No meio de tanta gente, ela se destacava.
Ela usava um vestido longo de veludo verde-escuro. O vestido se movia com ela e tinha uma fenda alta na perna esquerda, que abria e mostrava um pouco de pele a cada passo. Não era um detalhe por acaso; ela queria que estivesse ali.
Sua máscara era dourada, feita de metal fino e com algumas penas de pavão. Ela cobria seus olhos, mas deixava a boca de fora. Seus lábios estavam pintados de um vermelho escuro, com um sorriso levemente misterioso. Ela segurava uma taça de champanhe, mas nem bebia. Estava entediada. E estava procurando por algo... ou alguém.
De repente, ela sentiu.
Um arrepio subiu pela sua nuca. Alguém a estava observando. E não era um olhar de admiração, como os outros. Era um olhar diferente, mais intenso. Como se a estivesse analisando, estudando. Como se ela fosse um alvo.
Ela parou de andar. O sorriso em seus lábios ficou sério.
Ela olhou devagar ao redor do salão, passando pelas outras máscaras. E então, ela o viu.
Ele estava parado no canto, perto de uma passagem, onde a luz era mais fraca. Ele era o oposto dela. Se ela era a cor, ele era a sombra.
Ele vestia tudo preto. O paletó era de veludo escuro. A camisa, também preta, estava com os primeiros botões abertos no colarinho. Mas o que chamou a atenção dela foi a máscara.
Não era uma máscara de festa como as outras. Era preta, sem brilho, e cobria metade do rosto com linhas retas. Era uma máscara simples, mas que parecia dura e perigosa.
A máscara escondia seus olhos, mas deixava ver um maxilar forte e uma boca séria, que não sorria. Ele segurava um copo de uísque.
Ele estava totalmente parado, apenas olhando para ela. E essa calma era o que o tornava intimidador. Ele parecia um predador observando sua presa.
Ele a estava observando, e agora ela o observava de volta. O barulho da festa pareceu sumir. No meio de toda aquela gente, era como se só existissem os dois. A mulher de verde e o homem de preto.
O jogo tinha começado. E, pela primeira vez naquela noite, ela sentiu o coração bater mais forte.