Shibari - (01) Traição e Fetiche



O apito da chaleira elétrica ecoou pela cozinha, rompendo o silêncio aconchegante, porém estagnado, do apartamento de Leo e Ana. Era uma terça-feira comum, mais uma entre centenas de terças-feiras que se seguiram aos oito anos que compartilhavam um teto, uma cama e uma rotina. Leo, com seus trinta e poucos anos e uma barba que começava a acinzentar nas têmporas, despejou a água fumegante em duas canecas de porcelana, uma para ele, outra para Ana. Na sala, ouvia-se apenas o clique suave dos dedos dela no teclado do celular, uma melodia monótona que se tornara a trilha sonora de suas noites.

Ele levou as canecas para a sala, sentindo o calor através da cerâmica. Ana estava no sofá, envolta em um pijama de flanela, os óculos equilibrados na ponta do nariz enquanto os olhos percorriam o feed do Instagram. Um sorriso distante, quase programado, brincou em seus lábios quando ele estendeu a caneca.

“Obrigada, amor,” ela murmurou, pegando-a sem desviar o olhar da tela.

Leo sentou-se ao lado dela, mas havia um pequeno espaço inquebrável entre eles, um abismo invisível de conforto e previsibilidade. Ele ligou a TV, assistindo a um programa de culinária que parecia exigir tanto da sua atenção quanto um quadro de tinta fresca. O silêncio voltou, quebrado apenas pela voz animada do chef e pelo zumbido ocasional do ar-condicionado.

Minutos se arrastaram, indistintos. Ana bocejou, esticando os braços acima da cabeça, e finalmente pousou o celular. “Vou tomar um banho. E você, vai ficar aí vegetando?” ela brincou, o tom leve, mas com uma pitada daquela familiaridade que, às vezes, soava mais como constatação do que como afeto.

“Talvez eu vegete mais um pouco,” ele respondeu, com um sorriso fraco. “Estou esperando você sair do banho para ver se o chuveiro não cai.” Era uma piada antiga, sobre a pressão da água do prédio, mas há muito tempo havia perdido a graça para ambos.

Ana riu baixinho, levantando-se e beijando o topo da cabeça dele. “Certo, senhor engraçadinho.”

Quando ela entrou no banheiro, o som do chuveiro logo começou, abafado pelas paredes. Leo terminou o chá, mas em vez de se levantar, seu olhar caiu sobre o notebook de Ana, aberto na mesinha de centro. Uma aba de navegador estava ali, piscando suavemente. Ele raramente mexia nas coisas dela, e vice-versa. Havia uma confiança silenciosa entre eles, uma presunção de que não havia nada a esconder. Mas, por algum motivo naquela noite, uma curiosidade suave o picou. Talvez fosse o tédio, talvez a falta de algo mais envolvente para fazer.

Ele esticou a mão, arrastou o notebook para mais perto. A tela estava em um site de notícias que ele reconheceu. Mas, no canto superior, havia outra aba. Uma que ele não reconheceu. Um ícone estranho, talvez um fórum, e um título que fisgou sua atenção: "Discussão sobre Shibari e a Arte da Restrição".

Shibari. A palavra ecoou em sua mente, familiar de algum documentário aleatório que havia assistido há anos, ou talvez de um artigo. Era a arte japonesa da amarração. Não para prender, mas para revelar.

Ele hesitou por um segundo, o som do chuveiro no fundo parecendo um tambor batendo em seu peito. A intromissão era errada. Mas a curiosidade era uma força maior. Com um clique lento, ele abriu a aba.

A página carregou. Não era um site pornô explícito, não do jeito que ele esperava. Havia fotografias artísticas, em preto e branco, de corpos amarrados com cordas, em poses que eram ao mesmo tempo vulneráveis e poderosas. Mas não era apenas isso. Havia comentários, discussões sobre técnicas, tipos de corda, a psicologia por trás da entrega. E, bem no topo, uma postagem que Ana havia feito, a data e hora recentes, há apenas algumas horas:

"Estou procurando por parceiros dispostos a explorar essa prática comigo. Sou iniciante, mas tenho lido e estudado bastante. A conexão, a confiança e a entrega são o mais importante para mim. Alguém em São Paulo interessado em aprender juntos?"

O mundo de Leo vacilou. As palavras dançaram em sua visão, sem sentido e, ao mesmo tempo, terrivelmente claras. Ana. Sua Ana. A Ana que mal beijava ele com paixão sem que ele tivesse que iniciar. A Ana que reclamava de dor de cabeça em quase todas as sextas-feiras. Aquela Ana estava secretamente explorando um mundo de cordas e restrição, e estava procurando por… parceiros?

Uma onda de calor subiu por seu pescoço, não de excitação, mas de uma mistura confusa de choque, ciúme e uma estranha, quase culpada, pontada de fascínio. A imagem dela, encharcada no banho, pura e intocável, contrastava brutalmente com a Ana que buscava ser amarrada por um estranho. Ou talvez não um estranho. Talvez alguém que ela já conhecia?

O chuveiro cessou.

Ele fechou o notebook abruptamente, o som do clique seco ecoando na sala silenciosa. Colocou-o de volta na mesinha, quase na mesma posição em que o encontrara. Seus olhos se arregalaram, fixos na porta do banheiro. O tempo havia parado, e ele estava preso, com o segredo dela esmagando-o por dentro.

Ele não sabia o que fazer, nem o que sentir. E em poucos segundos, Ana sairia do banheiro, e a rotina confortável voltaria, como se nada tivesse acontecido. Mas tudo havia mudado

Foto 1 do Conto erotico: Shibari - (01) Traição e Fetiche


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Ficha do conto

Foto Perfil mvoliveira
mvoliveira

Nome do conto:
Shibari - (01) Traição e Fetiche

Codigo do conto:
246448

Categoria:
Fetiches

Data da Publicação:
05/11/2025

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