Helena (45 anos) estava parada na varanda, os óculos escuros de grife escondendo uma exaustão que ia muito além da viagem de avião. Ela observava a mancha turquesa do oceano, tentando se convencer de que era linda e relaxante. De que aquelas férias eram uma necessidade, e não um último esforço teatral.
"Você vai ficar aí o dia todo, mãe? Não vamos descer para a praia?" A voz era de Sofia (19 anos), que acabara de sair do banheiro, envolta em uma toalha minúscula e já digitando furiosamente no celular. Sofia era uma réplica perfeita da beleza da mãe, mas com a ansiedade da juventude e sem a pesada carga do cinismo conjugal.
"Daqui a pouco, querida. Estou só... aproveitando o cheiro," Helena respondeu, a frase soando vaga até para ela mesma.
Ricardo (50 anos) não se moveu do sofá de linho cru. Ele estava enfiado no tablet, a testa franzida. Sua presença era imponente, mas estranhamente ausente, como um móvel bonito e esquecido. Ele era o motivo do luxo – o trabalho que pagava a suíte, mas também o que consumia sua alma, deixando apenas uma carcaça pragmática para as férias.
"Helena, meu e-mail não está sincronizando bem aqui. Você pode ligar na recepção? Diga que a internet do bloco VIP está inaceitável," ele pediu, a voz grave, sem tirar os olhos da tela. Não foi um pedido; foi uma delegação.
Helena sentiu um pequeno, mas familiar, ferro frio se cravar em seu peito. Aquele era o padrão: ele fornecia o cenário e ela providenciava o conforto.
"Claro, Ricardo. Devo dizer que o executivo do 301 não consegue tirar férias porque a internet é inaceitável?" A ironia era sutil, mas afiada.
Ricardo finalmente olhou para ela. Seus olhos castanhos, que antes ardiam com a promessa de um futuro, agora eram apenas cansados. "Não comece, Helena. Viemos relaxar, não viemos?"
O filho Lucas (18), recém-saído da adolescência e buscando sua independência, interrompeu o silêncio pesado. "Gente, eu vou descer. O monitor de esportes aquáticos disse que tem um jet ski novo. Vão demorar?"
"Vá na frente, Lucas," disse Ricardo, aproveitando a distração. "Se precisar de algo, peça para pôr no meu quarto. Não exagere no sol."
Lucas saiu rapidamente, aliviado por escapar da atmosfera pesada.
O silêncio voltou, mais denso. Helena pegou a jarra de água gelada, derramando o líquido em um copo. As contas pendentes entre ela e Ricardo pareciam pulsar no meio da sala.
Seus corpos estavam a três metros de distância, mas o vazio entre eles era vasto, ocupado apenas pela mentira daquela viagem.
Ricardo voltou para o tablet. Helena deslizou para dentro da suíte, seus olhos percorrendo a cama king size intocada na noite anterior. Onde deveria haver calor, havia apenas lençóis impecáveis e frios. Ela precisava sair dali. Precisava de ar, de outra atenção, de qualquer coisa que a fizesse sentir que ainda existia além do papel de esposa de Ricardo