Olha quem está Falando???

Marcela estava tendo uma semana terrível. Seu namorado havia terminado com ela por mensagem, ela havia perdido o prazo de um projeto importante e, para completar, seu sutiã preferido decidira se rebelar.

Não era um sutiã qualquer. Era aquele com renda vermelha e um fecho complicado que sempre a fazia sentir-se poderosa. Naquela manhã, após uma noite solitária com uma taça de vinho e um filme romântico duvidoso, Marcela o vestiu como de costume.

Foi no elevador a caminho do trabalho que a primeira voz surgiu.

"Uau, que dia hein? Esses mamilos estão mais decididos que você na academia segunda-feira."

Marcela congelou, segurando a pasta com força. Olhou em volta - o elevador estava vazio.

"Alô? Tem alguém aí?" - a voz era masculina, levemente irônica.

"Quem... quem está falando?" - ela sussurrou, confusa.

"Sou eu, o artigo íntimo que está prestes a sufocar suas esperanças. E por falar nisso, você poderia dar uma afrouxada?

Era o sutiã. Seu sutiã estava falando. E tinha a voz de um comediante stand-up.

"No trabalho, Marcela tentou ignorar as provocações íntimas.

"Ei, cuidado com a postura! Você quer que eu vire um porta-treco? E por que está respirando tão fundo? Ah, certo, o gato gostoso do marketing acabou de entrar na sala."

Ela corou instantaneamente quando Lucas, seu colega de trabalho, passou por sua mesa. O sutiã fez um som de apito baixo.

"Gata, se esse homem olhar para você por mais cinco segundos, vou ficar com vergonha alheia E própria."

As reuniões se tornaram um pesadelo. Toda vez que seu chefe falava algo particularmente idiota, o sutiã soltava comentários sarcásticos.

"Esse cara tem mais enrolação que fio de fone no bolso. Falou tanto e não disse nada - igual seu perfil no Tinder."

À noite, exausta, Marcela estava prestes a se desfazer da peça sobrenatural quando decidiu dar uma chance.

"Olha, posso não ter pedido por isso, mas você é a única companhia masculina na minha vida no momento."

"Justo. E falando nisso, quando foi a última vez que você... você sabe... se divertiu sozinha? Porque estou sentindo uma tensão aqui que não é só muscular."

Ela quase engasgou com a água. "Isso é assédio!"

"Relaxa, é só auto-cuidado. E pelos gemidos que ouvi na quarta-feira passada, você é uma expert no assunto."

A situação atingiu o clímax no sábado, quando Marcela finalmente aceitou sair com as amigas. Num bar animado, conheceu Gabriel, um homem charmoso que parecia genuinamente interessado nela.

Tudo ia bem até que, no meio do flerte, o sutiã decidiu dar sua opinião.

"Ele é bonito, mas a camisa é mais justa que sua calça jeans pós-lavar. Pergunta se ele gosta de animais - você tem um gato que ronrona demais."

Marcela tentou disfarçar com uma tosse.

"Quer saber?" - o sutiã continuou - "Convida ele para sair. Pelo amor de Deus, faz alguma coisa. Até eu estou ficando frustrado aqui."

Para sua surpresa, ela riu. E Gabriel riu também, sem saber porquê.

"Você tem um riso lindo" - ele disse.

"Obrigada. É... meu sutiã acha você bonito."

Os olhos de Gabriel se estreitaram em um sorriso. "É mesmo? E o que mais ele diz?"

"Que você deve beijar muito bem."

Naquela noite, quando finalmente chegaram ao apartamento dela e as coisas começaram a esquentar no sofá, o sutiã fez seu comentário final:

"Hora de eu sair de cena antes que coisas realmente interessantes aconteçam. Boa sorte aí, crianças - e Marcela, lembra de me pendurar, não de jogar no chão!"

E pela primeira vez desde que começara a falar, Marcela sentiu que talvez um sutiã falante não fosse a pior coisa do mundo.