Ruth bebia uma taça de vinho branco.
"Elas estão quarenta minutos atrasadas", disse Ricardo, seu marido. Ele nem tirou os olhos do celular para falar.
Ruth deu de ombros. "É a Raquel. Você sabe como ela é."
"É falta de planejamento", Ricardo resmungou.
Lá fora, um barulho de carro velho parou. O motor parecia estar sofrendo e morreu com um suspiro. As portas bateram, fazendo um barulho fino e metálico.
A porta de vidro da sala se abriu e Raquel entrou como um foguete.
"Ruth! Meu Deus, que calor! Chegamos!"
Raquel estava toda suada, com o cabelo escuro grudado no pescoço. Usava shorts jeans curtos e uma regata amassada. Ela deu um abraço apertado em Ruth. "Essa casa é linda! E você está perfeita, como sempre."
Então, um homem apareceu na porta. Era Mateus.
Ele parou ali, e era como se todo o calor da rua tivesse entrado com ele.
Mateus estava sem camisa, usando apenas uma bermuda de praia velha. O suor brilhava em seus ombros e no peito. Dava para ver que ele era forte, mas não como os homens de academia. Era um corpo de quem trabalhava. Tatuagens cobriam um dos seus braços.
Ele jogou duas mochilas no chão de mármore branco.
"Belo lugar", ele disse. A voz era grossa.
Ricardo se levantou, ajeitando a camisa. "Mateus. Bem-vindo." Ele falou com uma voz fria. "Vou... buscar mais duas taças." Ele foi rápido para a cozinha, quase como se estivesse fugindo.
Raquel riu, um pouco nervosa. "Amor, pelo amor de Deus, coloca uma camisa. Estamos na casa da minha irmã."
Mateus apenas sorriu de lado para ela. "Calma. Só estou trazendo as malas."
Então, ele se virou e olhou para Ruth.
Não foi um olhar tímido. Ele a olhou de cima a baixo, sem pressa, do mesmo jeito que tinha olhado para a casa.
Ruth era a esposa perfeita, a anfitriã perfeita. Ela deveria ter desviado o olhar, oferecido uma toalha ou mostrado o quarto deles.
Em vez disso, ela ficou parada. Por um segundo, seus olhos seguiram uma gota de suor que descia pelo peito dele. De repente, o ar da sala pareceu ficar mais pesado, mais quente, mesmo com o ar condicionado.
"Bem-vindo, Mateus," ela disse. Sua voz saiu firme. Foi a única coisa que ela conseguiu controlar. "Raquel, venha. Vou mostrar o quarto de vocês."