O Desespero de uma Mãe!!!! (início)

A luz branca da cozinha zumbia, um som irritante que parecia perfurar as têmporas de Clara. Sobre a mesa de fórmica gasta, o boleto da faculdade de Medicina repousava como uma sentença de morte.

VENCIMENTO: 15/03. VALOR: R$ 9.850,00.

Já era dia 18.

Clara levou a xícara de café frio aos lábios, sentindo o gosto amargo descer pela garganta. Aos 45 anos, ela sentia o peso de duas vidas sobre os ombros. Desde que o marido, Rogério, enfartara há três anos, deixando apenas dívidas e um seguro de vida que mal pagou o funeral, Clara vivia numa maratona. De dia, gerente de uma pequena loja de roupas no centro; à noite, fazia doces para fora. Mas a matemática era cruel. O aumento da mensalidade de Lucas foi o golpe final.

Ela se levantou e caminhou silenciosamente pelo corredor escuro. A porta do quarto do filho estava entreaberta. Lucas dormia de bruços, um livro de Anatomia Humana aberto ao lado do travesseiro, iluminado apenas pela luz do poste da rua que entrava pela fresta da persiana. Ele era brilhante. Dedicado. Era a única coisa que dava sentido à viuvez solitária dela. Se ela não pagasse aquela fatura em 48 horas, a matrícula seria trancada. O sonho acabaria.

— Eu não vou deixar, filho — sussurrou ela para o vazio. — Nem que eu tenha que vender minha alma.

Clara foi para o seu próprio quarto. O silêncio da casa era opressor. Ela parou diante do espelho de corpo inteiro do guarda-roupa. Tirou o roupão de banho felpudo e desbotado, deixando-o cair aos pés.

Ali, sob a luz amarela do abajur, ela se analisou com a frieza de um avaliador de joias.

Aos 45, a gravidade fora gentil com ela. A cintura ainda era fina, fruto de uma genética abençoada e da correria do dia a dia. Os seios, embora não fossem mais os de uma garota de vinte anos, tinham um peso e uma forma que enchiam as mãos. Os quadris eram largos, convidativos. A pele morena, herdada da mãe, disfarçava bem as poucas marcas do tempo.

Ela se lembrou do olhar do gerente do banco, três dias atrás, quando negou o empréstimo. Ele não olhara para os papéis em suas mãos; olhara para o decote de sua blusa. Lembrou-se dos assobios discretos dos homens na rua quando ela usava uma saia lápis mais justa no trabalho.

Eles não veem uma mãe desesperada, pensou Clara, passando a mão devagar pelo próprio ventre, sentindo a textura da pele. Eles veem carne. Eles veem prazer.

Um arrepio percorreu sua espinha. Não era excitação, era medo misturado com uma estranha constatação de poder. Ela sempre fora fiel, recatada, a "bela esposa de Rogério". Mas a esposa estava morta. A mãe estava falida. Restava a mulher.

Ela abriu a gaveta de lingerie — aquela que ficava no fundo, intocada há anos. Tirou um conjunto de renda preta que Rogério lhe dera num aniversário distante e que ela nunca teve coragem de usar por achar "vulgar demais".

Clara vestiu a calcinha, sentindo a renda áspera roçar sua intimidade. Ajustou o sutiã, que ergueu seu busto, criando um vale profundo entre os seios. Ela se olhou novamente. A mulher no espelho não era Clara, a viúva endividada. Era uma mercadoria de alto luxo.

Ela pegou o celular e abriu o navegador. Seus dedos tremiam enquanto ela digitava termos que jamais imaginou buscar. Sites de acompanhantes de luxo. Fóruns. Aplicativos discretos.

O "não" ela já tinha. A humilhação da pobreza ela já vivia. Faltava apenas cruzar a linha.

Com o coração batendo na garganta, ela criou um perfil anônimo em um site sigiloso. Não usou foto de rosto. Apenas uma foto do pescoço para baixo, focando no colo e na curva da cintura, vestindo a renda preta.

No campo "Nome", seus dedos hesitaram por um segundo. Clara Aguiar não podia estar ali. Clara Aguiar era a mãe de um futuro médico.

Ela digitou: Vera. Idade: 45. Descrição: Madura, discreta e disposta a realizar fantasias. O preço é alto, mas a experiência é única.

Ela clicou em "Publicar".

O celular vibrou cinco minutos depois. Uma notificação. Nova mensagem de: André_Executivo.

Clara encarou a tela luminosa no escuro do quarto. O jogo tinha começado.