A escuridão do interior da casa era combatida por uma luminária de pé com abajur de vime e pelas velas que Isabel acendera, insistindo num "ambiente acolhedor". O efeito era, em vez disso, claustrofóbico: círculos tênues de luz que lutavam contra as sombras nos cantos, fazendo com que a presença de cada um parecesse mais isolada.
O Chardonnay tinha sido substituído por uma garrafa de uísque que Mateus tirou da bagagem, e o tom de voz começava a subir junto com o nível de álcool no sangue. Ricardo, em particular, bebia como se estivesse a compensar o tempo perdido.
"Isto é inadmissível," resmungou ele pela quinta vez, batendo o copo na mesa. Ele tinha passado os últimos dez minutos no parapeito da janela, esticando o braço em todas as direções para o céu estrelado, como um pescador a lançar uma rede sem isco. "Nenhuma operadora. Em pleno século vinte e um, sem comunicação. Como é que as pessoas aqui... funcionam?"
Isabel suspirou, um som quase inaudível, mas que a fez parecer ainda mais cansada. Ela estava farta daquela encenação de férias, daquele equilíbrio frágil mantido por frases feitas e sorrisos forçados. O fracasso da conexão era, para Ricardo, uma falha de serviço; para ela, era uma falha de caráter que o impedia de estar verdadeiramente presente.
"Chama-se 'desligar', Ricardo," Isabel disse, a voz baixa e tensa. "Era esse o objetivo, lembra-se? Não olhar para nada que lembre um 'deadline'."
Ele encolheu os ombros e voltou para a mesa, a irritação evidente. Aquele pequeno refúgio, o Canto da Sereia, estava a forçá-los a encarar o silêncio e, o que era pior, uns aos outros.
Foi nesse momento de impasse que a arquiteta teve um estalo. Se eles não conseguiam mais conversar honestamente, talvez pudessem ser forçados a fazê-lo. Ela inclinou-se sobre a mesa, o olhar fixo no marido.
"Chega de lamentações sobre a Claro," disse Isabel, com um brilho súbito nos olhos castanhos. Ela pegou na garrafa de uísque vazia e rodou-a no centro da mesa. "Vamos jogar. Verdade ou Consequência."
Houve uma pausa. Camila sorriu de forma calculada, mas Mateus, o observador, apenas olhou para o chão, onde os reflexos da lua tremulavam. Ele sabia que aquele jogo não era uma brincadeira; era um ultimato. E as consequências de uma verdade seriam muito mais dolorosas do que qualquer desafio.
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