O Amigo do meu marido me quer... (02)

Laura acordou com um sobressalto, o coração disparado. Por um momento, na luz pálida da manhã que entrava pela fresta da cortina, ela não soube onde estava. Então, o som do ronco baixo e rítmico de Lucas ao seu lado a trouxe de volta.

A normalidade da cena a atingiu como um tapa. A noite anterior pareceu um sonho febril. Teria ela imaginado?

Não. A lembrança do polegar de Bruno deslizando em seu pulso era elétrica, real. Ela sentia um calor fantasma no local.

O alarme do celular de Lucas disparou, e ele o desligou com um tapa desajeitado, resmungando.

"Bom dia", ele murmurou, a voz pastosa de sono, e se virou para abraçá-la, enterrando o rosto em seu pescoço.

Normalmente, Laura relaxaria nesse abraço. Hoje, ela enrijeceu. Sentiu-se subitamente suja, como se a proximidade de Bruno na noite anterior tivesse deixado uma marca visível.

"Bom dia, amor", ela respondeu, forçando uma naturalidade. "Vou... vou descer para fazer o café."

Ela escapuliu dos braços dele antes que ele pudesse realmente acordar. No corredor silencioso, ela parou. A porta do quarto de hóspedes, no fim do corredor, estava fechada. Havia silêncio.

Na cozinha, ela ligou a cafeteira, agarrando-se à rotina. O cheiro do pó de café sendo coado era seu ritual matinal, seu chão firme. Hoje, não ajudou. Ela se sentia uma intrusa em sua própria casa.

"Bom dia, Laura."

Ela deixou a colher cair na pia com um ruído metálico.

Bruno estava parado na porta da cozinha. Ele já tinha tomado banho. O cabelo escuro estava úmido e jogado para trás, e ele vestia apenas uma bermuda de moletom cinza, o peito nu e definido. Ele parecia perigosamente à vontade.

E o sorriso dele. Era o mesmo sorriso da noite anterior. Calmo, confiante, como se compartilhassem um segredo.

"Bom... bom dia, Bruno", ela gaguejou, odiando a própria fraqueza. Ela se virou para o balcão. "Dormiu bem?"

"Como uma pedra", ele mentiu suavemente. Ele entrou na cozinha, mas não foi para a mesa. Ele veio para o balcão, parando ao lado dela. Perto demais. "Precisa de ajuda com isso?"

"Não, eu..."

Ele estendeu o braço, passando exatamente por trás dela, para pegar uma xícara no armário superior.

Laura congelou.

Ele não a tocou. Mas ela sentiu o calor que irradiava do peito dele em suas costas. Ela podia sentir o cheiro dele — sabonete fresco e algo mais, algo puramente dele. Ele demorou um segundo a mais do que o necessário, o braço pairando perto de seu ombro.

Ela prendeu a respiração. Era um movimento calculado. Um teste.

"Com licença", ele sussurrou, a voz baixa vibrando perto de seu ouvido. O pedido educado soou como a mais íntima das carícias.

"Bom dia, família!"

A voz alegre de Lucas cortou a tensão como uma faca. Bruno se afastou no exato momento em que Lucas entrava na cozinha, bocejando e coçando a barriga por baixo da camiseta de pijama.

Laura quase desabou de alívio... e de uma pontada inexplicável de decepção.

"E aí, cara! Animado pro churrasco de hoje?", Lucas disse, dando um tapa nas costas de Bruno a caminho da cafeteira.

Bruno riu, uma risada fácil e fraternal que fez o estômago de Laura revirar. "Com certeza. Faz tempo que não como sua picanha."

"Bom dia, amor", Laura disse, indo até Lucas e dando-lhe um beijo rápido, quase como para marcar território, ou talvez para se limpar da proximidade de Bruno.

Eles se sentaram à mesa. Lucas, na cabeceira, começou a falar animadamente sobre o supermercado, sobre qual cerveja comprar. A normalidade era ensurdecedora.

Laura tentava se concentrar em Lucas, mas só conseguia ver Bruno. Ele comia seus ovos mexidos com uma calma irritante, participando da conversa, sendo o amigo perfeito. E então, por baixo da mesa, ela sentiu.

Um toque leve em seu tornozelo.

Ela congelou, o pão na metade do caminho até a boca. Ela olhou para baixo. Nada.

Seria um acidente?

Ela voltou a atenção para Lucas, que agora reclamava do time de futebol.

Então, aconteceu de novo. Desta vez, inconfundível. O pé descalço de Bruno, deslizando de seu tornozelo para cima, pela pele nua de sua panturrilha.

Ela ergueu os olhos abruptamente.

Bruno estava no meio de uma frase, olhando diretamente para Lucas. "...e aquele juiz, sinceramente, Lu. Estava comprado. Não tem outra explicação."

Ele falava com o marido dela, com o rosto sério, enquanto seu pé, lenta e deliberadamente, subia pela perna dela por baixo da mesa.

A audácia daquilo a deixou sem ar. Era sujo, arriscado e incrivelmente excitante.

O pé dele alcançou a parte de trás do joelho dela e parou, aplicando uma leve pressão.

Laura se levantou de supetão. A cadeira arrastou no chão com um ruído estridente, quase caindo.

"Nossa, que foi, amor? Viu um fantasma?", Lucas perguntou, rindo, pego de surpresa.

Bruno a encarou, o pé agora longe. Havia uma falsa preocupação em seus olhos, mas por baixo, ela viu. Ela viu o brilho da vitória.

"Eu... eu esqueci", ela disse, a voz trêmula. "Esqueci de pôr a roupa para lavar. Já volto."

Ela fugiu da cozinha, as mãos tremendo. Ela se encostou na porta da lavanderia, fechando os olhos, o coração batendo na garganta. O jogo sutil havia começado, em plena luz do dia, bem debaixo do nariz de seu marido. E a parte mais assustadora era que Bruno sabia, com absoluta certeza, que ela não o iria entregar.