Ruth x Raquel - O Primeiro Jantar!!!!

O jantar foi servido na longa mesa de vidro da varanda. O sol tinha sumido, mas o ar da noite continuava pesado e quente, quase sem vento. Os grilos lá fora pareciam gritar, preenchendo o silêncio que se instalava entre eles.

Ricardo abriu uma segunda garrafa de vinho caro, o rótulo virado para a luz.

"O mercado imobiliário na costa está superaquecido", disse Ricardo, mais para a mesa do que para alguém em particular. "Qualquer um com dinheiro parado agora é um tolo."

Ruth mexia no seu peixe grelhado. "Sim, querido."

Raquel já estava na sua terceira taça de vinho. Ela bebia rápido, como se estivesse com sede. Mateus, por outro lado, tinha recusado o vinho e estava bebendo uma cerveja long neck, que parecia muito casual para a mesa perfeitamente posta.

Ricardo olhou para Mateus. "Raquel me disse que você trabalha com... construção, certo?" O jeito que ele disse "construção" fazia parecer algo sujo.

Mateus deu um gole na cerveja, o som do vidro batendo na mesa foi o único ruído. "Eu construo casas. Do zero." Ele não parecia ofendido, apenas direto.

"Ah, sim. Trabalho braçal", disse Ricardo, balançando a cabeça como se sentisse pena. "Eu prefiro trabalhar com a cabeça."

Mateus limpou a boca com o guardanapo de pano. Em vez de responder a Ricardo, ele se virou para Ruth.

"Raquel me disse que você costumava pintar", ele disse.

Ruth congelou, com o garfo a meio caminho da boca.

"O quê? Ah." Ela riu, um som curto e nervoso. "Isso foi há muito tempo. Antes de me casar. Era só um hobby."

"Ruth era muito talentosa", disse Raquel de repente, com a voz um pouco alta demais por causa do vinho. "Mas ela trocou os pincéis por planilhas."

Ricardo não gostou. "Foi uma fase. Ruth tem coisas mais importantes para fazer agora."

Mateus ignorou os dois. Ele continuou olhando fixamente para Ruth. Seus olhos eram escuros e difíceis de ler no brilho das velas.

"Por que você parou?", ele perguntou.

A pergunta era simples, mas atingiu Ruth como uma pedra. Ninguém perguntava sobre ela há anos. Perguntavam sobre sua casa, suas férias, seu marido. Mas não sobre ela.

"Eu... eu não sei", ela gaguejou. "A vida acontece. Os filhos, a casa..."

"Que pena", disse Mateus, sua voz baixa. "Você parece o tipo de pessoa que tem muito a dizer."

O silêncio que se seguiu foi pesado. Ricardo olhava para Mateus, irritado por ter perdido o controle da conversa. Ruth sentiu o rosto esquentar, uma sensação que ela não tinha há muito tempo.

Raquel observava os dois, os olhos indo de Mateus para sua irmã. Ela pegou a garrafa de vinho e encheu sua taça novamente, até a borda. Um sorriso pequeno e estranho apareceu no canto de sua boca.