No quarto principal, o ar-condicionado mordia a pele. Ruth puxou o lençol pesado até o queixo, sentindo um calafrio que não vinha só do frio. Ricardo estava sentado na cama, de pijama de seda, a luz do notebook iluminando seu rosto sério enquanto ele digitava furiosamente.
"Francamente, não sei o que se passa na cabeça de Raquel às vezes", disse Ricardo, sem sequer olhar para ela.
Ruth estava deitada de lado, as costas viradas para ele. "Como assim?"
"Esse sujeito. Mateus." Ricardo bufou, e o som foi de puro desprezo. "Ele é rude. Beber cerveja direto da garrafa na minha mesa? E aquele papo de 'construir casas'? Por Deus, Ruth, sua irmã tem que parar de se rebaixar com esses tipos."
Ruth ficou em silêncio. A mente dela não estava nas maneiras de Mateus. Estava nos olhos dele, na forma como ele a observou. No cheiro de suor e maresia que ele trouxe para dentro da sua casa perfeita. No modo como a pergunta sobre as pinturas dela a tinha desnudado.
"Ele pareceu... interessante", ela murmurou, quase para si mesma.
Ricardo parou de digitar, o silêncio preenchendo o quarto. "Interessante? Ruth, ele estava claramente tentando te impressionar. Ou pior, tentando te provocar. E a Raquel, bêbada, se exibindo... que vergonha." Ele fechou o notebook com um estalo seco. "De qualquer forma. Boa noite."
Ele desligou a luz do seu lado da cama. A escuridão engoliu o quarto, deixando Ruth sozinha com o ruído de sua própria respiração. Ela continuou de costas para ele, os olhos abertos no escuro, o corpo tenso, sentindo o vazio ao seu lado na cama. Uma pontada de desejo, estranha e proibida, começou a formigar em seu ventre.
Do outro lado do corredor, no quarto de hóspedes, o ar era diferente. Mais denso, mais úmido.
A porta da varanda estava escancarada, deixando o calor e o cheiro forte do mar invadirem. O quarto era uma bagunça de roupas jogadas e mochilas abertas. Mateus estava deitado de costas na cama desfeita, apenas de cueca box. O corpo dele era uma escultura sob a luz fraca que vinha de fora.
Raquel saiu do banheiro, já de camisola de seda, preta e curta. Ela não deitou. Ficou parada, a respiração pesada, a ponta dos dedos roendo a unha.
"Você gostou dela, não gostou?", ela disse, a voz cheia de uma rara amargura.
Mateus abriu os olhos, preguiçosamente. "De quem?"
"Da minha irmã. Da Ruth." Raquel cruzou os braços sobre o peito, a camisola subindo um pouco mais. "Você não parava de comer ela com os olhos no jantar. Como se fosse um pedaço de carne."
Mateus soltou uma risada baixa, rouca. "Eu estava observando a cena. Seu cunhado é um pedaço de merda, aliás."
"Não mude de assunto!" Raquel deu um passo mais perto da cama. "Você ficou... fascinado. Pela casa, pelo dinheiro, pela 'esposa perfeita'..."
Mateus se sentou na cama, o movimento ágil e poderoso. "Raquel, eu não estou nem aí para a casa. E sua irmã..." Ele parou, seus olhos fixos nos dela. "Ela parece uma estátua. Perfeita, mas fria. Você quer ser assim?"
A raiva no rosto de Raquel se desfez, substituída por uma mágoa profunda.
"Eu só não quero que você... que você prefira ela", ela sussurrou, a voz quase sumindo.
Mateus estendeu a mão, um gesto imperioso. "Vem cá."
Ela hesitou por um batimento cardíaco, mas a atração era mais forte que o orgulho. Ela foi até ele. Ele a puxou para o colo dele, com uma força que a fez ofegar. O calor do corpo dele queimou através do tecido fino da sua camisola. Ele segurou o rosto dela entre as mãos, os polegares deslizando pela linha do queixo.
"Não existe ninguém que eu prefira mais que você", ele murmurou, a voz como um rosnado baixo, bem perto da boca dela. "Ninguém."
Ele a beijou. Não foi um beijo carinhoso. Foi um beijo faminto, possessivo, quase uma mordida, um beijo que exigia que ela parasse de pensar em qualquer outra coisa, qualquer outra pessoa. Um beijo que a devorava.
E, por enquanto, Raquel se deixou devorar.