Laura foi para a cozinha, quase correndo. Ação. Ela precisava de uma tarefa. Abriu a geladeira, pegou os legumes para a salada de maionese. Ela começou a picar batatas na tábua de corte com uma velocidade desnecessária, o som rítmico da faca batendo na madeira era a única coisa que quebrava o silêncio.
Tac. Tac. Tac. Tac. O ritmo frenético da faca era o único grito que ela se permitia dar.
Ela ouviu os passos dele. Lentos, deliberados. Ele não foi para a sala. Ele veio para a cozinha.
Ele parou na porta. Laura não precisava se virar. Ela sentia. Sentia o calor da presença dele.
"Ele realmente não vê, não é?" A voz de Bruno era baixa, cortando o silêncio da cozinha.
Laura parou de cortar. A faca ficou imóvel na metade de uma batata. "Vê o quê?" ela perguntou, a voz tensa, sem se virar.
"Você."
Ela engoliu em seco. "Não sei do que você está falando."
"Sabe, sim, Laura."
Ele deu dois passos para dentro da cozinha. O cheiro de seu sabonete invadiu o ar, misturando-se com o cheiro do café frio.
"O jeito que você me olhou ontem à noite, quando eu toquei sua mão. O jeito que você pulou hoje no café, quando meu pé tocou o seu. Você está com tanta fome quanto eu."
"Para", ela sussurrou, apertando o cabo da faca. "O Lucas é seu melhor amigo. Ele é meu marido."
"E você está se escondendo atrás disso", ele disse, agora bem atrás dela. Ela podia sentir o calor que irradiava de seu corpo em suas costas, mesmo sem contato. "Você está se escondendo atrás de uma vida morna, fingindo que isso é o suficiente."
"Você não sabe nada da minha vida."
"Eu sei", ele disse, a voz quase um sussurro próximo ao seu ouvido. "Eu sei que você está entediada. E sei que está apavorada por ter gostado do que aconteceu hoje de manhã."
Ele colocou a mão no balcão, ao lado da tábua de corte, bloqueando sua saída. Com a outra mão, ele gentilmente, mas com firmeza, tirou a faca da mão dela e a colocou de lado.
O som da faca batendo no granito foi definitivo. Ela estava desarmada.
Laura se virou, mas ele já estava lá.
Ele a encurralou contra o balcão. As duas mãos dele pousaram na cintura dela, os polegares fazendo círculos lentos em seus ossos do quadril.
"Bruno, não..."
"Shhh", ele disse, aproximando o rosto. "Vamos parar de fingir. Só por um minuto."
Ele a encarou. O olhar dele não era de súplica. Era de certeza. Ele não estava pedindo permissão. Ele estava tomando.
"Você é linda quando está com medo", ele sussurrou.
E então ele a beijou.
Não foi um beijo gentil. Foi um beijo faminto, raivoso, a liberação de dois dias de tensão acumulada. Foi um beijo de posse. Sua boca era firme e quente, e ele a beijava como se estivesse tentando arrancar dela o gosto de Lucas, o cheiro da rotina.
Laura resistiu por um instante. Suas mãos subiram para o peito dele, um último e patético esforço para empurrá-lo. Mas não havia força nelas. No instante em que a língua dele tocou a sua, um gemido baixo morreu em sua garganta, e suas mãos, em vez de empurrar, se agarraram à camisa dele.
Ela estava devolvendo o beijo. Com a mesma fome, com a mesma necessidade.
O mundo exterior desapareceu. Só existia o sabor dele, o cheiro dele, e as mãos firmes dele em sua cintura, puxando-a com tanta força contra ele que ela podia sentir a fivela do cinto dele pressionando sua barriga. O beijo se aprofundou, tornando-se desesperado.
Bruno a ergueu, sentando-a no balcão gelado de granito. O choque da superfície fria contra suas coxas a fez arfar. Ele se colocou entre suas pernas, intensificando o beijo. Suas mãos, que antes seguravam sua cintura, deslizaram para baixo e a agarraram, levantando-a ainda mais para ele.
Bruno a abriu contra si, seu corpo quente pressionava o dela enquanto a beijava com fome. Sua língua explorava a boca dela como se estivesse descobrindo algo novo a cada segundo. As mãos dele subiram as costas dela, acariciando a pele nua sob o tecido, até alcançarem o zíper de seu vestido. Com delicadeza, mas sem hesitação, ele o desliza para baixo, deixando a peça escorregar pelas coxas e cair aos pés.
Ela tremia, tanto pelo frio do granito, quanto pelo momento.
Com as mãos firmes nos quadris dela, Bruno a puxa para mais perto, fazendo com que os corpos se fundissem em uma dança quase inebriante. Seus dedos encontraram a calcinha, deslizando sobre a pele úmida e quente, enquanto ela gemia contra seus lábios.
O som era baixo, quase um suspiro, mas cheio de desejo.
Quando eles finalmente se separaram, ambos estavam ofegantes.
Bruno encostou a testa na dela, os olhos fechados por um momento, a respiração pesada e quente contra sua pele.
"Eu sabia", ele ofegou, a voz triunfante.
Laura o encarou, horrorizada, excitada e completamente perdida. A culpa a atingiu, mas o desejo ainda a mantinha refém. Ela tinha acabado de trair seu marido, o melhor amigo desse homem, em sua própria cozinha.
"Não... não podemos fazer isso", ela conseguiu sussurrar.
Bruno a olhou, os olhos ardentes. Ele não parecia nem um pouco arrependido. "O carro de Lucas", ele sussurrou, passando o polegar em seu lábio inferior. "O carro dele só vai chegar daqui a quarenta minutos."
Ele não a estava beijando. Ele estava a seduzindo com o som da verdade e com a contagem regressiva. A porta da cozinha estava aberta. A sala de estar, silenciosa. O andar de cima, vazio. Quarenta minutos. Era tempo demais para ser desperdiçado.