Rita se sentou no sofá de couro, sentindo o material frio através do vestido. Jessi preferiu ficar de pé, percorrendo o espaço com os olhos de segurança, avaliando pontos cegos e saídas. A tensão do primeiro encontro ainda pairava no ar.
"Antes de qualquer detalhe do plano, precisamos estabelecer regras", Bela começou, de pé diante delas como uma CEO diante de uma diretoria. "Primeira regra: nenhum registro. Nada de mensagens, e-mails ou anotações. Tudo fica aqui." Ela apontou para a própria têmpora. "Segunda regra: desliguem seus sentimentos. Raiva, medo, desejo de vingança... isso atrapalha. Agimos por lógica, não por emoção."
Jessi cruzou os braços. "Falar é fácil. Minha irmã está num hospital. Isso não é um sentimento, é um fato."
"E é esse fato que vai nos fazer ricas", contraiu Bela, sem pestanejar. "Se você focar na irmã, vai vacilar. Se vacilar, vamos presas. Entende?"
Rita observava a troca, mas seu olhar sempre voltava a pousar em Jessi. Havia uma força nela que ia além da física. Uma resiliência que Rita admirava, e que a atraía.
"Terceira regra", Bela continuou. "Confiança total. Se uma de nós achar que a outra é um risco, o plano acaba na hora. Não há espaço para dúvidas."
"E como se constrói confiança?" perguntou Rita, suavemente.
"Com prova", respondeu Bela. "E a prova começa agora. Jessi, você disse que tem um contato na Orion Segurança. Preciso de um nome e de uma alavancagem. O que prende ele a você?"
Jessi hesitou pela primeira vez. "É... um ex-colega. Foi expulso da corporação junto comigo. Ele me deve um favor. Eu o cobri numa operação que deu errado, e ele sabe que se eu falar, ele se afunda."
"Bom. É um começo. Use isso. Marque um encontro com ele em um lugar público e discreto. Teste a lealdade dele. Rita", Bela se virou para ela. "Você vai refazer o projeto do cofre da joalheria de memória. Cada detalhe. Cada ranhura, cada som que as engrenagens fazem. Você tem até amanhã."
Era uma tarefa hercúlana, mas Rita acenou com a cabeça. Era a sua prova. Era a sua contribuição.
Bela então se voltou para uma tela montada na parede, onde um esboço do plano já começava a tomar forma. "O assalto será no dia do leilão. O inventário já estará lá, mas o movimento será mínimo. É nossa janela."
Enquanto Bela detalhava a logística de entradas, saídas e distrações, Rita sentiu um toque em seu braço. Era Jessi, passando por trás do sofá, aparentemente para pegar uma garrafa de água na cozinha. O toque foi rápido, quase acidental, mas o calor da mão de Jessi na sua pele foi como um choque. Rita prendeu a respiração.
Mais tarde, quando Bela se recolheu ao quarto para fazer "ligações seguras", as duas ficaram na sala.
"Ela é intensa, né?" Jessi comentou, baixinho, olhando na direção do quarto.
"É. Mas é o que precisamos", Rita respondeu, enrolando uma ponta do vestido nos dedos. "Você... você tá bem? Com essa coisa toda do seu contato?"
Jessi se encostou na parede, perto de Rita. A proximidade era eletrizante.
"Tô. É estranho, mas... é a primeira vez em meses que me sinto no controle de alguma coisa. Desde que me expulsaram da corporação." Ela fitou Rita. "E você? Desenhar o cofre... não deve ser fácil."
"É a minha vida naquelas folhas", Rita sussurrou. "É assustador. Mas menos assustador do que a ideia de perder tudo."
Os olhos de Jessi suavizaram. "A gente não vai perder. Vamos ganhar."
Num impulso, a mão de Rita encontrou a de Jessi, que estava pendurada ao lado do corpo. Elas se entrelaçaram por um segundo, um aperto rápido e furtivo. Um gesto de medo, de coragem e de uma atração que não podia ser nomeada, mas que era impossível de ignorar.
"Preciso confiar em você", sussurrou Rita, seu rosto perto do de Jessi o suficiente para sentir seu hálito.
Jessi não se afastou. Pelo contrário, seu corpo pareceu inclinar-se ligeiramente na direção de Rita.
"Pode confiar", ela respondeu, a voz um pouco rouca. "Eu não vou te decepcionar."
O som de uma porta se abrindo fez com que se afastassem rapidamente, como duas adolescentes apanhadas. Bela saiu do quarto, olhando para as duas com seus olhos penetrantes. Ela não disse nada, mas algo em sua expressão sugeria que ela havia percebido mais do que elas gostariam.
"O encontro com o contato está marcado", Bela anunciou, quebrando o momento. "É para amanhã, meio-dia, no mercado municipal. Jessi, você vai sozinha. Rita, você tem o seu desenho para terminar. O trabalho começa agora."