"Ela está grávida, Léo. É o estresse", Marcos repetia na churrasqueira, com seu sorriso largo e tranquilizador. A ironia cortava Léo agora, sabendo a verdade que estava por vir. Léo confiava tanto em Marcos que chegava a pedir conselhos sobre como lidar com a "frieza" de Sofia.
O padrão era sutil, mas persistente: as manhãs de quinta-feira. Sofia saía para uma "reunião crucial", e Léo, aproveitando um dia de folga inesperado, simulou uma ida à delegacia. Ele instalou uma microcâmera no vaso de flores da sala, direcionada para a porta do quarto. Era uma medida desesperada, nascida de um medo profundo que a felicidade que eles estavam construindo fosse uma fachada.
A espera foi um inferno de adrenalina e repulsa. Léo continuava beijando Sofia e sentindo o bebê chutar, mas por dentro, uma tensão crescente o consumia. O tesão de desvendar um mistério colidia com a angústia de destruí-lo.
Uma semana depois, uma nova quinta-feira amanheceu. Léo estava em casa. Eram 10h15. Sofia se despediu com um beijo rápido na bochecha, sua barriga de seis meses proeminente sob o blazer. Léo esperou. Dez minutos depois, seu celular vibrou. A notificação da câmera.
Léo viu a figura inconfundível do seu melhor amigo e vizinho, Marcos do Acesso 5, saindo de sua cobertura e caminhando casualmente pela calçada interna, rumo ao Acesso 7.
Marcos estava diferente. Não usava terno de trabalho, mas uma camisa polo de grife, casual e confortável. Ele parecia em casa. Ele parou na porta do apartamento de Léo. Marcos usou uma chave. A chave que, de alguma forma, Sofia havia lhe dado.
O choque atingiu Léo com a força de um soco no peito. Não era um estranho; era a personificação da confiança traída. O suspeito era real, e era a única pessoa que ele havia permitido ver suas vulnerabilidades. A traição agora se estendia além do casamento, aniquilando a amizade, a lealdade e a única âncora que ele achava ter no condomínio.
Um Conto sobre a vida cotifiana... sem erotismo!!!!!