A noite estava quente, mas a brisa salgada do mar trazia um ar fresco que dançava pelas janelas abertas da pequena casa de madeira, Canto da Sereia, como a chamava a corretora. A lua cheia era um disco prateado perfeito, refletindo sobre as ondas em um caminho tremeluzente que guiava o olhar para o horizonte. Um cenário mágico, pensado para ser o refúgio perfeito.
Quatro pessoas estavam ali para celebrar o Ano Novo, buscando a promessa de esquecer a melancolia e o cansaço das cidades.
Isabel e Ricardo: O casal mais antigo. Isabel, com seus trinta e poucos anos, era arquiteta; seus olhos castanhos, normalmente firmes, carregavam agora uma sombra de cansaço. Ricardo, seu marido, era um empresário de startups, sempre com um sorriso fácil demais e a mão no celular, mesmo que a cobertura ali fosse quase nula. Eles precisavam dessa viagem. Ou pelo menos, achavam que precisavam.
Camila e Mateus: Os recém-casados. Camila, a prima de Isabel, era uma professora de história, com um jeito doce que disfarçava uma sagacidade afiada. Seu marido, Mateus, um analista financeiro calado e atencioso, estava sempre um passo atrás, observando.
A casa rústica, com suas paredes de madeira gasta e o cheiro de maresia e madeira antiga, ecoava. Os copos de cristal (trazidos por Isabel, que não abria mão de um toque de civilidade) foram enchidos com um Chardonnay gelado, e as primeiras risadas, um tanto forçadas, ecoaram.
"Um brinde a essa fuga! À liberdade da agenda e dos deadlines!" — disparou Ricardo, levantando o copo alto e bebendo de um gole grande e rápido demais.
Enquanto a conversa tentava engrenar — sobre a dificuldade da estrada, o quão "alternativa" a casa era, e a promessa de não falar de trabalho —, algo começou a acontecer. Uma tensão silenciosa, quase imperceptível, que crescia como a própria maré que lambia a areia a poucos metros.
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