31 de Dezembro - (Quebrando o Gelo)

A sala parecia ter encolhido. O ar estava denso, e o lounge eletrônico que antes era apenas um ruído de fundo agora parecia pulsar em sincronia com o coração acelerado de Lúcia. Ela ainda sentia o fantasma do toque de Sofia – o calor em seu maxilar, o sussurro em seu ouvido, o beijo descarado no canto de sua boca. Sua pele formigava.

"Sua vez, Lúcia."

A voz de Sofia era suave, mas soava como uma ordem. Lúcia olhou para o baralho preto estendido em sua direção. Suas mãos tremiam levemente. Ela ergueu os olhos e encontrou os de Marcos. Ele a observava com uma intensidade que ela não via há anos; não era raiva, era... análise. Como se ele a estivesse vendo pela primeira vez. Ao lado dele, Diego tinha um sorriso divertido, o espectador perfeito.

Lúcia respirou fundo, o cheiro de sal e tequila no ar. Amarelar agora, depois da provocação de Sofia, estava fora de questão. Ela seria vista como a esposa frígida e assustada que Sofia pintou.

Com um movimento rápido, quase brusco, ela estendeu a mão e puxou a carta do topo.

O papelão era grosso e frio contra seus dedos úmidos. Ela o virou. O texto branco e nítido parecia zombar dela. Ela engoliu em seco e leu em voz alta, a voz falhando no início:

"Carta: 'Faça uma massagem sensual de 60 segundos no pescoço e ombros da pessoa à sua direita.'"

Um silêncio chocado.

Lúcia virou a cabeça para a direita.

Marcos.

Era o seu próprio marido.

Uma risada nervosa escapou de Lúcia. "Bem, isso é... fácil", ela disse, tentando aliviar a tensão.

"É mesmo?", perguntou Sofia, inclinando a cabeça, os olhos brilhando. "A carta diz 'sensual', querida. Não é uma massagem de fisioterapia."

Diego riu e ergueu o celular. "Sessenta segundos... começando... agora." Ele não ligou um cronômetro, apenas o segurou no ar.

Lúcia sentiu o rosto queimar. De repente, ela entendeu. O desafio não era tocar Marcos. Era tocá-lo ali, na frente deles. Era ser íntima sob o olhar julgador de Sofia e o olhar divertido de Diego. Era uma performance.

"Vamos, Lu", disse Marcos, a voz grave. Ele não se virou para ela, mas inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, expondo o pescoço. Era um comando, mas também um convite.

Ela se mexeu, desajeitada, ajoelhando-se atrás dele. Suas mãos pairaram sobre os ombros dele por um segundo. A pele dele estava quente sob o linho da camisa.

"O relógio está correndo", cantarolou Diego.

Lúcia fechou os olhos por um segundo. Dane-se.

Ela pousou as mãos. Não com a hesitação de antes, mas com firmeza. Ela sentiu os músculos tensos dele sob seus dedos. Ela começou pelo trapézio, apertando com força, como ele gostava. Ele soltou um suspiro baixo.

"Sensual, Lúcia", lembrou Sofia, como um veneno doce.

Lúcia mordeu o lábio. Ela mudou o toque. Seus dedos amoleceram. Ela deslizou as palmas das mãos para cima, pela coluna do pescoço dele, entrando pela linha do cabelo. Ela usou as unhas, arranhando levemente o couro cabeludo. Marcos inspirou bruscamente.

Encorajada pela reação dele, ela desceu os polegares, pressionando os pontos sensíveis na base do crânio dele. Ela se inclinou para frente, seu cabelo solto roçando a orelha dele. O cheiro dele – uísque, linho e o cheiro salgado de sua pele – a invadiu.

Ela esqueceu por um momento de Sofia e Diego. Seus dedos deslizaram para a frente, sobre a clavícula, os polegares fazendo círculos lentos na pele exposta pelo colarinho aberto. Ela podia sentir a pulsação dele sob seu toque.

"Tempo", disse Diego, a voz um pouco menos divertida.

Lúcia parou, mas não se afastou imediatamente. Suas mãos repousaram nos ombros dele. Marcos virou a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os dela. A máscara analítica havia sumido. Em seu lugar, havia algo mais sombrio, mais faminto.

Sofia pigarreou. "Nada mal", disse ela, embora seu sorriso parecesse um pouco mais forçado. "Parece que há fogo aí, afinal."

Lúcia se afastou, voltando ao seu lugar. Suas mãos formigavam e seu corpo inteiro estava quente. Ela havia sido forçada a seduzir o próprio marido, e para seu choque, tinha funcionado.

Ela pegou o baralho, a mão agora firme, e o estendeu para o homem sentado em frente a ela.

"Sua vez, Diego."

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