resolvido."
Marcos não disse nada. Ele apenas observava sua esposa, Lúcia, que agora tinha a mão no rosto, os olhos arregalados e os lábios entreabertos. O jogo tinha acabado de mudar.
Sofia estendeu o baralho para o outro lado do círculo. "Sua vez, Lúcia."
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